A Operação Curare VII, do Exército Brasileiro, realizou ontem uma ação social na comunidade indígena do Moscou, em Bonfim, região Leste do Estado, onde quase 150 pessoas receberam atendimento médico e odontológico, além de serviços de corte e manicure. A ação contou com a participação do Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), da Secretaria de Educação do Estado, do Senac e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
O comandante do 1º Pelotão Especial de Fronteira, responsável pelas atividades na comunidade do Moscou, tenente Rafael Lima, afirmou que a ação leva serviços sociais a população local. “Aqui foram realizados cerca de 100 atendimentos médicos e 40 odontológicos. Houve também corte de cabelo e manicure, que atendeu a centenas de pessoas”, relatou.
Segundo ele, é uma contribuição no trabalho de saúde da comunidade, que é precário. “Eles estão há algum tempo sem médico aqui, então é uma oportunidade para colocar esses serviços em dia”, comentou. “O Exército está sempre disposto a ajudar, seja nas grandes cidades ou nas áreas mais afastadas dos municípios, trazendo macas, medicamentos, tendas e outros equipamentos necessários”.
No local, também aconteceram palestras e atividades recreativas, como pula-pula para as crianças, práticas esportivas e pebolim. “É uma forma de mostrar o civismo e aumentar o relacionamento com essas pessoas”, disse Lima.
Nos próximos dias, as ações cívico-sociais do Exército Brasileiro acontecerão em outras regiões do Estado. “A cada dia estaremos proporcionando esse trabalho para diferentes comunidades indígenas de Roraima. Essa é a nossa mão amiga”, concluiu.
A promotora de justiça de Defesa da Saúde do MPRR, Jeanne Sampaio, que também participou da ação, avaliou a iniciativa de forma positiva. “A comunidade do Moscou fica em uma área remota e para a população existe uma grande dificuldade de acesso aos serviços que temos na Capital, por exemplo. Então esse tipo de operação é importantíssimo, um exercício de cidadania que leva dignidade e atendimento às pessoas que necessitam, principalmente na área da saúde. O trabalho está de parabéns”, declarou.
O tuxaua da comunidade, Nonato Caetano, disse que as 550 pessoas que moram naquela região precisam dessas operações. “É uma dificuldade para os médicos chegarem aqui. Então, para nós, é muito importante e nos ajuda muito. As quase 150 pessoas que foram atendidas mostram como a gente precisa de atendimento aqui. Como liderança eu fico muito agradecido ao Exército por essa iniciativa”, afirmou.
CARÊNCIA – Os moradores da região denunciaram a falta de médicos e medicamentos no local, o que tem prejudicado a população. Hoje, a comunidade conta com apenas dois técnicos em enfermagem e um enfermeiro.
O tuxaua Nonato Caetano disse que já questionou a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e demais autoridades para que resolvam o problema, mas nada foi feito até o momento. “Há cerca de duas semanas, durante a assembleia dos tuxauas, no polo da comunidade Malacacheta, cobrei a falta de um médico aqui. São mais de 500 pessoas que precisam de atendimento”, afirmou.
Outro problema é em relação à falta de medicamentos. “Esse é um problema que já estamos enfrentando há um bom tempo. Já procuramos a Sesai, mas nunca apareceu nenhum médico ou alguém para resolver, então fica difícil para trabalhar assim. A situação é muito precária e os enfermeiros não dão conta de tudo”, relatou Nonato.
O médico do Exército, Humberto Fortes, que participou das ações de ontem, 19, disse que os principais problemas são relacionados ao estilo de vida das pessoas. “Os mais velhos apresentam dor de coluna, dor de cabeça, dores musculares, além de problemas relacionados à salinidade, como hipertensos e diabéticos”, afirmou.
Em relação ao acompanhamento, a enfermeira da Sesai que trabalha na comunidade, Ana Roberta, disse que os pacientes são atendidos em Bonfim por falta de médico na comunidade. “Eles apresentam a prescrição médica que é enviada para a Sesai que envia os medicamentos todos os meses. A gente faz a visita na casa do paciente e quando necessário, a gente faz o acompanhamento”.
Segundo ela, a comunidade está sem médico há cerca de três meses. “A médica que atendia aqui está de licença maternidade e não veio ninguém para substituí-la. Passaram a informação de que iriam resolver o problema, mas até agora não apareceu ninguém aqui. A comunidade reclama muito sobre essa situação”, comentou.
SESAI – A Folha tentou entrar em contato com a Sesai, por telefone, para que dessem um posicionamento sobre os problemas na comunidade indígena, mas não obteve contato até o fechamento desta matéria, às 20h de ontem. (B.B)