Polícia

Bope entra na Penitenciária para tentar separar membros de facções

Familiares dos detentos permanecem acampados na frente da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo, zona rural de Boa Vista. Ontem pela manhã, um micro-ônibus do Batalhão de Operações Especiais (Bope) chegou e dezenas de policiais e cães farejadores entraram. A equipe da Folha ouviu o barulho de bombas de efeito moral estourando dentro do presídio. No alambrado, do lado de fora, familiares gritavam.

A informação era que os presos do CV estavam sendo removidos para o setor conhecido como “ala da cozinha”, onde ficam estupradores e ex-policiais, o que também poderia gerar tumultos. “Por que não coloca o pessoal do CV na Cadeia Pública e deixa a Penitenciária com o PCC?”, questionava a mulher de um detento.

Essa ideia é defendida por algumas autoridades do sistema prisional, mas a Lei de Execuções Penais (LEP) prevê a separação dos presos por regime, e não por facção, a não ser que a Justiça abra uma exceção para evitar mais derramamento de sangue. “A vida é mais importante nessa hora”, justificou outra mulher de preso.

Para verificar se havia corpo na fossa da Penitenciária, como vem sendo especulado, um caminhão limpa-fossa foi acionado, mas nada foi encontrado. “Mataram o presidente e o vice do Comando Vermelho aqui. Agora vão atrás dos irmãos. O ‘salve’ [ordem] é para fugir, sair fora”, alertou a mulher ao barulho das bombas.

Os familiares também pedem que o dia de visita seja suspenso para evitar novas invasões e mortes. “Não tem condições! Enquanto não separar e a guerra continuar, vai haver matança. Tem que separar, pelo amor de Deus!”, implorava outra mulher de um detento, ontem pela manhã. (AJ)

Sejuc ainda analisa se permite ou não visitas

A Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) informa que as visitas na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) estão em análise. Conforme o secretário adjunto da pasta, Francisco Castro, um levantamento dos danos à estrutura está em andamento, além disso, a situação de cada detento será analisada individualmente. “Somente com esse trabalho concluído é que iremos decidir se teremos visitas ou não esta semana”, justificou.

O secretário destacou que o Estado está tomando as providências necessárias para que não ocorram conflitos. Ele lembrou que os presos estão separados por alas distintas há 90 dias e continuarão assim. “Desde que soubemos que poderia haver conflitos entre facções, eles estão separados. O que aconteceu é que eles se aproveitaram do dia de visitas e quebraram os muros da unidade para ter acesso aos presos da outra facção”, explicou Castro, destacando a realização de um trabalho de reestruturação das alas deterioradas.