Brasileiros estão sendo hostilizados em Santa Elena do Uairén, cidade venezuelana na fronteira do Brasil com a Venezuela, ao Norte de Roraima. Os venezuelanos já queimaram até carros de brasileiros. Segundo roraimenses que ficaram sitiados do lado de lá, os estrangeiros se negam a dar até um copo de água ao brasileiro que ainda não conseguiu cruzar a fronteira.
A Folha entrevistou ontem à tarde uma roraimense que viveu momentos difíceis em Santa Elena. Fisioterapeuta do Hospital Geral de Roraima (HGR), Cirrami Soares, de 43 anos, relatou que foi tratada de forma hostil e até com certo preconceito por parte dos venezuelanos. Seu drama começou na segunda-feira passada, dia 12.
“Fui para lá com três amigos para trocar um milhão e duzentos mil bolívares, que dá dois mil reais. Tinha o dinheiro venezuelano porque havia planejado viajar para lá, mas desisti devido o caos social. Chegamos em Santa Elena à tarde e cada um de nós atravessou carregando cem mil, o que era permitido. Então demos duas viagens e decidimos pernoitar por lá. O problema é que quando acordamos, a barreira já estava fechada”, relembrou.
No mesmo dia, relembra a roraimense, a notas de cem bolívares já não eram mais aceitas no comércio. Cirrami disse que por três dias foi para a fila do banco tentar o depósito, em vão. Segundo ela, apenas empresários venezuelanos conseguiam fazer a transação.
“Na quinta-feira, pouquíssimas lojas aceitavam as notas de cem, e eu ainda tinha 700 mil bolívares. A barreira permanecia fechada e eu tinha este dinheiro, mas ninguém aceitava. Então, as coisas começaram a ficar muito difíceis. Meus amigos conseguiram atravessar a pé, mas eu, sem tomar remédio há cinco dias, comecei a passar mal e fui bater no hospital de lá”, relatou.
O problema é que o hospital de lá não tem medicamento, nem faz exames. Foi quando um médico prescreveu que a paciente deveria atravessar para se tratar no Brasil. Cirrami tem diabetes e é hipertensa. Mas, apesar de ter sido autorizada pelo médico, os guardas venezuelanos não deixaram ela passar.
“Então minha família entrou em contato com o governo de Roraima e o Oleno Matos (secretário-chefe da Casa Civil) e a Verônica Caro (secretária estadual de Relações Internacionais) conseguiram intervir e eu atravessei no sábado passado em uma ambulância venezuelana”, relembrou.
Cirrami lamentou que os venezuelanos estejam tratando os brasileiros tão mal. Ela contou que os estrangeiros alegam que o presidente Nicolás Maduro mandou retirar as notas de cem de circulação por causa dos brasileiros e colombianos, que supostamente criaram uma máfia para desestabilizar o governo de lá, seguindo instruções de uma ONG norte-americana.
O carro da fisioterapeuta e 700 mil bolívares continuam na casa de uma amiga, em Santa Elena. “Nós, brasileiros, estamos tratando os venezuelanos com muito respeito e carinho aqui, mas lá eles sequer dão um copo de água para a gente, infelizmente”, lamentou.
Para ajudar os venezuelanos refugiados, o Governo de Roraima criou, este ano, o Centro de Referência ao Imigrante. No local, os estrangeiros recebem almoço, janta e tratamento médico e odontológico. Muitos já conseguiram até emprego em Boa Vista. Há dia em que mais de cem venezuelanos são atendidos no Centro.
Fronteira será aberta todo dia para brasileiros
A fronteira entre o Brasil e Venezuela, fechada por ordem do presidente Nicolás Maduro, será aberta diariamente para a passagem de pedestres brasileiros. A Secretaria de Relações Internacionais do governo de Roraima, Verônica Caro, confirmou a informação via telefone com o comandante do Exército Venezuelano em Santa Elena de Uairén, José Gregório Masantes.
A passagem de veículos deverá ser solicitada pelos proprietários dos mesmos junto ao Comando do Exército Fuerte Roraima, naquela cidade. Somente os veículos de grande porte que transportam alimentos têm passagem livre. “Queremos garantir o retorno em segurança dos brasileiros que estavam na Venezuela e ansiavam em voltar para o Brasil”, disse.
Verônica Caro lembra que é importante que se comuniquem primeiramente com a Secretaria de Relações Internacionais em Roraima ou com o Consulado Brasileiro em Santa Elena de Uairém. “Nesses dois lugares, estaremos atualizando a lista com os nomes e identidades dos turistas brasileiros e enviaremos para o comando do Exército da Venezuela, por isso é necessário que nos procurem”, ressaltou.
Para cruzar a fronteira em segurança, os brasileiros que estão na Venezuela devem fazer contato com a Secretaria de Assuntos Internacionais pelo fone +55 95 99146 9977 ou pelo número da Venezuela 0414 845 8850 para colocar o nome na lista.