Eleito com pouco mais de 38% dos votos, o próximo prefeito de Pacaraima, o comerciante Juliano Torquato (PRB), terá muito trabalho pela frente. Ele assumirá a gestão do município em meio a uma crise imigratória de venezuelanos para a fronteira com o Brasil. À Folha, Torquato afirmou que, após o término das eleições, começou a articular ações com o Governo do Estado. “A gente sabe que a dificuldade é grande e sem apoio do Governo do Estado não temos como agir”, disse.
O prefeito eleito comentou que o problema que mais preocupa a gestão é a saúde municipal. “Um surto de doenças está assolando Pacaraima. Isso se dá porque os venezuelanos estão entrando no Brasil sem a cobrança do cartão de vacina, por exemplo”, comentou, ressaltando que os vizinhos têm entrada livre no país por conta do Mercosul e a exigência da vacina foi retirada.
Torquato assegurou que se a gestão conseguir neutralizar a entrada de pessoas sem vacina em dias a Prefeitura de Pacaraima conseguirá fazer um trabalho sanitário melhor. “Muitas pessoas estão entrando no Brasil sem apresentar a carteira de vacinação, o que é um risco muito grande”, destacou.
O número de crimes, segundo ele, também aumentou nos últimos tempos. “Situações fora da nossa realidade estão acontecendo, como roubos e furtos. Toda semana tem algum registro e antes isso não era comum aqui. Já pedimos reforço das Polícias Militar e Civil para prevenir e coibir essa onda de crimes”, explicou. Ele lembrou que a fronteira seca entre os dois países é favorável à fuga de criminosos. “A maneira de fugir é muito fácil”, acrescentou.
A questão indígena também o preocupa. “Os indígenas entram facilmente no País, então temos que buscar o controle dessa imigração. No início dessa semana, dei uma volta na cidade e vi mais de 150 indígenas venezuelanos”, comentou.
Juliano Torquato explicou que os indígenas passam alguns dias ou semanas em Pacaraima e depois descem para Boa Vista. “Eles descem a pé ou pedem carona. Garanto que nos próximos dias devem chegar de 150 a 200 novos indígenas em Boa Vista”, comentou, ressaltando que pretende diálogo com a prefeita da Capital, Teresa Surita (PMDB).
Ele também já iniciou um diálogo com o governador do Estado de Bolívar e com o prefeito de Santa Elena. “O que mais me preocupa é perdermos o controle da entrada dos indígenas. A Polícia Federal está fazendo seu trabalho em deportá-los, mas é uma questão humanitária, se trata de pessoas que estão passando necessidade”, disse.
“Mas temos que pensar que nosso estado está passando por um período crítico se tratando de trabalho, de saúde. Meu receio é fazer um trabalho social e atrair a cada dia mais venezuelanos. Podemos prestar auxílio com os venezuelanos ficando lá e não trazer esse problema diretamente para nós, pois vai ter um momento que não teremos mais como ajudá-los aqui”, reforçou.
AJUDA FEDERAL – Sobre o apoio do Governo Federal, o prefeito eleito afirmou que terá reuniões com o senador Telmário Mota (PDT) e com o deputado federal Jhonatan de Jesus (PRB) para solicitar ajuda da União. “O Governo do Estado já está pedindo apoio do Governo Federal e buscaremos, por meio dos parlamentares federais, uma intervenção mais rápida também”, esclareceu.
Torquato afirmou que participou de uma reunião do Gabinete Integrado de Gestão Migratória (GIGM), criado pelo Governo do Estado. “Eles [os órgãos] se reúnem para montar uma forma de resolver essa situação com o Governo Federal, mas o protocolo de calamidade é um pouco complicado”, disse.
PROPOSTAS – Ao assumir a Prefeitura de Pacaraima, Juliano Torquato pretende recuperar a sede do município. “Tudo acabou. As ruas e a infraestrutura estão deterioradas. Meu sonho é fazer uma cidade diferente, mas, por enquanto, precisamos resolver esse problema emergencial. Quero fomentar a economia, atrair turistas para visitar as belezas naturais da nossa cidade, resgatar Pacaraima como era antes”, destacou. (V.V)