A aposentada Maria José do Rosário, de 71 anos, moradora da rua Pedro Aldemar Bantin, no bairro Doutor Sílvio Botelho, zona Oeste, passou momentos difíceis na noite da última segunda-feira, dia 19. A neta, de sete anos, teve febre alta, de 40°, mas a avó, que mora a uma quadra de uma farmácia, não pôde comprar Paracetamol, que faz baixar a febre. É que a farmácia da esquina estava fechada, obedecendo a uma escala de plantão de 24h, montada pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), em parceria com o Sindicato das Farmácias de Roraima (Sindifarma).
“Bati até na porta da farmácia, mas o dono não mora lá. Então, desesperada, sem ter como ir à farmácia aberta 24h no Centro, tive que recorrer aos vizinhos. Um deles me atendeu e me deu Paracetamol. Minha neta tomou banho e depois, o remédio. A febre baixou e no dia seguinte levei ela ao posto de saúde. Estava com virose”, relembrou a aposentada.
O aperreio vivido por dona Maria José é porque a Prefeitura de Boa Vista sancionou, no mês passado, a lei nº 1.718/2016, que alterou o horário de funcionamento das farmácias na Capital. Agora, as drogarias ficam abertas de 7h às 23h, de segunda-feira a sábado, e de 7h às 20h, aos domingos e feriados.
Fora dos horários, a lei municipal proíbe o funcionamento das demais farmácias que não estejam na escala de plantão. Por isso que dona Maria José não pôde comprar o remédio da neta na esquina de sua casa. “Se não fosse o vizinho, minha neta teria uma convulsão. Foi difícil ver minha menina tremendo e gemendo de tanta febre”, relatou.
A lei municipal também estabelece o número mínimo de seis farmácias plantonista por noite, mas os próprios farmacêuticos dizem que apenas duas ficam abertas 24h, o que não é suficiente para atender a população. A escala de plantão deve ser ajustada pelo Sindicato do Comércio da Indústria Farmacêutica de Roraima (Sindifarma), sob a fiscalização da Semsa.
Miguel Alves, de 38 anos, balconista de uma farmácia na esquina das ruas Pedro Aldemar Bantin com a Izídio Galdino, no bairro Doutor Sílvio Botelho, zona Oeste, disse que a farmácia onde trabalha funciona até as 21h, mas que cada uma tem o seu horário, até as 23h. “Todo dia fica uma farmácia de plantão. Amanhã (hoje, dia 23), esta daqui estará escalada para ficar no plantão de 24h”, adiantou o balconista.
Boa Vista tem mais de 300 farmácias e uma população acima de 300 mil habitantes. Farmacêuticos e os próprios boa-vistenses reclamam que mesmo seis farmácias escaladas por noite no plantão, o número não é suficiente para atender à demanda. A reclamação ocorre porque o morador da zona Oeste, por exemplo, não tem como ir à zona Leste, do outro lado da cidade, na madrugada comprar remédio.
Na rua Flamboian, no bairro Jardim Primavera, zona Oeste, a reclamação é a mesma. A farmácia da esquina fecha às 21h. O balconista, Ananias Pereira Almeida, de 64 anos, disse que pela última escala, duas farmácias ficam no plantão de 24h por dia, o que não atende a população.
O consultor de vendas Ronilson Leal, de 33 anos, balconista de uma farmácia na avenida Canis Maior, no bairro Cidade Satélite, zona Oeste, confirmou a reduzida escala de plantão, mas fez uma colocação importante. “E a segurança?”, questionou.
A farmácia onde Ronilson trabalha já foi assaltada três vezes. “Precisamos de segurança para ficar aberto 24h. Talvez por isso os donos de farmácia preferem fechar às 22h ou 23h. Trabalhamos à mercê dos bandidos”, lamentou.
Policiais militares que faziam ontem à tarde ronda naquele bairro informaram à reportagem da Folha que à noite eles intensificam o trabalho para evitar roubos, furtos, tráfico de drogas e outros crimes naquele setor da cidade. O número de assaltos, segundo a Polícia, vem caindo no bairro Cidade Satélite.
Sobre os plantões, o presidente do Sindicato das Farmácias de Roraima (Sindifarma), José Costa, confirmou que apenas duas farmácias tiram plantão de 24h. Ele admitiu que apenas duas não atendem à demanda, mas alegou a falta de segurança.
“A escala coloca uma farmácia de plantão da avenida São Sebastião para lá, e outra para cá. Então fica uma para cada lado da cidade. A venda nesses estabelecimentos é esporádica, muito baixa neste horário, e o risco de assalto é muito grande. Deve-se levar isso em consideração. Temos que ver ainda que à noite, na madrugada, os pronto-socorros atendem situações de emergência”, observou o presidente. (AJ)
Secretaria Municipal de Finanças é responsável pela fiscalização
Sobre fiscalização do horário de funcionamento das farmácias, a Prefeitura de Boa Vista informa que a escala de plantão é elaborada pelo Sindicato das Farmácias em consonância com as farmácias da cidade. A fiscalização da abertura está a cargo da Secretaria de Finanças que é quem aprova o horário de funcionamento das farmácias. A fiscalização é feita por meio de denúncias na Central 156. A Secretaria de Finanças ressalta que até o momento não recebeu reclamações sobre a falta de plantão, mas irá averiguar a denúncia. (AJ)