Cotidiano

Indígenas mantêm interdição de posto de combustível na fronteira com a Venezuela

Um grupo de indígenas venezuelanos da comunidade San Antonio del Morichal, na fronteira com o Brasil, ocuparam o posto de combustível internacional e estão impedindo seu funcionamento  desde 07 de novembro. Eles reivindicam melhores condições de trabalho para os frentistas e apoio à comunidade. A medida tem afetado os moradores de Pacaraima, Norte do Estado, e turistas de Boa Vista e Manaus (AM).
O posto, que atende veículos brasileiros na fronteira, está dentro de uma área indígena, nas terras da comunidade San Antonio del Morichal, habitada pela etnia Pemon-Taurepang. Eles estão dormindo no local e impedindo a venda de combustível.
Enquanto isso, esperam a presença dos executivos de Petróleos da Venezuela (PDVSA) para chegar a um acordo. O administrador do posto disse que não tem autorização para falar à imprensa sobre o fato. O tuxaua da comunidade, Renny Lot, explicou que a empresa deveria fazer doações à comunidade, como pagamento pelo terreno, mas o acordo nunca foi cumprido.
Todos os funcionários do posto são indígenas, graças a outro acordo feito pela comunidade e a administração. Um dos motivos da interdição seria a falta de pagamento de plano de saúde a esses trabalhadores, conforme afirmou o tuxaua. “Os frentistas estão adoecendo devido à inalação do combustível e não têm onde se tratar, não temos nenhum tipo de atendimento em saúde. Tem um internado há cinco dias com intoxicação”, disse.
De acordo com Renny Lot, a data limite para chegar a um acordo é dia 29 deste mês, quando foi marcada uma reunião com os representantes da PDVSA. Enquanto isso, moradores de Pacaraima já tiveram que parar seus carros e os taxistas que fazem a rota intermunicipal para Boa Vista estão pensando em aumentar o preço da passagem, pois passaram a abastecer em Boa Vista.
Segundo o taxista Vicente Ribeiro, da Cooperativa de Transporte Alternativo de Pacaraima, a situação está crítica no município, pois 50 % da frota já pararam de trabalhar por falta de combustível e vão esperar esta semana. Se não for resolvido o problema, irão conversar com o prefeito e vereadores para pedir um aumento do valor da tarifa, pois estão sendo obrigados a completar o tanque em Boa Vista.
“Alguns taxistas ainda estão trabalhando porque tinham estoque de combustível em casa, pois de vez em quando falta no posto. Estamos completando o tanque em Boa Vista e, nesta semana, não terá mais jeito, teremos que trabalhar com gasolina de lá. Assim será impossível manter o preço de R$30,00 que cobramos atualmente”, salientou.
Questionados se estariam abastecendo em Santa Elena, os cooperados falaram que preferem não se arriscar, já que é ilegal e, se forem pegos lá dentro abastecendo desta forma, podem ser presos.
TRANSTORNOS – Alguns turistas que passam pela fronteira com destino às praias venezuelanas também foram pegos de surpresa ao chegar e não ter onde abastecer. Todos dizem que têm medo de procurar combustível de forma ilegal em Santa Elena, e o posto mais perto da cidade onde os brasileiros podem abastecer livremente fica a aproximadamente 160 quilômetros.
Neste final de semana, vários brasileiros que não sabiam da situação do posto procuravam combustível em Pacaraima para poder voltar a Boa Vista. Os moradores de Pacaraima também têm sofrido transtornos, rodando o mínimo possível para render o combustível e muitas vezes tendo que comprar ilegalmente para ir a Boa Vista. Alguns dizem que têm venezuelanos conhecidos que fornecem gasolina, mas outros afirmam que não gostam nem de ir a Santa Elena, pois sentem medo.
MANIFESTAÇÕES – Além do posto, os indígenas estão ameaçando bloquear a estrada que dá acesso a outras cidades da Venezuela, ou seja, a saída de Santa Elena. Sendo assim, nenhum veículo poderá entrar ou sair da cidade, dificultando o transporte de mercadorias para o comércio local e impedindo a entrada de caminhões pipa que abastecem os postos venezuelanos. O aeroporto de Santa Elena está interditado por indígenas de outra comunidade há 15 dias, também por estar em reserva indígena e pelo governo não ter cumprido acordos estabelecidos no passado.