A Justiça expediu, no fim da tarde de quinta-feira, 27, dois mandados de prisão contra Luciene Tomé da Silva, conhecida como Lucí, de 32 anos, e Robson de Souza Soares, de 36 anos. A Polícia Civil, por meio da equipe da Delegacia-Geral de Homicídios (DGH), foi responsável pelo cumprimento dos mandados. Eles são autores do homicídio majorado do garimpeiro Elias Cunha Silva, de 45 anos, cujo corpo foi encontrado na segunda-feira, dia 24, por volta das 12h, na Região do Bom Intento, zona rural de Boa Vista. A motivação do crime não foi elucidada, mas há indícios de premeditação. Luciene é ex-esposa de Elias.
O crime ocorreu no dia 22, por volta das 19h, quando a vítima foi ao apartamento do casal, no bairro Tancredo Neves, zona Oeste, para falar com a ex-esposa, Lucí. Na quarta-feira, 26, à noite, a polícia recebeu uma denúncia anônima de que Lucí teria relatado a uma vizinha como ela premeditou o crime. “Literalmente, armou para o ex-marido comparecer ao apartamento, local onde já pretendiam matá-lo. Em princípio se falou que a arma do crime era um machado, mas, na verdade, foi um terçado ligeiramente grande, maior do que os que costumamos ver”, explicou a delegada titular da DGH, Mirian Di Manso.
CONFISSÃO – Ambos mantiveram a versão de que a vítima teria ido ao apartamento no dia do fato com o facão, que acabou sendo usado para matá-lo e teria entrado de forma surpreendente para poder matar Robson, que reagiu com uma perna-manca, alegando ter levado a madeira para casa na intenção de fazer uma mesa de canto. Na reação, conseguiu desarmar a vítima e, em seguida, efetuou várias pauladas em sua cabeça. Então, Elias foi amarrado e colocado no porta-malas do próprio carro e levado para o local onde o corpo foi achado.
Segundo a DGH, a Perícia Criminal de imediato descartou a possibilidade de ele ter sido morto no local onde o corpo foi achado, pelo fato de que não tinha vestígio de sangue, o que levava a crer que as lesões foram causadas em outro lugar e o corpo apenas teria sido desovado.
“É outra contradição dos autores. Porque eles dão a entender que a vítima ainda estava viva quando foi amarrada e colocada na mala do carro e que ele [Robson] teria descido sozinho do veículo, jogado o corpo de Elias no chão e efetuou os golpes de terçado, deixando o rosto da vítima naquela condição desfigurada em que foi encontrado”, ressaltou a delegada.
DEPOIMENTO – Depois do recebimento da denúncia, a delegada responsável pelo caso intimou o casal para prestar depoimento. “Eles foram trazidos à delegacia na quinta-feira, 27, pela manhã, e o interrogatório já foi iniciado com a acusação de que se tinham provas, com base no depoimento das testemunhas, de que eles tinham matado. Aí foi só o tempo de esperar que eles se acalmassem, porque ela achou que viria para prestar depoimento, como qualquer outro familiar, quando na verdade foi interrogada. Demorou um tempo, mas confessou. Ela dá a entender que, durante todo o tempo de convivência com a vítima, ela sofreu violência doméstica e sexual, e que a separação com Elias teria se dado por interesse dela”, acrescentou Di Manso.
CONTRADIÇÕES – Apesar de ter confessado o homicídio, a casal entrou em contradição quanto ao motivo do assassinato. No interrogatório, Luciene afirma que, desde o início do segundo relacionamento, com Robson, a vítima (Elias) não se deu por conformada e, desde então, estaria ameaçando de morte tanto ela quanto Robson. No entanto, quando ouvido, Robson negou qualquer tipo de ameaça, que nunca foi ameaçado pela vítima, que se Luciene teve problemas domésticos com o ex-marido, ele desconhecia, porque ela nunca havia relatado o fato.
Eles também negaram a premeditação do crime. “Ela diz que Elias teria ido procurá-la com a intenção de matá-la. Ela disse que o ex-marido ligou para conversar e teria saído do apartamento para conversar com ele dentro do carro, eles se despediram e ele teria ido embora. Foi a hora em que ela entrou no apartamento e estava no banheiro quando ouviu um grito. Quando ela saiu, se deparou com o Elias e o Robson brigando na sala. Já a versão apresentada por Robson é diferente. Ele alega que a mulher teria saído para caminhar e que toda a ação foi praticada exclusivamente por ele”, destacou a polícia.
PRISÃO – “Então, nós trabalhamos com a hipótese de premeditação. Nós temos ainda testemunhas que serão ouvidas na segunda-feira, 31, porque realmente esse caso demandou muitas diligências, em razão da urgência. Houve possibilidade de se representar pelas prisões preventivas com rapidez porque a nossa preocupação era o fato de eles não terem endereço próprio, atividade laborativa específica e serem de procedência indígena, então as chances de eles fugirem do local em que residem e nunca mais serem achados eram muito grandes”, enfatizou a titular da DGH.
As investigações estudam a possibilidade do envolvimento de uma terceira pessoa, considerando que a vítima era um homem grande, tinha cerca de 90 quilos. Ligações telefônicas também serão interceptadas com o intuito de elucidar o caso. “A Lucí disse que quem ligou para ela foi a vítima. O filho da vítima afirma que quem ligou e o atraiu para o apartamento foi a Luciene. São informações que precisam ainda ser checadas”, disse Di Manso.
Conforme os autos do inquérito, a ex-esposa saiu de casa há cinco meses, mas fez questão de deixar a guarda das filhas com a vítima e sempre teve acesso às meninas, que as visitas eram livres. “Ela ficaria na casa dele com as filhas, no período em que ele estivesse no garimpo. Estava separada do Elias e já convivia com Robson há quatro meses, numa vila do bairro Tancredo Neves”, afirmou Mirian.
O casal foi levado para exame de corpo de delito na manhã de ontem, 28, no IML (Instituto de Medicina Legal). Luciene Silva foi recolhida à Cadeia Feminina de Boa Vista, e Robson Soares encaminhado para a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), unidades prisionais que ficam na zona Rural de Boa Vista.
O CRIME – No começo da tarde de segunda-feira, 24, o corpo de Elias Cunha Silva, de 45 anos, foi encontrado na estrada do Bom Intento, zona rural de Boa Vista, nas proximidades do Centro Socioeducativo (CSE). Marcas da violência praticada pelos assassinos estavam espalhadas pelo corpo. O rosto ficou completamente desfigurado.
Familiares contam que o homem saiu de casa às 18h de sábado, 22, e disse à filha que retornaria em meia hora, mas desapareceu. O carro foi encontrado ainda na noite do sábado, com marcas de sangue no porta-malas, no bairro Monte das Oliveiras, zona Norte da Capital, mas o corpo foi encontrado dois dias depois. Elias era garimpeiro. (J.B)