A violência afeta a todos, seja de forma direta ou através da sensação de insegurança. Esse contato interfere na saúde mental das pessoas. Aproximadamente, de 15% a 20% das pessoas que sofreram ou estiveram ligadas a algum destes eventos violentos desenvolvem transtorno de estresse pós-traumático.
O psiquiatra explica que a violência e suas consequências na saúde mental foram estudadas principalmente após a segunda guerra mundial nos veteranos de guerra. Os psiquiatras da época criaram critérios diagnósticos para o transtorno de estresse pós-traumático.
“Os países ditos desenvolvidos atualmente estudam as consequências da violência principalmente sobre questões de ataques terroristas, no contexto brasileiro os estudos se baseiam na violência urbana, principalmente das grandes cidades, como assaltos, sequestros, mortes e abusos sexuais”, explica.
Entre os sintomas daqueles que sofreram com a violência, estão Flashbacks que revivem o trauma diversas vezes, acompanhado de sintomas físicos como coração acelerado e suor excessivo; pensamentos assustadores; pesadelos; esquiva e isolamento social. “A pessoa começa a se isolar de pessoas e situações a fim de evitar relembrar a experiência do trauma. Além de distúrbios do sono e sentimentos negativos e impotência”, explica o especialista.
A estimativa é que 10% das pessoas com o transtorno de estresse pós-traumático não conseguem superar, evoluindo para sintomas de amortecimento, memórias repetidas e hipervigilância.
“Quando os sintomas persistem por mais de 2 anos, sua incidência passa a ser considerada uma modificação duradoura da personalidade”, completa.
A população também sofre de maneira indireta, segundo estatísticas divulgadas recentemente. No Relatório Global sobre Assentamentos Humanos, do Programa das Nações Unidas (ONU) para Assentamentos Urbanos, 70% dos brasileiros se sentem inseguros.
“A violência afeta diretamente nosso cotidiano, impondo restrições e sofrimento, sendo, sem dúvida, uma das maiores causas de prejuízo à sociedade, com consequências importantes na saúde física e mental da população. O tema tornou-se matéria diária dos noticiários trazendo uma sensação de imobilidade, como se nada pudesse ser feito para mudar este cenário”, explica.
Segundo o médico, o medo do crime está associado à violência, à sensação de insegurança, aos registros oficiais de mortes e violências e aos frequentes assuntos envolvendo estes temas nos jornais e noticiários. “A violência representa um importante problema de saúde pública devido aos efeitos que acarretam, sobretudo na saúde mental dos habitantes de grandes cidades”, ressalta o médico.
Em situações ideais, uma pessoa que se depara com uma situação de agressão, vivencia uma alta intensidade de estresse no momento e logo depois do evento, mas tende a ir voltando ao seu padrão de funcionamento com o passar do tempo.
Cada pessoa em situação de Estresse Pós Traumático necessita de uma atenção cuidadosa, pois suas reações têm relação com a sua história de vida, sua capacidade de lidar com sentimentos e emoções, o impacto que a experiência teve em sua vida e a qualidade de suas experiências de vida dali para frente.
“A intervenção terapêutica é um recurso necessário para que a pessoa possa reorganizar seu padrão de funcionamento e continuar seu processo de vida de modo mais saudável. É possível sentir e ver o mundo diferente, sair da situação de sofrimento constante, através da realização de mudanças nos padrões de distresse organizados”, reforça o médico.