Cotidiano

HGR suspende 180 cirurgias por falta de material no Hemocentro

A justificativa para essa decisão foi a pouca quantidade de kits sorológicos no Hemocentro para análise laboratorial do sangue

Pelo menos 180 pessoas que estavam com cirurgias eletivas marcadas no Hospital Geral de Roraima (HGR), desde quarta-feira, 12, até a segunda-feira, 17, terão que aguentar a dor e o sofrimento devido à suspensão de cirurgias pela direção-geral do HGR durante seis dias. Segundo nota enviada pela assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), a decisão se deu para garantir a realização dos atendimentos de urgência, que envolvem risco iminente de morte. As cirurgias de urgência serão mantidas normalmente.
A decisão foi baseada no pouco quantitativo existente de kits sorológicos, material utilizado para análise laboratorial do sangue para HIV, hepatites B e C, sífilis, doença de chagas e malária, disponíveis no Hemocentro de Roraima. A quantidade que há lá é somente para garantir as demandas que colocam em risco a vida dos pacientes que dão entrada nos hospitais de referência e que precisem de cirurgias de urgência.
De acordo com a Coordenação-Geral de Atenção Especializada, o abastecimento dos kits deve ocorrer até esta sexta-feira, 14. Caso o material seja entregue antes do prazo previsto, os pacientes serão avisados. Os pacientes que aguardam por cirurgias eletivas não precisarão se deslocar à unidade para buscar novo agendamento, pois serão contatados por telefone assim que as cirurgias estiverem regularizadas.
A Sesau informou que o HGR realiza uma média de 30 cirurgias por dia, das quais a maior demanda é na área de ortopedia, a maioria relacionada a acidentes de trânsito. Além disso, a demanda de pacientes atendidos no Pronto Atendimento Airton Rocha (PAAR) e no Pronto Socorro Francisco Elesbão (PSFE), duas principais portas de entradas para casos de urgência e emergência em adultos, tem crescido significativamente, o que reflete no número de cirurgias realizadas na unidade. Juntas, as duas entradas recebem mais de 500 pacientes ao dia, principalmente no Grande Trauma.
A Sesau ressaltou que todos os casos urgentes são atendidos, uma vez que a equipe médica é preparada tecnicamente para avaliar quais casos exigem intervenção cirúrgica imediata.
OUTRO CASO – Essa não é a primeira vez que o HGR suspende as cirurgias eletivas este ano. Em 1º de agosto, o Hospital Geral de Roraima (HGR) suspendeu as internações para a realização das cirurgias consideradas menos urgentes, chamadas de eletivas. À época, a alegação apresentada foi a falta de antibióticos, essenciais para a realização das cirurgias. (R.R)
Parentes de pacientes pedem providências urgentes
A suspensão das cirurgias eletivas de pacientes que já estavam internados no Hospital Geral de Roraima revoltou parentes e amigos dos pacientes. A Folha esteve no HGR, na manhã desta quinta-feira, ouviu as queixas e presenciou o drama de pelo menos quatro pessoas que acompanham pacientes que estavam com as cirurgias marcadas mas que foram suspensas.
“Eles [a direção do hospital] não informam nada. Apenas dizem que a cirurgia foi suspensa, mas não dizem quando vai acontecer”, lamentou Elenice da Silva Santos, que está com a mãe internada há quase três meses para fazer a retirada de uma pedra nos rins. “Ela passou mais de um mês no Hospital Lotty Iris só para fazer o exame de ressonância. Como o quadro dela piorou, trouxeram-na para o HGR para fazer uma cirurgia, mas disseram que a máquina quebrou e que com 20 dias estaria pronta, mas já se passaram quase dois meses e essa máquina não funciona”, disse.
Segundo ela, a cada dia que passa a paciente está piorando e ao fazer outra ressonância, foi constatado que o caso era grave, por isso marcaram a cirurgia para esta quarta-feira. “Mas, de última hora, disseram que a operação estava cancelada e que talvez a remarcassem para a próxima segunda ou quarta-feira. Mas isso dependeria da chegada do kit para coleta de sangue”, lamentou. “Cadê as autoridades, o governador Chico Rodrigues que não está vendo o que está acontecendo? Estão mexendo com vidas humanas e queremos que providências sejam tomadas”, frisou.
O caso de Francisca Gonçalves é parecido. Segundo ela, o pai está internado há 22 dias com um tumor no crânio e outro no pulmão. “Primeiro disseram que a cirurgia dele ainda não havia sido realizada pela falta de um aparelho que serve para estancar o sangue. Depois, marcaram para o dia 20. Ele entrou no Centro Cirúrgico e, com ele lá dentro, a cirurgia foi cancelada. Será que essa cirurgia não é urgente? Ou vão esperar meu pai falecer sem ter a oportunidade de tratar-se? É lamentável essa situação e até agora não recebemos nenhum comunicado oficial. Só o que se fala nos corredores é que não há uma data certa para voltarem a fazer as cirurgias”, frisou.
Raimundo Feitosa mora na região do Paredão, Município de Mucajaí, Centro-Sul do Estado, e há 19 dias vem diariamente acompanhar a esposa, que está internada esperando fazer uma cirurgia no tornozelo. “Sofremos um acidente de moto e ela quebrou o tornozelo em dois lugares. Por duas vezes já desmarcaram a cirurgia. Lamento que as coisas tenham chegado a esse ponto, de faltar material de coletar sangue e ter que suspender cirurgias”, disse.  
Patrícia Cristina acompanha uma amiga que está com a clavícula quebrada há onze dias no HGR. “A operação estava marcada para esta quarta-feira, mas disseram que não seria mais realizada devido à falta de um kit de sangue. Isso depois de ficar sem comer até o meio-dia. Queremos que o governo tome providências urgentes”, frisou. (R.R)     
CAOS NA SAÚDE Sesau suspende serviços de manutenção em equipamentos utilizados em exame
Com pouco mais de cinco meses após o decreto de emergência na saúde do Estado e denúncia de superfaturamento de processos licitatórios, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) passa por mais um problema. Para cortar os gastos da pasta, o governo suspendeu os serviços de manutenção preventiva e corretiva de aparelhos fundamentais para tratamentos e exames.
Em um memorando assinado no dia 11 passado, o secretário de Saúde, Stênio Nascimento da Silva, determinou a suspensão da manutenção preventiva e corretiva de todos os aparelhos de endoscopia, arcos cirúrgicos, ultrassonografia, hemodinâmica, mamografia e raio-x disponíveis nas unidades de saúde do Estado. No documento, Nascimento alega que a motivação seria a adequação nas despesas da pasta. 
Com a decisão, as unidades de saúde terão dificuldades em atender a demanda, pois, sem manutenção, os aparelhos podem apresentar problemas e deixar de funcionar, ocasionando mais filas de espera por exames e tratamentos.
Além da população de Boa Vista, os moradores dos municípios de Alto Alegre, Pacaraima, São Luiz do Anauá, Normandia, Bonfim, Caracaraí e Mucajaí serão prejudicados com a falta de manutenção dos equipamentos utilizados nas unidades de saúde.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Roraima (CRM-RR), Alexandre Marques, a falta de manutenção nestes aparelhos representa riscos tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde. “Um aparelho de raio-x emite radiação. Caso esteja desregulado, pode ser prejudicial à saúde de quem opera e utiliza o equipamento”, explicou.
Marques destacou que os resultados dos exames feitos em aparelhos sem manutenção não são confiáveis. “Se não estiver a par da situação, o médico pode prescrever tratamento e medicação inapropriados para o paciente, o que pode causar problemas maiores futuramente”, disse.
SESAU – A assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que foi suspensa apenas a manutenção preventiva dos equipamentos citados. Frisou que as medidas corretivas continuam sendo realizadas sem qualquer alteração. “Se algum aparelho ou equipamento apresentar a necessidade de reparos, de forma corretiva, será feito o serviço sem prejuízo para atuação das unidades de saúde”, diz a nota enviada à Folha.
“A Coordenadoria-Geral de Urgência e Emergência (CGUE) esclarece que a decisão está pautada na necessidade atual da administração pública de conter gastos, visto que o Estado passa por dificuldades financeiras. Tão logo sejam concluídas as análises a respeito do impacto financeiro, o serviço será restabelecido”, afirmou. (I.S)