A imigração de venezuelanos a Roraima já provoca impactos sociais e agrava a crise financeira do Estado. Se a situação antes era ruim, agora piorou. Os setores nas áreas de Saúde, Segurança e Social estão sendo atingidos em cheio e hoje nem roraimenses nem venezuelanos conseguem ter serviço público de qualidade.
O sociólogo Paulo Rackosky, em entrevista à Folha, observou que o fenômeno da imigração venezuelana apenas fez aumentar a demanda pelos serviços públicos, que já não eram oferecidos com a devida qualidade e que agora pioraram. É o que vem acontecendo na maternidade, única do Estado.
A unidade de saúde foi inaugurada em 1981 para atender uma população de 100 mil habitantes. Quando a população de Roraima dobrou, 16 anos depois, a maternidade foi ampliada. Mas, atualmente, a população roraimense se aproxima dos 600 mil habitantes e a maternidade continua com o mesmo número de leitos de quase duas décadas atrás.
Além de atender a grande demanda roraimense, a maternidade agora sobrecarregou de vez. O número de partos de venezuelanas e guianenses aumenta a cada mês. Para melhorar o atendimento, segundo o sociólogo, o governo deve ampliar os investimentos.
“Para suprir esta demanda, o governo estadual deveria tentar conseguir repasse de recursos federais. O governo local também poderia abrir canal de diálogo com organismos internacionais, que tratam de fenômenos sociais como o que está ocorrendo com o povo venezuelano”, frisou.
Ele lembrou que, no caso das crianças venezuelanas, que hoje estão nas esquinas da cidade com os pais pedintes, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) poderia ajudar. Ele também lembrou que a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização das Nações Unidas (ONU) dispõem de mecanismos para ajudar refugiados. No caso da área da saúde, o sociólogo ainda citou a Cruz Vermelha.
“A Cruz Vermelha tem tendas, por exemplo, para tirar essas pessoas do relento. Já são mais de 30 mil venezuelanos em Roraima e a maioria não está legalizada. São dois mil pedidos de refugiados. O governo local pode pedir ajuda para esses mecanismos internacionais”, orientou.
Na área de segurança pública, a imigração venezuelana também está provocando um aumento na criminalidade em Roraima. Esta semana, por exemplo, a polícia prendeu dois traficantes que vendiam droga em casas noturnas do bairro Caimbé, zona Oeste da Capital. Mas o sociólogo observou que esses crimes já vinham acontecendo e que agora estão ganhando apenas mais visibilidade.
“Neste campo é preciso concurso público, mas efetivo para que a abordagem policial ocorra com mais frequência. O Estado tem que promover curso de qualificação para os agentes de segurança. É preciso também mais contingente nas fronteiras. O Exército Brasileiro, por exemplo, poderia montar barreira, mesmo que simbólica, como as alcabalas na Venezuela. Isso já faria diferença”, frisou.
Ainda segundo o sociólogo, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) poderia estar mais presente nas rodovias federais, com abordagens na linha de fronteira. A Aeronáutica também poderia utilizar a tecnologia dos drones para fiscalizar as terras indígenas. As polícias Militar e Civil então fariam o trabalho nos núcleos urbanos. “É preciso um trabalho em parceria de todos os instrumentos de segurança do Estado”.
SOCIAL – A área social é a mais atingida no Estado pela imigração venezuelana. Roraima é o Estado com a menor participação no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e a pobreza venezuelana, somada à desigualdade social brasileira, só faz agravar a situação de todos. “Observe que o preço do aluguel subiu e a cesta básica ficou mais cara. Isso é reflexo desta crise”, observou sociólogo Paulo Rackosky.
É comum agora ver venezuelanos trabalhando informalmente nas ruas de Boa Vista, vendendo peças artesanais ou fazendo malabarismo. Grupos indígenas venezuelanos pedem até esmola nos semáforos mais movimentados da cidade. Mas isso, conforme o sociólogo, não tira a vaga de emprego dos roraimenses, como muitos pensam.
Estão chegando a Roraima muitos venezuelanos sem profissão, mas muitos têm qualificação, até mais que os brasileiros. “Mas o roraimense não está sendo prejudicado no mercado formal de trabalho. A disputa neste setor de prestação de serviço, tanto aqui quanto na Venezuela, brasileiros e venezuelanos disputam as vagas. Ninguém tira vaga de ninguém. No caso do trabalho informal, este sim, de acordo com o sociólogo, os venezuelanos ocupam as vagas dos brasileiros. (AJ)