Cotidiano

Familiares de presos vão para frente da Pamc pedir separação de grupos

Esposas e mães dizem que só sairão de lá quando separarem os integrantes das duas facções criminosas

Dezenas de parentes de detentos continuam na frente da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (PAMC), na zona rural de Boa Vista, e dizem que só sairão de lá quando separarem os integrantes das facções criminosas: Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). A medida, segundo eles, colocaria um fim na disputa pelo poder dentro da unidade prisional.

O PCC em Roraima, segundo informações do Setor de Inteligência da polícia, teria cerca de 400 integrantes, e o CV pouco mais de 100. Durante a guerra das facções no domingo, 16, em maior número, os criminosos do PCC das alas 13, 14 e 15 arrebentaram o cadeado da ala 12, onde estavam os integrantes do CV e promoveram uma verdadeira carnificina.

A Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) confirmou ontem à tarde que dez detentos foram mortos na tarde de domingo, dos quais sete corpos carbonizados e três decapitados.

Ontem pela manhã, o clima ainda era tenso na Penitenciária Agrícola. Familiares relataram à Folha que a todo instante escutavam bombas e gritos dos detentos dentro da unidade prisional. Os parentes deixaram bem claro que no domingo ninguém foi feito refém, como foi informado pelo Governo do Estado.

“É mentira. Quem estava lá dentro ficou para defender seus parentes. Ninguém me fez de refém. Fiquei lá para evitar que matassem meu esposo. Mas foi horrível. Eu vi alguns morrendo. Um teve a cabeça arrancada com uma terçadada. Depois chutaram a cabeça dele. Também senti um cheiro parecido a churrasco, mas era um corpo queimando”, relatou a mulher de um detento, que preferiu não se identificar.

Ainda ontem pela manhã, após uma gritaria dentro da unidade prisional, uma ambulância do Corpo de Bombeiros e o “Rabecão” do Instituto Médico Legal (IML) entraram às pressas. Ninguém do Governo do Estado informou o que teria ocorrido. Do lado de fora, mais aflição, gritos e choro dos familiares.

“Tem corpo que eles jogaram dentro da fossa. Quero saber do meu filho. Ninguém fala nada. Quero saber se ele está vivo, mas os policiais nada falam. Alguns nos dão cotoco [gesto obsceno com os dedos]. Isso é uma humilhação”, lamentou a mãe de um detento, chorando e agarrada à grade do muro da Penitenciária. (AJ)