Cotidiano

Lixão contaminará bacia hidrográfica de RR em 50 anos, alerta especialista

Mapeamento realizado na lixeira pública apontou que contaminação do solo atingiu nível superior a 20 metros de profundidade

As toneladas de resíduos sólidos que são descartadas diariamente, sem nenhum tipo de tratamento, no aterro sanitário de Boa Vista, que se tornou um lixão a céu aberto, localizado na saída ao sul da Capital pela BR-174, trarão consequências devastadoras para a bacia hidrográfica de Roraima em poucos anos.

O lixão fica a poucos metros do leito do Igarapé Wai Grande, que deságua no Rio Branco, o principal manancial de água potável do Estado, e já está praticamente morto por conta da contaminação do local. Um mapeamento realizado na área apontou que o solo daquela área atingiu nível de contaminação superior a 20 metros de profundidade.

O alerta foi feito pela professora doutora em geociências da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Lena Barata, que vem realizando um trabalho de mapeamento da contaminação vinculada aos aterros sanitários do Estado que, segundo ela, estão contaminando e poluindo os mananciais hídricos e superfícies subterrâneos.

“O trabalho vem sendo desenvolvido desde 2014, quando iniciamos pelo lixão de Boa Vista e fizemos um mapeamento de toda aquela exposição de lixo. É o local onde há a maior produção de lixo do Estado e identificamos essa contaminação utilizando o trabalho de geofísica por meio da investigação em profundidade”, explicou.

Conforme ela, os impactos ao meio ambiente decorrentes das irregularidades encontradas nos aterros ainda não são visíveis. “A contaminação em si que o aterro está produzindo é invisível. Mas o que podemos ver são pessoas catando e vivendo desse lixo, famílias inteiras morando nos aterros”, disse.

A partir do mapeamento realizado com a ajuda de acadêmicos de geografia da UFRR, foi possível identificar o nível de contaminação do lençol freático da região. “Todos os resíduos sólidos depositados estão contaminando em profundidade. Quando o resíduo é lançado no lixão, a ação do tempo e de organismos fazem com que o material venha a se decompor e se transforme em chorume, que é composto por vários elementos químicos e causa a contaminação”, contou.

Conforme a pesquisadora, o nível de contaminação do solo do lixão de Boa Vista ultrapassa os 20 metros de profundidade. “O equipamento que utilizamos, embora um tanto arcaico, foi capaz de registrar esse nível de profundidade e apontar a consequente poluição do igarapé que passa ao lado”, frisou.

Ela afirmou que a poluição decorrente do aterro sanitário chegará ao Rio Branco e, consequentemente, a toda a população. “Esse aterro foi construído de forma irregular. O igarapé deveria estar a uma distância de, no mínimo, 200 metros, mas não está nem a 20 metros. Essa contaminação está descendo pelo igarapé, que a levará para o Rio Branco”, disse.

Os impactos ao meio ambiente, a catadores e moradores que convivem próximo ao lixão, de acordo com a especialista, já estão sendo imediatos. “As pessoas que moram naquele conjunto habitacional próximo estão sendo contaminadas, muitos têm problemas de pele por conta da poluição da água e do ar. Sem contar os catadores que trabalham e até moram no lixão”, afirmou.

A especialista apontou que é necessário o descarte correto para cada resíduo para que os impactos sejam ao menos minimizados. “O lixo hospitalar, por exemplo, é jogado lá sem nenhum tipo de tratamento, com qualquer pessoa podendo ter acesso. Isso é irregular. Tem que ser feitos depósitos com destino para lixo hospitalar, doméstico, de construção civil, e reciclável”, pontuou. (L.G.C)