Cotidiano

Implantação de educação militar muda realidade de duas escolas na zona Oeste

Antes da implantação dos colégios militares, traficantes vendiam droga dentro da escola, professores apanhavam e alunos eram esfaqueados

Disciplina e respeito. Esses dois pilares estão transformando a vida de centenas de jovens em duas escolas na zona Oeste de Boa Vista. Antes o traficante vendia droga dentro da escola e os membros de galera atacavam até os professores nos corredores. Mas desde abril deste ano, com a implantação do colégio militar, a realidade é outra nas escolas estaduais Luiz Rittler de Lucena, no bairro Nova Cidade, e Elza Breves de Carvalho, no bairro Senador Hélio Campos.

A Folha foi ontem pela manhã conferir essas mudanças que aconteceram a partir da implantação do regime militar nas unidades educacionais. Os números de violência caíram de forma expressiva. Não existe mais agressão física entre alunos e os professores agora conseguem ministrar aulas em turmas lotadas. Antes as salas eram vazias. Todas as atividades têm horário certo para começar e terminar. O aluno nunca fica com tempo vago, sem atividade.

A ordem e a disciplina provocaram mudanças radicais no cotidiano dos estudantes dentro e fora da escola, o que é mais importante. Mas a transformação social e educacional desses jovens não depende apenas de professores e militares. É de fundamental importância também o papel da família. O coronel bombeiro militar Cidinei Silva, diretor do colégio militar Luiz Rittler de Lucena, lembrou que a educação vem de berço e que no colégio militar são cobradas disciplina e obediência às regras. Mas ele ressaltou que para funcionar e dar certo, os pais têm que acompanhar e participar do processo de mudança na vida dos filhos.

“Também é preciso que outros órgãos se esforcem para contribuir com essas mudanças. Verificamos, por exemplo, que a violência aqui estava relacionada às drogas. Então empregamos o Proerd, que é um programa de prevenção às drogas, específico para o público juvenil. Mas é preciso que a família e a própria polícia também participe deste processo de combate às drogas”, salientou.

Para colocar o jovem na “linha”, as regras empregadas no colégio militar são rígidas. Todo dia o aluno chega às 7h e entra em forma no pátio da escola. Lá, ele canta o Hino Nacional e participa da solenidade de hasteamento da bandeira. Depois, faz ordem unida, marcha e sai em fila e em silêncio à sala de aula, onde o professor já o espera na porta. O aluno só merenda na hora do recreio. As atividades se encerram às 11h45.

À tarde, das 13h às 17h45, as mesmas regras. A bandeira é arriada por um grupamento de alunos.

O que também chama atenção é a postura que o jovem adota. Com corte militar, ele anda alinhado e com a farda impecável. Quando vai falar com um militar superior, presta continência e pede autorização. Ao entrar em uma sala, o aluno bate antes na porta e pede licença. Só entra se for autorizado. Não existem mais pichações nas paredes e o banheiro é limpo e higienizado. Muitos são voluntários em mutirões de limpeza na escola.

Antes a escola era umas das mais violentas na Capital. A quadra de esporte era utilizada por traficantes e usuários de droga. Membros de galera se enfrentavam nos corredores, professores eram agredidos e alunos, esfaqueados em sala de aula. A escola era cercada por “áreas vermelhas”, ou seja, bocas de fumo e outros locais violentos. Mas com a implantação do colégio militar, a realidade hoje é bem diferente.

“É bom ressaltar que a grade curricular dos alunos não mudou. Apenas mudamos a rotina deles, o horário, o comportamento. Hoje eles aprendem a ter educação e respeito pelo próximo. Aprendem a ser cidadãos. E o melhor é que eles hoje enxergam a escola com perspectivas de um futuro melhor, mais promissor”, finalizou o diretor, coronel dos Bombeiros.

O colégio militar atende atualmente a 2.176 alunos do Fundamental 2 ao Ensino Médio. À noite, o público adulto participa da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Mas o diretor adiantou que a proposta é que o curso seja transferido para outra escola. O corpo pedagógico da escola estuda a possibilidade da inclusão do curso de instrução cívica militar. A implantação total do colégio militar, segundo o diretor, pode durar dois anos. (AJ)

PM inibe atos ilícitos e projeto resgata jovens

Antes a Escola Estadual Elza Breves de Carvalho, no bairro Senador Hélio Campos, também aparecia na lista das mais violentas de Boa Vista. Mas a partir da implantação do colégio militar, em abril passado, professores e alunos agora vivem outra realidade, bem diferente da do passado recente. O diretor do colégio, coronel da Polícia Militar Filgueiras de Souza, falou das mudanças radicais no cotidiano dos alunos. Disse que o projeto tem a finalidade de resgatar os jovens moral e civicamente.

“A escola era depredada. Os estudantes quebravam até a janela da sala do diretor. Furavam o pneu dos carros dos funcionários. Alunos vendiam droga dentro da escola. Mas hoje nada disso acontece mais. Estamos conseguindo reverter este quadro com disciplina e respeito”, observou o diretor.

O primeiro passo, segundo ele, foi colocar o aluno dentro de sala de aula. Depois a direção melhorou as condições físicas da unidade. E agora trabalha para dar melhores condições para o professor ensinar. As melhorias também chegaram à comunidade escolar. Só a presença da PM, conforme o coronel, já inibe os atos ilícitos no entorno da escola. As bocas de fumo nas imediações da escola, por exemplo, já não existem mais.

A missão agora do corpo pedagógico é identificar os alunos com maior déficit de aprendizagem para que eles tenham aula de reforço. A preocupação é de todos, explica o diretor. Os professores e outros educadores são voluntários neste processo. Como nos outros colégios militares, na Elza Breves a grade curricular também não sofreu alterações.

“A parte pedagógica continua com os professores, mas a parte de ordem e disciplina fica com os militares. Esta combinação vem dando certo. Temos mais de mil alunos do 6º ano ao Ensino Médio que chegam no horário, fazem suas atividades e estudam. Tudo com disciplina e respeito. Aqui se prepara cidadãos para a vida”, ressaltou o diretor. (AJ)

Mudança estimula alunos e professores

A aluna Caroline Miranda, de 15 anos, que cursa o 8º ano, disse que a mudança melhorou a sua vida na escola. Antes, segundo ela, havia muita bagunça e ninguém respeitava ninguém. “Mas agora as coisas mudaram, e mudaram para melhor. Dá vontade de estudar. Pretendo seguir carreira militar”, disse a aluna, sorridente.

O professor de História Evangivaldo de Oliveira afirmou que percebeu uma mudança forte na questão disciplinar dos alunos e que houve um estímulo muito grande com o apoio da PM. Segundo ele, houve mudança até na comunidade.

“As agressões físicas cessaram com esta nova filosofia de valores implantada. Hoje até a família do aluno aposta na escola, mas falta investimento em materiais e laboratórios. É preciso também investir no fator humano para que a mudança ocorra de forma abrangente”, observou. (AJ)