Cotidiano

Jovens são as principais vítimas fatais dos acidentes de trânsito

Comportamento ousado e impulsivo desta faixa etária pode explicar cenário igual a uma guerra nas ruas de Boa Vista e rodovias federais

A alta velocidade e a combinação de bebida alcoólica e direção são alguns dos principais causadores de morte em acidentes de trânsito. Os jovens são as principais vítimas, de acordo com dados do Mapa da Violência, uma pesquisa do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela). O levantamento também mostra um aumento no índice de morte de jovens que conduzem principalmente motocicleta.
A Folha ouviu especialistas para entender quais ações tornam este público mais vulnerável no trânsito. Há muitas razões sociológicas para justificar esta alta mortalidade, de acordo com o sociólogo Linoberg Almeida, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR). “Para a Sociologia, olhando o trânsito, o carro na rua é a expressão mais forte da diferença de classe social no Brasil. Por isso, há uma luta cotidiana entre o mais forte e o mais fraco. É um reflexo, pois o dono do carro pensa que é o dono da rua, mesmo sabendo que a via é pública”, explicou.
Em um primeiro momento, segundo ele, é preciso que o Estado intervenha, pois ele é quem alimenta a violência no trânsito, e não o motorista. “O Estado, omisso, prioriza o automóvel em detrimento do indivíduo. Portanto, é preciso que este mesmo Estado inverta a situação, pois Estado violento reproduz sociedade violenta”, observou.
Para que haja uma transformação no trânsito, ainda de acordo com o sociólogo, o Estado deve promover políticas públicas para inverter a situação, cultivando assim uma cultura de paz, a começar pela formação primária do ser humano em sala de aula.
EXPLICAÇÃO – A psicologia também explica porque tantos jovens morrem no trânsito. Aos 21 anos, por exemplo, eles sentem a necessidade da expansão dos círculos de amizade, o que os impulsiona a ter uma maior mobilidade na cidade. E isso provoca a alta exposição desse jovem aos riscos de envolvimento em colisões e atropelamentos.
Algumas características comportamentais do jovem, como a incapacidade de antecipar erros e imprevistos e de decidir com rapidez para mudar o curso da ação, são fatores de risco. Todas essas atitudes produzem risco no trânsito, seja caminhando, pedalando ou dirigindo qualquer veículo automotor.
Para especialistas em trânsito, também há questões comportamentais que precisam ser trabalhadas para reduzir o número de acidentes. É comum aos jovens ações ousadas e de risco. Eles abusam com mais frequência da mortal combinação: excesso de velocidade e direção perigosa turbinada a álcool. E o resultado quase sempre é trágico, fatal. (AJ)
BR-174 lidera ranking da morte
Os números estatísticos do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) assustam. Há uma guerra em curso nas ruas, avenidas e rodovias de Roraima que mata quase todo dia. No ano passado, por exemplo, o mapa dos acidentes fatais apontou a BR-174 (que liga Roraima ao Sul com o Amazonas e Norte com a Venezuela) como a mais violenta do Estado, com 48 mortes, seguida pela BR-401 (que dá acesso à Guiana, a Leste) com 11 mortes.
A vicinal trono de Alto Alegre, na região Centro-Oeste, também aparece no mapa com sete mortes, seguida pela RR-205 (Boa Vista/Alto Alegre) e BR-432 (Cantá/Novo Paraíso, em Caracaraí), ambas com cinco mortes. Na Capital, em 2013, foram 23 pessoas mortas nas avenidas Mário Homem de Melo, Ataíde Teive, Princesa Isabel, Brasil e Estrela Dalva, todas na zona Oeste.
O mesmo mapa da violência aponta também os cruzamentos mais perigosos da Capital, entre eles: a avenida Mário Homem de Melo com a Nossa Senhora de Nazaré, Ataíde Teive com Raimundo Figueiras e a Ene Garcez com a Major Willians (Centro). Cinco pessoas morreram nesses cruzamentos no ano passado.
Este ano, ainda conforme estatística do Detran, houve redução no número de mortes no trânsito de Roraima, mas a guerra está longe de terminar. De janeiro a abril passado, 63 pessoas já morreram nas ruas e estradas do Estado. Em Boa Vista, apenas de janeiro a fevereiro, 16 perderam a vida.
Nesse período, foram registrados 41 acidentes na avenida Ataíde Teive, 19 na Princesa Isabel, 19 na Ville Roy, 17 na Eduardo Gomes e 16 em cada uma das avenidas Estrela Dalva, Carlos Pereira de Melo, Glaycon de Paiva e Mário Homem de Melo. (AJ)