Política

Temer promete à governadora Suely e à bancada retomar Tucuruí em 30 dias

Em conversa, que durou cerca de uma hora, presidente da República se comprometeu em atender ao apelo da comitiva roraimense

Na véspera do aniversário de 28 anos de Roraima, a governadora Suely Campos (PP) e sete dos oito deputados federais do Estado e mais a senadora Ângela Portela (PT) se reuniram com o presidente Michel Temer (PMDB) para tratar da construção do Linhão de Tucuruí, entre Manaus (AM) e Boa Vista, uma das obras mais importantes que vai solucionar a questão energética de forma definitiva. Temer prometeu que em 30 dias o Governo Federal dará prosseguimento ao linhão.

A reunião foi realizada na tarde de ontem no Palácio do Planalto, em Brasília, com a presença dos deputados federais Hiran Gonçalves (PP), Johantan de Jesus (PRB), Maria Helena Veronese (PSB), Shéridan (PSDB), Abel Galinha (DEM), Remídio Monai (PR) e Carlos Andrade (PHS).

Foi o primeiro encontro da governadora e da bancada federal com Michel Temer. Eles conversaram por cerca de uma hora. Suely Campos disse que o povo de Roraima não pode mais viver isolado do Sistema Interligado Nacional (SIN), sendo privado das condições estruturantes imprescindíveis para o desenvolvimento socioeconômico da região.

“Trata-se de providência imprescindível, visando propiciar energia confiável, farta e barata, em atendimento a demandas prementes da população e abrindo perspectivas de novos investimentos produtivos no Estado, sendo essencial para integrar Roraima à infraestrutura de energia do Brasil e proporcionar o desenvolvimento sustentável”, disse Suely.

“O presidente ouviu todas as nossas reivindicações, anotando as principais informações. Ele ligou para os ministros da Justiça, Alexandre de Morais, e de Minas e Energia, Fernando Bezerra, e garantiu que daqui um mês haverá andamento no processo. Caso contrário, disse que nós podemos cobrar dele novamente uma atitude mais pontual”, complementou a governadora.

A chefe do Executivo roraimense acredita que não será preciso fazer nova reunião com o presidente e a bancada. “Ele entendeu que a população de Roraima não pode ficar ilhada com o fornecimento de uma energia precária. Roraima precisa crescer, se transformar em um Estado produtor, e sem energia confiável fica difícil. Precisamos ter esse meio para atrair investidores para plantar algodão e soja, por exemplo”, afirmou.

A governadora observou, contudo, que o Linhão de Tucuruí é uma obra em longo prazo e que seu governo está trabalhando também com outras fontes de energia, como a eólica.

A senadora Ângela Portela reafirmou a necessidade urgente da retomada das obras do Linhão de Tucuruí e defendeu a união das forças políticas de Roraima para solucionar os problemas energéticos que afligem a população. “Apagões constantes, tarifas elevadas, dependência de termelétrica e de fornecimento da Venezuela são alguns dos problemas que precisam ser enfrentados. Sou oposição ao governo Temer, mas tenho responsabilidade com o povo de Roraima, por isso sempre usarei o meu mandato para defender os interesses do Estado seja qual for o governo”, disse a parlamentar.

O deputado Hiran Gonçalves, que agendou a reunião a pedido da governadora, disse que essa foi uma ação suprapartidária em defesa dos interesses de Roraima. “Precisamos de uma solução urgente, e se o problema não for resolvido no prazo previsto, vamos voltar a nos reunir com o presidente Michel Temer”, antecipou.

HISTÓRICO – O Linhão de Tucuruí foi leiloado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em 2011. O Consórcio TransNorte, formado pelas empresas Alupar e pela estatal federal Eletronorte, ganhou a concorrência. A previsão era que a obra ficasse pronta em janeiro de 2015, sendo construída na faixa de domínio da BR-174. Contudo, passados cinco anos, permanece no aguardo de autorização para cruzar os 125 quilômetros da Terra Indígena Waimiri-Atroari.

Em dezembro do ano passado, a Funai chegou a emitir a carta de anuência, documento que faltava para o Ibama expedir a Licença Prévia. Essa carta, contudo, estabeleceu uma série de condicionantes que, para serem cumpridas, precisam de um Termo de Referência minutado pela Funai, imprescindível para a emissão da Licença de Instalação.

No início deste ano, o Consórcio TransNorte chegou a apresentar o Termo de Referência para elaboração do projeto básico para a Funai analisar, mas até o presente momento não houve qualquer manifestação daquele órgão federal. A empresa tem autorização para emissão da Licença de Instalação de todos os outros órgãos federais, inclusive com parecer do Ibama dizendo que esse trajeto é o único possível para o Linhão.

Conforme Suely Campos, que se reuniu com os Waimiri-Atroari em outubro do ano passado, os impactos ambientais e à cultura indígena são mínimos, posto que a altura das torres excede a copa das árvores mais altas, o uso de tecnologia é intensivo, reduzindo a mão-de-obra empregada e, em conseqüência, os contatos com os indígenas são minimizados.

IMPORTÂNCIA – A situação energética do Estado caracteriza-se por uma demanda atual de 189,1 megawatts, suprida apenas parcialmente pela geração da usina hidrelétrica Macágua II, localizada na Venezuela, mediante a linha de transmissão de Guri, com 95 megawatts. Para garantir o fornecimento de energia para Boa Vista e parte do interior do Estado, no ano passado a Eletrobras ampliou o parque térmico que já tinha duas usinas, totalizando a oferta de 189,1 megawatts.

As projeções de demanda futura, considerando crescimento anual de 10%, apontam déficit já a partir deste ano, sendo inevitável a necessidade de construção de outras usinas térmicas, que são muito caras. O custo de operação das usinas termelétricas é exorbitante, superando R$ 720 milhões ao ano, sendo mais de R$ 500 milhões decorrentes somente da aquisição de diesel.

Outro fator extremamente relevante é o ambiental: uma usina com capacidade de produzir 100 MW de energia requer o plantio de 600 mil árvores para compensar a emissão de gás carbônico, caso funcione tão somente três meses por ano. Em Roraima, as emissões de CO2 mais relevantes provêm dessas termelétricas em operação.

Hoje Roraima é o único Estado brasileiro não interligado. Na condição de sistema isolado, não é confiável, estando sujeito a interrupções frequentes, situação que se agrava pelas oscilações decorrentes da baixa qualidade da energia fornecida pela linha de transmissão de Guri.