Polícia

Guerra entre facções pode chegar às ruas, alerta promotor de São Paulo

O confronto entre os dois grupos deixou cerca de 20 mortos em três presídios da região Norte na última semana

As duas maiores facções criminosas do Brasil, Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), vem travando uma verdadeira guerra por poder. O confronto, por ora, está restrito a presídios. Mas, segundo o promotor do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (GAECO) de Presidente Prudente (SP), Lincoln Gakiya, a carnificina pode extrapolar para as ruas das principais cidades do país.

“O PCC tem inclusive comunicado em seus salves que eles não atacam a população: eles não queimam ônibus, não atacam escolas, o negócio deles é contra o Estado, contra as autoridades constituídas. Essas outras facções, principalmente no Nordeste, têm agido de maneira diferente com queima de ônibus, causando terror. A gente não sabe do desdobramento da guerra entre eles, cada estado vai ter que fazer seu dimensionamento”, afirmou.

Gakiya é o autor da principal denúncia já apresentada à Justiça contra o PCC. Considerado um dos principais especialistas na facção, ele afirma que a razão para o conflito pode estar centrada na disputa pelo controle de prisões em regiões que o grupo paulista ainda não domina. Segundo documentos apreendidos, a facção justifica os ataques por uma suposta traição do Comando Vermelho nesses estados.

“O próprio PCC tem difundido no sistema penitenciário, tanto em São Paulo quanto fora, em  salves (que são as ordens do PCC), os motivos pelos quais começou a guerra. Segundo eles, foi por conta de ‘abusos’ do Comando Vermelho que teria feito alianças com inimigos do PCC. O PCC afirmou, no salve, que teria inclusive tentado contato com a cúpula do Comando Vermelho, que seria [formada pelo] Marcinho VP e o Elias Maluco, pedindo uma providência em relação a esses desvios que tem acontecido nos estados. Como eles não teriam tomado nenhuma providência, o PCC teria partido para a guerra”, disse.

Na última semana, o confronto entre os dois grupos em presídios no Norte e Nordeste deixou ao menos 21 mortos. De acordo com o governo do Acre, onde três detentos foram mortos na última quinta-feira, 20, a ação é nacional e todas as unidades da federação estão em alerta. Na segunda, 17, oito presos foram assassinados em Rondônia durante uma rebelião e, no domingo, 16, outros 10 em um presídio de Roraima. Há ainda registro de conflitos no Ceará com a mesma motivação.

“Existe uma dificuldade muito grande, principalmente por parte do Ministério Público e da Secretaria de Administração Penitenciária, de eventualmente poder isolar esses membros e aplicar a eles, por exemplo, algumas sanções de natureza de execução de pena: como a internação em Regime Disciplinar Diferenciado, que proíbe visitas íntimas e o contato com familiares, quando permitido é feito só por meio de um vidro para que não se possa passar nada. Veja: uma ordem que foi dada provavelmente aqui em Presidente Venceslau teve efeito em Roraima e pode causar uma intranquilidade nacional”, pontuou.

Com informações da Revista Exame.