Cotidiano

Prefeitura demite professora com câncer

Mesmo com laudos e exames médicos, concursada reclama que foi exonerada em pleno tratamento contra três tipos de câncer

A professora A.M.J., de 44 anos, vive um drama profissional e ainda luta pela vida. Mesmo tratando de três cânceres, na tireóide, no sistema linfático e no reto, ela lamenta que foi exonerada sumariamente, sem direito à defesa, pela prefeita Teresa Surita (PMDB).
O drama da professora municipal, de nível superior, começou em 2009, após ela passar no concurso. Ela já estava em sala de aula quando descobriu que tinha um câncer na tireoide. Começou o tratamento e conseguiu paralisar a doença somente em 2012, quando retornou à Educação municipal.
Meses depois, a professora foi acometida por outro câncer, no sistema linfático. E novamente teve que se afastar das atividades para fazer outro tratamento. Ela lembra que deu entrada na Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC) com toda documentação, os exames e laudos médicos para que seu afastamento estivesse respaldado por lei.
Mas, para surpresa da professora, em 2013 ela recebeu outra triste notícia. A SMEC lhe comunicou que havia aberto um processo administrativo (PAD), alegando acúmulo de função, pois ela também é concursada do Governo do Estado. Nesse período, a professora intensificava o tratamento contra a doença, com árduas sessões de quimioterapia e radioterapia, mas nada disso sensibilizou os gestores municipais.
Mesmo debilitada pela doença, a paciente veio de Manaus (AM), onde faz o tratamento, e entregou uma carta manual informando que lutava contra o câncer. Ela apresentou todos os laudos e exames médicos, mas não adiantou. O PAD prosseguiu e, em junho passado, a professora concursada foi demitida. “Me deram o memorando de exoneração”, lembrou.
Dias depois, para piorar a situação, a professora descobriu um terceiro tumor: câncer no reto. E novamente ela foi submetida às árduas sessões de quimioterapia e radioterapia. “Daqui a um mês terei que amputar o reto”, lamentou a professora, aos prantos, ontem à tarde.
Ela continua com o tratamento em Manaus e conta com a ajuda financeira dos amigos. A professora e o marido estão em um hotel e bancam todas as despesas. A falta de salário da Prefeitura complica ainda mais a situação. Além do câncer, a professora começou a fazer tratamento psiquiátrico, tomando remédios controlados.
“É esse tratamento que recebo da prefeitura? Quando podia trabalhar, nunca faltei. Agora estou debilitada, mas tenho todos os laudos e exames que comprovam minha enfermidade. Só quero voltar ao quadro da educação, pelo menos até terminar meu tratamento. Minha vida depende disso”, disse, ainda chorando.
PREFEITURA – A Folha mandou e-mail ontem, às 12h29, para a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Boa Vista (PMBV), mas até o encerramento da matéria, às 17h30, não houve retorno. (AJ)