Cotidiano

Um ano depois, professora que teve filha e marido mortos pede celeridade

Professora cobra que processo ande mais rápido e espera que ex-policial militar vá a júri popular pelo triplo homicídio

É com o apoio de familiares, amigos e colegas de trabalho que a professora Nilra Jane, de 50 anos, luta para superar uma tragédia que foi o brutal assassinato do marido e da filha. O crime, cometido pelo ex-policial militar Felipe Quadros, que ainda viria a matar um empresário, ocorreu no dia 09 de novembro do ano passado.

Em entrevista à Folha, a esposa de Eliézio Oliveira, 50, e mãe de Jannyele Filgueira, 28, duas das três vítimas, disse que luta a cada dia para enfrentar a perda. “Só com muita oração para superar. Estou pedindo a Deus, todo dia, forças para poder enfrentar. Cada dia é uma luta para levantar e trabalhar”, contou.

O apoio recebido de pessoas próximas, um ano após o crime, tem sido fundamental na vida da professora. “É enorme o valor do apoio. Ser uma viúva, só com dois filhos, é uma coisa que nunca imaginei viver. Tinha 30 anos de casada, uma família completa com três filhos, e de repente eu acordei e fiquei sem chão, apenas com dois filhos para seguir a vida”, disse.

A mulher deu detalhes da relação da filha com a ex-namorada de Felipe Quadros e afirmou ter certeza que o crime poderia ter sido evitado. “Minha filha não tinha nenhuma relação com ele. Ela era amiga da ex dele, inclusive pelos fatos que haviam ocorrido anteriormente havíamos proibido o contato dela com essa moça. Ele deu vários sinais, agrediu a ex, foi denunciado na Corregedoria, deu um tiro na minha casa, na casa dos pais da Carol, e penso que se os superiores dele tivessem levado a sério as reclamações, teriam pelo menos deixado ele desarmado”, afirmou.

Apesar de tratar a ex-namorada do homicida como vítima, a professora confessou sentir raiva da amiga da filha. “Ela foi uma vítima dele, mas sinto raiva toda vez que penso nela, porque ela foi embora do Estado, se livrou dele e não alertou a minha filha”, desabafou.

Ela afirmou não ter sensação de impunidade sobre o crime, mas cobrou mais celeridade no processo. “O que me entristece é que percebemos que está sendo lento. A Promotoria garantiu para mim que desse ano não passaria o júri popular, porque foi uma coisa que ficou muito marcado. Ele admitiu, já teve audiência de instrução, mas a lentidão é enorme, não é da forma como esperávamos que fosse”, disse.

A professora pediu que, se condenado, o ex-policial, que hoje está custodiado no Comando de Policiamento da Capital (CPC) da Polícia Militar, vá para o presídio. “No processo afirmaram que o crime causou comoção no Estado e que ele poderia ser morto nas cadeias, mas então, se é perigoso, por que não o levam para um presídio fora do Estado, assim como já levaram bandidos que causaram menos dano que ele? Ele está na proteção do Estado e não sabe o que é uma cela, tem um ano que sofremos com essa dor”, frisou.

A mulher afirmou que espera que um dia possa perdoar o assassino da filha e do marido. “Hoje ele precisa do perdão de Deus, não meu. O que eu espero é que ele pague pelo que fez. Ele fez um estrago na minha vida e na de outra família, e o que eu espero é que a justiça do homem seja feita, porque a de Deus eu tenho certeza que ele não escapa”, pontuou.

O CASO – No dia 9 de novembro de 2015, o então policial militar Felipe Quadros executou pai e filha, Eliézio Oliveira e Jannyele Filgueira, respectivamente, em frente à residência das vítimas, na Rua dos Hibiscos, no bairro Pricumã, zona Oeste. Na ocasião, o policial usava pistola e colete a prova de balas pertencentes à Polícia Militar. Toda a ação foi gravada por câmeras de segurança do próprio local.

Após a execução das duas primeiras vítimas, o policial militar foi até o bairro Caimbé, também na zona Oeste, e assassinou o empresário Ernane Rodrigues, que morreu em frente a própria casa, na Rua Ruth Pinheiro. O PM ainda disparou tiros contra o vizinho do empresário, que tentou intervir na execução da vítima.

Para o Ministério Público de Roraima (MPRR), os crimes foram premeditados, mediante emboscada e por motivo fútil. Felipe Quadros não aceitava o fim do relacionamento com a ex-namorada, que mantinha relação de amizade com as vítimas que moravam no bairro Pricumã. No caso do empresário, morto no bairro Caimbé, haveria uma dívida financeira de Felipe Quadros com a vítima.

Felipe Gabriel Martins Quadros foi denunciado pelo Ministério Público e responderá por homicídio qualificado previsto no artigo 121, parágrafo 2º, incisos I, III e IV e ainda, por tentativa de homicídio e será julgado pelo Tribunal do Júri no próximo ano. (L.G.C)