Uma determinação da Superintendência Federal de Agricultura em Roraima (SFA), por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), limitou a venda de farinha de carne e de osso apenas para fabricantes de rações no Estado, causando prejuízos a pequenos produtores que dependem do insumo.
No Estado, o insumo é produzido e comercializado pela Companhia de Desenvolvimento de Roraima (Codesaima), por meio do Matadouro e Frigorífico Industrial de Roraima (Mafir), mas os pequenos produtores reclamam que não estão tendo acesso ao produto por conta da determinação do Mapa e que por conta disso a produção de ração ficou encarecida.
O problema foi repercutido pelo deputado estadual Flamarion Portela (PTC), que usou a tribuna da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), durante a sessão desta quinta-feira, 15, para criticar a limitação do produto. “Ao ser procurado por um grupo de produtores, eu achei estranho o Mapa ter feito essa recomendação à Codesaima, para vender a farinha de carne e de osso exclusivamente aos fabricantes de ração”, disse.
Conforme o parlamentar, os pequenos produtores também necessitam do insumo para a produção de ração. “Esses produtores geralmente compram o cuim, o milho e o xerém, além da farinha vendida pela Codesaima, para produzirem as rações para alimentar suas galinhas e porcos de forma barata”, explicou.
Ele afirmou que a limitação do produto causa prejuízo aos pequenos produtores. “Busquei a composição de preço quando a Codesaima vendia para qualquer cidadão. O quilo era R$ 0,80, mas na fábrica a mesma quantidade desse insumo custa R$ 1,62, ou seja, mais que o dobro”, afirmou.
Portela pediu à Superintendência Federal de Agricultura em Roraima revesse a determinação. “O documento diz que a venda deve ser feita exclusivamente às fabricas de rações, mas estou apelando à SFA para que possa rever isso, porque esse insumo é uma forma de produzir mais alimentos e combater a fome”, frisou.
Além de insumo para rações, a farinha de osso de bovinos é uma alternativa para a adubação do solo, pois substitui os fertilizantes químicos com vantagens. A produção deste produto é relativamente simples e envolve a esterilização dos ossos, cascos e chifres para sua posterior trituração.
O subproduto é o principal fertilizante orgânico, fonte de fósforo, elemento absorvido pelas raízes das plantas e determinante para o aumento da produtividade das culturas. A concentração da substância no produto está em torno de 27%. (L.G.C)
Custo da produção de ração encarece pela falta do insumo
Um dos efeitos negativos da determinação sobre a limitação da venda de farinha de carne e de osso de bovinos é o encarecimento da produção de ração. Os pequenos produtores que produziam a própria ração, feita de milho, cuim, xerém e farinha de osso, gastavam, em média, R$ 1,50 pelo quilo do produto.
Sem terem acesso à farinha de osso produzida no Mafir e sendo obrigados a comprar a ração pronta em revendedoras, o custo do quilo do produto chega a R$ 4,60, mais que o triplo do valor anterior. Com isso, produtores e criadores de gado, suínos, equinos, frangos e até piscicultores de Roraima têm que enfrentar prejuízos e dificuldades em balancear a ração dos animais devido à escassez do subproduto. (L.G.C)
Limitação do insumo é para prevenir ‘doença da vaca louca’, justifica SFA
Em entrevista à Folha, a diretora técnica da Superintendência Federal de Agricultura em Roraima (SFA), Terezinha Brandão, informou que a restrição quanto à venda da farinha de osso bovina foi imposto para prevenir dos riscos causados pela Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como doença da vaca louca.
“O Brasil é classificado como risco desprezível para ocorrência dessa doença. Para que atingisse esse status algumas prevenções foram tomadas com relação a esse produto. A produção só pode ser vendida para estabelecimentos que produzam ração usada como alimento para peixes, aves e suínos, e é proibida na alimentação de ruminantes”, disse.
Ela afirmou que a Codesaima só está autorizada a vender o insumo a produtores cadastrados junto ao órgão. “Se o pequeno produtor não tem criação de galinha, peixe ou suíno, não tem porque comprar farinha de carne e de osso, que não pode ser vendida no varejo, apenas como matéria-prima, para a fabricação de ração. Isso é para evitar que isso seja desviado e usado na alimentação de ruminantes”, frisou.
A doença da vaca louca, que teve o último caso registro no Brasil em 2014, no Estado do Mato Grosso, é causada por uma proteína chamada príon, que pode ser transmitida a bovinos e caprinos quando alimentados com ração de farinha contendo carne e ossos de animais contaminados. (L.G.C)
Empresário faz reaproveitamento e vende produto por preço acessível
Diante da escassez da farinha de osso de bovinos no mercado local, a saída encontrada por pequenos produtores e por revendedores de ração tem sido comprar o produto direto de fabricantes. Pensando nisso, o empresário Marcos da Aurora montou, em sua fazenda, no município do Cantá, Centro-Leste do Estado, uma graxaria responsável pela coleta e reciclagem dos restos de animais como bois e aves, gerados pelos açougues e frigoríficos.
É das sobras de ossos de bovinos que o empresário retira substâncias para fabricação de farinha para ração animal, e do sebo (gordura), que serve de matéria prima para biodiesel, sabão e sabonete. “Todos os açougues em Boa Vista consomem em torno de 280 a 300 animais por dia. Toda essa ossada vai parar em terrenos baldios e até no aterro sanitário, o que não deveria ocorrer. Eu reaproveito o subproduto da carne, como ossadas e peles, e faço o sebo e a farinha de osso”, disse.
Conforme ele, a saca de 50 quilos da farinha de osso é vendida a R$ 60,00. “Estou evoluindo na qualidade da farinha de osso. A do Mafir, por exemplo, tem mais sebo que osso, e a minha tem o teor de proteína de forma balanceada. Vendo muito para granjeiros e estou aberto a qualquer tipo de produtor”, ressaltou. (L.G.C)