Índias venezuelanas da etnia Warao, que vivem no Delta do Orinoco, a Nordeste da Venezuela, pegam carona e andam quase 450 quilômetros até chegar a Boa Vista, onde sobrevivem das moedas que recebem de esmola nas esquinas mais movimentadas. A situação é de penúria, mas é bem melhor que a vivida no país vizinho, onde não há o que comer.
O agravamento da crise na Venezuela empurrou mais índias venezuelanas para Boa Vista neste último mês. No começo do ano, apenas um grupo com 12 Warao, a maioria idosa, pedia esmola debaixo do semáforo das avenidas Glaycon de Paiva com Terêncio Lima, no bairro Liberdade, zona Oeste. Mas agora elas estão em quase todas as esquinas movimentadas da cidade.
A Folha percorreu vários cruzamentos e constatou que o número de índias venezuelanas pedintes aumentou consideravelmente. Um grupo delas, formada em sua maioria por idosas, continua no cruzamento das avenidas Glaycon de Paiva com a Terêncio Lima, no bairro Mecejana, zona Oeste. Mesmo debaixo de um sol escaldante, as Warao sorriram e posaram para a foto com suas caixinhas e poucas moedas.
Elas não quiseram gravar entrevista, mas falaram que, o que apuram no dia dá para comprar comida. O dinheiro é pouco e só dá para comprar bolacha e pão, às vezes sobra para o suco. Por dia, o grupo faz até R$ 20,00. “Mas lá na Venezuela nem isso tínhamos. Não tem comida lá e ninguém ajuda, ninguém dá esmola”, relatou uma senhora Warao.
No semáforo da Avenida Centenário com a Rua São Francisco, no bairro Cinturão Verde, zona Oeste, outro grupo também pedia esmola. A mesma cena se repete no cruzamento das avenidas Bandeirantes com a Via das Flores, no bairro Pricumã, zona Oeste.
No semáforo da Avenida Ataíde Teive com a Venezuela, no bairro Liberdade, zona Oeste, outro grupo aguardava o sinal ficar vermelho para pedir esmola. Mais à frente, no cruzamento da Venezuela com a Avenida Mário Homem de Melo, uma Warao carregava uma criança no colo. O menino segurava a caixinha de esmola.
“É triste ver isso, mas não podemos fazer nada. Eles fogem da fome, mas aqui também está difícil. Cadê os órgãos públicos competentes para lidar com este problema?”, questionou um motorista, que preferiu não se identificar.
Os Warao se concentram principalmente em Boa Vista e Pacaraima, município na região Norte de Roraima, na fronteira entre os dois países. Eles vivem na rua, em casas abandonadas, em prédios públicos desocupados ou não. Passam o dia pedindo esmolas, mas alguns vendem peças artesanais.
A situação desses índios é bem diferente dos imigrantes venezuelanos não índios ou de estrangeiros de outras nacionalidades, como os haitianos, por exemplo, que conseguem refúgio no Brasil. Em dois anos, 223 indígenas já foram deportados e entregues pelas autoridades brasileiras na cidade de Santa Elena de Uairén, capital de Gran Sabana, no Estado Bolívar.
A Polícia Federal justifica as deportações, alegando que os estrangeiros estão sem documento regular ou vencido, pedindo esmolas ou vendendo artesanatos nas ruas e semáforos, o que é incompatível com a condição de turista. (AJ)