Cotidiano

Eletrobras confirma que ficará só com 350 funcionários da Cerr

Situação da outra metade dos 700 servidores da Cerr será definida pelo Governo do Estado, conforme afirmou diretor da Eletrobras

Dos 700 funcionários a Companhia Energética de Roraima (Cerr), apenas a metade será recontratada nos próximos três meses pela Eletrobras Distribuição Roraima, empresa que, além da Capital, agora também é responsável pelo fornecimento de energia no interior do Estado. A situação dos outros 350 servidores da empresa ainda está indefinida.

O diretor-presidente da Eletrobras, Anselmo Brasil, em entrevista à Folha, disse ontem que só precisa da metade dos funcionários da Cerr para prestar um serviço padrão no interior do Estado igual ao prestado na Capital. Sobre os demais trabalhadores, ele se eximiu de qualquer responsabilidade, alegando que o Governo do Estado é quem decidirá o futuro deles, se serão remanejados ou demitidos.

“O padrão Eletrobras é um padrão de Brasil. Focamos para a prestação de serviço ao consumidor. E é este padrão que colocaremos para todo o Estado com esta devida quantidade de servidores. Em três meses solicitaremos da Cerr esses 350 funcionários, que passarão a ser da nossa responsabilidade. Agora, sobre a situação dos demais, isso não compete à Eletrobras”, ressaltou.

Brasil afirmou que toda decisão está sendo tomada de acordo com a lei e que os órgãos públicos estão “em cima”, fiscalizando toda e qualquer decisão da direção da empresa. Os servidores que estão sendo solicitados, segundo o diretor, serão contratados por empresas terceirizadas que prestam serviço à Eletrobras. No caso dos concursados, a Eletrobras vai pagar o salário deles ao Governo do Estado.

“É bom ficar claro que estamos solicitando os servidores por indicação técnica, de acordo com a necessidade de cada área nossa. Aqui não há indicação política e esses que vão trabalhar aqui vão receber em dia”, frisou.

CONSUMIDORES – Além da Capital, a Eletrobras terá agora mais 40 mil consumidores em 120 comunidades, entre vilas e sedes, no interior do Estado. São 174 geradores de energia e parques térmicos sob nova administração. Para prestar um serviço mais eficiente, Anselmo Brasil disse que a Eletrobras dividiu o trabalho em quatro regionais.

“Em até três meses, vamos normalizar a prestação de serviço no interior do Estado. O que o consumidor da Capital paga vai ser o que o consumidor do interior vai pagar”, adiantou. Para melhorar a prestação do serviço, o diretor avisou que a Eletrobras já adquiriu equipamentos novos, que somam um investimento inicial de R$ 9 milhões. Até o final deste ano, a previsão é que a empresa invista R$ 100 milhões.

“Nosso interesse maior é a prestação de serviço. A responsabilidade então começa aqui, a partir do dia 1º de janeiro. Aguardamos apenas o levantamento patrimonial da Cerr, que deve ser feito pelo Governo do Estado nos próximos dias, para depois negociarmos os créditos da companhia”.

O levantamento do patrimônio da Cerr – que é sua linha de rede de transmissão, prédios, motores, parques geradores, carros e outros – é que vai definir quanto à companhia vale e se este valor vai cobrir suas dívidas. Anselmo Brasil lembrou, por exemplo, que a Cerr tem R$ 100 milhões para receber de crédito da conta de combustível, mas apenas com a própria Eletrobras tem um débito de R$ 80 milhões. Os empréstimos da Cerr feitos pelo então governador Anchieta Júnior ultrapassaram meio bilhão de reais.

Ao final da entrevista, o diretor-presidente pediu para que o sindicato dos servidores da Cerr (Urbanitários) “pare de fazer tumulto” e que seus dirigentes sentem-se para encontrar uma saída viável e assim minimizar a situação de seus sindicalizados. “Vem sendo noticiado nas redes sociais que vão queimar motores no interior, que vão destruir isso e aquilo. Já dei notícia crime na Polícia Federal que monitora as redes sociais. Tem que sentar e discutir o interesse dos empregados”, frisou Brasil.

SECOM – Sobre como ficará a situação dos outros servidores da Cerr, que não forem selecionados pela Eletrobras, a Folha enviou e-mail à Secretaria de Comunicação do Governo do Estado, mas o diretor-presidente da companhia avisou que só poderá atender hoje. A entrevista foi marcada para esta manhã. (AJ)

‘Tudo não passa de engodo’, diz sindicalista da categoria

O diretor-financeiro do Sindicato dos Urbanitários, João do Povo, disse que “tudo não passa de engodo” para amenizar a situação dos trabalhadores da Cerr que serão demitidos nos próximos meses. O sindicalista frisou que nenhum desses servidores, seja concursado, terceirizado ou comissionado, fará parte do quadro federal da Eletrobras, “como estão especulando”.

 “Os concursados do Estado serão apenas emprestados por um período para esta empresa, mas depois que repassarem o serviço, ensinarem o que sabem, serão demitidos também”, frisou o sindicalista ao destacar que a Cerr tem 82 servidores concursados, 35 funcionários do ex-Território (também estabilizados), comissionados e terceirizados. “Primeiro serão demitidos os comissionados. Depois quem trabalha com contrato de prestador de serviço. Neste caso, tem gente até com 20 anos de carteira assinada”.

Para evitar demissão em massa, que já poderia ocorrer a partir deste mês, o sindicato entrou na Justiça e conseguiu brecar a manobra, segundo João do Povo, que iria colocar centenas de pais de família na rua. Também para garantir o pagamento dos direitos trabalhistas de quem for demitido, a entidade sindical entrou com outra ação na Justiça pedindo a penhora dos bens da Cerr.

“É bom lembrar que a companhia não cumpre o acordo coletivo feito com a categoria, e isso prejudica o trabalhador não concursado, apesar de o acordo prever tratamento igual para todos os servidores. Por isso, o próximo passo do sindicato será entrar com outra ação na Justiça exigindo o cumprimento deste acordo coletivo para todos os servidores”, adiantou.

Sobre o próximo pagamento de salário, o sindicalista lamentou não ter certeza se todos os servidores da Cerr vão receber. “Estaremos acompanhando este processo todo na Cerr e, se for necessário, novamente entraremos na Justiça para garantir os direitos trabalhistas dos trabalhadores”, frisou João do Povo. (AJ)