Polícia

Sejuc confirma dez presos mortos, sendo 7 queimados e 3 degolados

Secretário de Justiça diz que carnificina aconteceu depois de uma ordem que partiu pela facção no Rio de Janeiro

Na manhã de ontem, 17, em entrevista coletiva, foram confirmadas dez mortes, pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), mas apenas cinco corpos identificados, após confronto entre as facções do Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) ocorrido na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo, na zona rural de Boa Vista, na tarde de domingo, 16, durante as visitas de familiares dos detentos.

Sete corpos foram carbonizados e três decapitados, o que vem dificultando o trabalho da perícia na identificação imediata dos corpos. Diferente dos 25 presos mortos que a imprensa nacional estava divulgando desde a noite de domingo, o secretário de Segurança, Uziel Castro, afirmou que esses números são absurdos. Ele disse que houve uma varredura realizada na unidade prisional após os ânimos dos detentos serem contidos.

Ele afirmou que os presos da ala 13 conseguiram quebrar os cadeados das celas e invadiram a ala 12, durante a visita dos familiares de detentos daquela parte da Pamc, os quais são identificados como integrantes do Comando Vermelho. A briga iniciou por volta das 15h e encerrou por volta das 19h, da noite.

Castro disse que o motivo para os assassinatos terem acontecido foi um “salve” (ordem) que foi emitido para todos os presídios do país onde há elementos do PCC, por membros da facção no Estado do Rio de Janeiro, com a ordem de eliminar integrantes do CV. De acordo com o secretario, os familiares que supostamente foram feitos de reféns não estavam lá forçadamente.

“Eles disseram aos integrantes do Batalhão de Operações Especiais [Bope] que estavam em negociação direta com os detentos da rebelião, que estavam lá por vontade própria, pois temiam que a polícia reagisse contra os presos usando de violência, o que não aconteceu”, frisou o secretário ao enfatizar que todos os detentos mortos eram membros do CV.

MORTES – Sete foram carbonizados e três decapitados. Entre os que tiveram as cabeças decapitadas estavam Waldinei de Alencar, conhecido como “Vida Louca”, tido como o cabeça da facção criminosa, e Leno Rocha, vulgo “G3” ou “Mil Grau”, o segundo chefe do grupo. Os outros presos identificados até o momento são Leandro Marques Pereira, o “Cathola”, Rhadrian Colares de Lima, conhecido como “Ray”, e Lucas Silva Santos, vulgo “Tracajá”. Os outros cinco ainda não foram identificados por causa da situação de carbonização, que dificulta o reconhecimento.

Em nota a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado (Sejuc) informou que, na manhã de ontem, 17, durante a nova recontagem, foi encontrado um “crânio carbonizado e por este motivo o IML foi acionado”. “A identificação, no entanto, só ocorrerá com a realização do DNA. Conforme a direção da unidade, o crânio não foi encontrado no local antes devido à escuridão da noite”, destacou.

Ressaltou que, com a conclusão de uma chamada na unidade no início da tarde de ontem, foi identificada a ausência dos seguintes presos: Altair Sobral de Araújo, Euclides da Costa Mangabeira, George da Costa Batista, Tarciso da Silva Queiroz e Marcelo da Costa Barros. “A confirmação das mortes, no entanto, só ocorrerá com a conclusão do trabalho da perícia”, complementou.

FACÇÕES – O comandante-geral da Polícia Militar em Roraima, Dagoberto Gonçalves, que também participou da coletiva, salientou que cerca de 110 presos se intitulam integrantes do CV, contra 300 do PCC na unidade prisional. Conforme o comandante, na execução dos presos foram usados materiais artesanais, como laminas e pedras para matar os detentos.

Questionado se o efetivo policial atual consegue suprir uma nova rebelião, caso ocorra, o comandante disse que sim. Afirmou que o quantitativo de policiais no momento do confronto era de mais de 120 policiais que fazem a segurança da unidade prisional.

“Os componentes do CV foram separados dos demais, por estarem recebendo ameaças dos integrantes do PCC, por isso estavam isolados na ala 12, onde a tragédia aconteceu. Além dos mortos, tiveram seis feridos que foram encaminhados para o Hospital Geral de Roraima e dois deles permanecem internados, mas fora de perigo de vida”, destacou Gonçalves.

Ainda segundo ele, o reforço permanecerá até que as autoridades competentes sintam que a situação está totalmente sob controle. “Não solicitaremos ajuda da Guarda Nacional, pois o reforço tanto de agentes penitenciários quanto de policiais militares e integrantes do Bope continua no local enquanto sentirmos que há necessidade, mas o clima já está calmo e a rotina na Pamc já foi restabelecida”, disse.

TRANSFERÊNCIA – O secretário de Segurança, Uziel Castro, explicou também que há possibilidade de que haja novas transferências de membros de facção, tendo em vista o que aconteceu no domingo. “Já havíamos solicitado da Justiça a transferência de 16 presos, considerados de alta periculosidade e desobedientes, antes dessa tragédia acontecer, mas até o momento os pedidos ainda não foram deferidos. Entre os 16 presos que pedimos transferência, alguns deles foram executados no domingo”, complementou.

Conforme ressaltou o secretário, houve a ruptura da aliança entre as facções do PCC e CV que vigorava há anos. Agora, o maior grupo criminoso do país, o PCC, quer garantir soberania pelo controle do tráfico de drogas e armas. Castro explicou que os detentos que executaram os membros do CV, assim que identificados, responderão por crime de homicídio e tortura, além de cumprir sanção disciplinar conforme a Lei de Execuções Penais (LEP).
(T.C)