O setor agropecuário é o único da economia brasileira que vem suportando a crise e continua a crescer. É o setor que tem apresentado bons resultados em todo país. Em Roraima, a agropecuária é responsável por mais da metade da economia e está presente todos os dias em nossas vidas, em nossas mesas. Dentro deste setor, a piscicultura é uma das mais pujantes.
Só para se ter ideia, por ano são produzidos mais de três milhões de alevinos apenas pela Agropecuária Acordi, no bairro Piscicultura, na zona Oeste de Boa Vista. A produção quase toda é exportada. Mais de 70% vão para outros estados do Norte, Centro-Oeste e Sudeste do País. A produção local também já alcançou o mercado internacional e hoje os alevinos criados aqui são vendidos para Guiana e Suriname.
Mas no começo foi difícil. O empresário Paulo Acordi, dono da Agropecuária, lembra que enfrentou, e ainda enfrenta, inúmeros desafios, entre eles a concorrência desleal praticada por outros criadores regionais de peixe, que recebem subsídios do setor público e gastam menos, muito menos com ração, outros insumos e frete.
“Nós e Porto Velho [RO] disputamos o mercado manauara, que é um dos maiores da região. Mas os criadores de lá gastam pouco porque produzem suas rações e pagam menos pelo frete. Nós, não. Aqui o preço da ração subiu, a energia elétrica aumentou e os impostos também. Nosso peixe é vendido com o mesmo preço do de lá, mas gastamos o dobro na criação de alevinos e com a engorda de peixes”, frisou.
Não bastasse a concorrência desleal, o pecuarista ainda teve que enfrentar outro problema muito comum para quem pensa em investir em Roraima: a titulação da terra. Acordi lembra que começou o negócio há 25 anos na estação Piscicultura, que era uma subestação do Governo Federal, e que até hoje aguarda a documentação do imóvel.
“Nunca recebi uma ajuda sequer de governo. Cheguei aqui em 1990 e dei entrada na documentação. Passei 15 anos pagando pela subestação. O processo já passou pelo MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário] e agora está sendo finalizado no Iteraima [Instituto de Terras de Roraima]”, ressaltou.
A subestação Piscicultura faz parte do centro de reprodução de alevinos formado por 60 tanques que produzem por ano mais de 3 milhões de filhotes de peixe Piau, Tambaqui, Matrinxã, Curimatã e peixes de couro, como o Surubim, Caparari e Jundiá. Grande parte da produção, cerca de 70%, é exportada para o Amazonas, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Para a engorda do peixe grande, o agropecuarista disse que a empresa também já expandiu os negócios e hoje disputa o mercado regional do Tambaqui e da Matrinxã. “A concorrência também é desleal neste mercado. Há 15 anos vendemos o quilo do tambaqui a R$ 5,50. A ração custava R$ 25,00. O preço do peixe hoje é o mesmo, mas aração custa R$ 45,00. Não temos fábrica de ração aqui e o frete encarece a produção. Criadores de outros estados não enfrentam isso. Aí está a concorrência desleal”, frisou.
Há quatro anos, segundo o agropecuarista, o lucro da empresa girava em torno de 40%, mas hoje, com a crise financeira, não ultrapassa os 10%. “Trabalhamos quase no vermelho, mas acreditamos na recuperação da nossa economia. Vamos continuar produzindo e investindo nesta terra”, aposta o empresário. (AJ)
Cooperativa vai exportar para os EUA
O negócio dos peixes em Roraima se expandirá com o beneficiamento do pescado. O presidente da Cooperativa dos Piscicultores de Roraima (Coopeixe), Paulo Acordi, adiantou que a entidade já arrendou o frigorífico do Estado, no Distrito Industrial, zona Sul da Capital, onde começará no próximo mês a beneficiar o pescado regional para exportá-lo para as regiões Centro-Oeste e Sudeste do país.
“Trabalharemos com peixe de até um quilo. Exportaremos polpa, picadinho e filé. Também vamos começar a exportar peixe sem espinha e sem víscera. Já estão certos os mercados internacionais do Suriname e dos Estados Unidos”, adiantou o presidente da Coopeixe. (AJ)
Restaurante fatura com avenda de tambaqui assado
Parte da produção do pescado regional vai parar na mesa do boa-vistense e quem investe no ramo garante que, apesar da crise, o negócio é rentável e o lucro é certo. O peixe, preferencialmente o tambaqui, já faz parte da culinária macuxi e o movimento nos restaurantes da cidade não para.
O microempresário Patrício Aguiar, de 40 anos, há um ano e meio gerencia o restaurante Assadão do Peixe, na Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes, no bairro Mecejana, zona Oeste. As vendas, segundo ele, melhoram após o dia 15 de cada mês. Seu lucro atual é de R$ 4 mil mensalmente. “Estou há mais de um ano neste ramo e o movimento é bom. O que ganho dá para pagar as contas e os funcionários”, frisou o microempresário.
Por dia, Aguiar vende uma média de 25 bandas de tambaqui, de R$ 20 e R$ 25. Ele atende uma média de 50 clientes por dia em seu restaurante e ainda faz entrega de marmita em domicílio.
Entre as dificuldades em meio à crise, o microempresário reclama da falta de mão de obra qualificada. “É difícil encontrar funcionário que saiba atender. É preciso se qualificar. Este é hoje o meu maior desafio. Mas, em relação às vendas, melhoram a cada dia”, ressaltou o dono do Assadão.
A auxiliar de enfermagem Jussara Gomes, de 38 anos, que trabalha no Hospital Geral de Roraima (HGR), almoçou ontem uma banda de tambaqui no Assadão do Peixe. Ela e mais três amigas pagaram R$ 20,00. “Saiu barato e garanto que vale a pena. O peixe é feito na hora e vem acompanhado com várias opções”, frisou. (AJ)