Cotidiano

PF investiga possíveis casos de tráfico de órgãos envolvendo duas brasileiras

Inquérito investigará quem são as aliciadoras responsáveis por levar brasileiras para a Venezuela e médicos que atuam em clínicas clandestinas

A denúncia feita pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e noticiada pela Folha motivou a Polícia Federal em Roraima a abrir investigação para apurar a morte de duas brasileiras na Venezuela. Conforme a denúncia, elas podem ter sido vítimas de tráfico de órgãos após se submeterem a cirurgias plásticas no país vizinho.

De acordo com o delegado da PF em Roraima, Alan Robson, um inquérito policial foi aberto para apurar as mortes e a retirada dos órgãos das pacientes. “O objetivo é buscar esses elementos, buscar a autoria, quem é que está envolvido nessas mortes, nessa prática de crime, que mesmo ocorrendo no exterior, tem um envolvimento. Pode haver envolvimento de brasileiros e há um interesse da Polícia Federal, em razão da internacionalidade, de que o Brasil se comprometeu a combater esses crimes e apurar a materialidade”, afirmou.

Com a investigação, a PF pretende chegar às aliciadoras responsáveis por levar as brasileiras para a realização de procedimentos estéticos na Venezuela, ação considerada crime de acordo com o Código Penal Brasileiro. Além disso, o inquérito buscará identificar os médicos envolvidos nas clínicas clandestinas naquele País e na suposta rede de tráfico internacional de órgãos.

Outra investigação, desta vez envolvendo representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) dos Estados do Amazonas e Roraima, além da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Associação Médica Brasileira (AMB), que anunciaram a criação de uma comissão para apurar os casos, ainda está em andamento.

Segundo a presidente do Conselho Regional de Medicina em Roraima (CRM-RR), Blenda Garcia, o órgão vem alertando a população, desde 2014, no sentido de não realizar cirurgias plásticas na Venezuela. “Só podemos investigar, fiscalizar e apurar denúncias contra médicos que tenham registro no CRM. Nós alertamos a população para que não vá atrás desses serviços, porque não tem como obter informações desses médicos e nem saber se eles possuem especializações”, disse.

CASOS – Os casos ocorreram em setembro deste ano. No dia 14, a empresária amazonense Dioneide Leite morreu no município de Porto Ordaz, no Estado de Bolívar, depois de ficar nove dias em coma devido a ter tido o pulmão perfurado durante procedimento de redução de seios e laqueadura, realizado pelo médico oncologista daquele país, Oscar Hurtado. O corpo teria voltado ao Brasil sem um dos rins.

O médico, que não teria especialização para este tipo de procedimento, também foi o responsável pela morte da roraimense Adelaide Silva, de 55 anos, ocorrida no dia 17 de setembro, também em Porto Ordaz. Conforme o laudo cadavérico realizado pelo Instituto Médico Legal de Roraima (IML), o corpo da paciente foi gravemente violado na Venezuela, chegando a Roraima sem o coração, intestino, pulmões e rins. (L.G.C)