Política

Senadores criticam envolvimento de Jucá na delação da Odebrecht

Ângela Portela e Telmário Mota dizem que citação do senador roraimense em delação representa um momento ruim para o Estado

Líder do governo Temer no Congresso, o senador Romero Jucá (PMDB) é um dos citados pelo ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho, em sua delação premiada, conforme foi divulgado neste fim de semana pela imprensa nacional. Após as divulgações, os senadores de Roraima se posicionaram sobre o caso.

Para a senadora Ângela Portela (PT), é muito ruim para o Estado ter um senador suspeito de envolvimento em tantos casos de corrupção. “Como um cidadão roraimense, que convive com tantas dificuldades, reage ao saber que um de seus representantes em Brasília é acusado de receber R$ 22 milhões de uma empreiteira e, por isso, defende com todo vigor os interesses dessa empresa? Em vez de ter alguém que o defenda no Senado? Isso é lamentável”.

A parlamentar afirmou que tem cobrado celeridade do Supremo Tribunal Federal no julgamento de autoridades. “Esse senador, por exemplo, segue circulando pelos corredores do poder como se não estivesse acontecendo nada. E o que é pior: ainda se acha no direito de defender a aprovação de projetos que limitam as investigações, como o de abuso de autoridade, ou que cortam direitos das pessoas mais pobres, como a PEC 55 e a Reforma da Previdência. Ele devia se preocupar mais em se explicar na Justiça”, destacou a senadora.

O senador Telmário Mota (PDT) afirmou que tem preocupação com a situação que hoje se encontra o Senado após a delação. “Eu vejo com tristeza e preocupação essa delação mostrando tramas e influências usadas para facilitar a vida de empresas. É muito triste”, disse.

Mota disse que o povo de Roraima deve ficar atento a tantas citações. “Roraima perde com isso. É lamentável tanta influência em tantos governos não ser usada para melhorar a vida das pessoas, para ajudar mais o Estado de Roraima. Essa é a hora do governo mostrar transparência, punir culpados e não perder credibilidade”.

DIVULGAÇÕES – De acordo com reportagens divulgadas pelo Jornal Nacional e pelo jornal O Globo, o delator afirma que os pagamentos feitos pela empreiteira a Jucá ultrapassaram R$ 22 milhões. O senador é chamado pelo lobista da empreiteira de o “Resolvedor da República no Congresso” e tem o codinome de “Caju”.

DEFESA – Jucá, em nota divulgada para a imprensa nacional, disse desconhecer a delação e nega ter recebido recursos para o PMDB. Jucá também diz na nota que todos os recursos da empresa ao partido foram legais e que ele, na condição de líder do governo, sempre tratou com várias empresas, mas em relação à articulação de projetos que tramitavam na Casa.

Confira trechos da delação

* “O pagamento que o senador Romero Jucá solicitou foi aprovado por Carlos Souza, que autorizou junto à área de operações estruturadas, conforme e-mail datado de 27 de abril de 2012. Esse pagamento foi feito em contrapartida ao decisivo apoio dado pelo senador Romero Jucá durante o trâmite do PRS 72/2010. Acredito que o valor total desses pagamentos seja da ordem de R$ 4.000.000,00, embora não me recorde com precisão. Esses pagamentos, segundo me foi dito por Romero Jucá, não seriam apenas para ele, mas também, como já havia ocorrido em outras oportunidades, para Renan Calheiros.”

* “No mais, todos os assuntos que tratei no Congresso se iniciaram através de Romero Jucá. Na maioria das vezes, não tratava com mais ninguém. Normalmente, me dirigia a ele, que me orientava sobre quais passos adotar e quais parlamentares seriam acionados. Romero Jucá agia em nome próprio e do grupo político que representava, formado por Renan Calheiros, Eunício Oliveira e membros do PMDB. Jucá era o Líder do Governo no Senado e, embora não falasse pelo Governo, falava com o
Governo. Os assuntos que começavam com ele avançavam ou se encerravam diretamente com ele”.

* “Passei a tratar os temas preferencialmente com Romero Jucá, que exercia função de liderança e representação sobre os demais Senadores, especialmente aqueles do PMDB. Exatamente por essa posição destacada, o senador Romero Jucá, no meu entendimento, é o principal responsável pela arrecadação de recursos financeiros dentro do grupo do PMDB no Senado. Dedico a ele um relato à parte exclusivo, pois foi ele o meu principal interlocutor dentro do Senado Federal. A minha experiência deixou claro que o Senador Romero Jucá centralizava o recebimento de pagamentos e distribuía os valores internamente no grupo do PMDB do Senado Federal, especificamente, no que posso atestar com total segurança, no que diz respeito aos Senadores Renan Calheiros e Eunício Oliveira”.

PMDB se une contra o que a sigla chama de ‘divulgação criminosa’

O presidente do PMDB, senador Romero Jucá, fez duras críticas, em nota aos integrantes do partido, ao vazamento do acordo de delação premiada do ex-executivo da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, que acusou o presidente Michel Temer e membros da alta cúpula do governo de participarem do esquema de corrupção da Petrobras.

Para Jucá, a divulgação do depoimento foi “criminosa”. “O PMDB condena a irresponsável divulgação de declarações que não refletem a verdade”, afirma o texto divulgado pelo peemedebista aos correligionários e à imprensa. Jucá afirma que o PMDB “exige esclarecimentos” sobre o episódio, já que a delação foi divulgada na íntegra antes de ter sido homologada.

Temer traçou uma estratégia com a base no final de semana para questionar a legalidade de divulgação da delação. “O PMDB não cometeu nenhum tipo de erro em relação a recursos de campanha, sempre agiu de forma responsável e legal e teve todas suas contas aprovadas. Portanto, o PMDB não teme nenhum tipo de investigação”, diz Jucá na nota. Aos correligionários, ele também saiu em defesa de Temer. “O presidente Michel Temer tem exercido na sua plenitude o compromisso de recuperar o Brasil”, afirmou.

Romero Jucá pede ainda a união do partido para “enfrentar todas as ondas de boatos, ataques e tentativas de manobrar com fatos forjados a criação de um clima de instabilidade do País”.