Cotidiano

Sobe para 29 o número de foragidos da PAMC

Após contagem, agentes revelam que 29 presos fugiram por buraco no chão, e não 10 como divulgou o Governo do Estado

A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) informou, esta semana, que 10 presos fugiram da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (PAMC), zona Rural, na madrugada da última terça-feira, dia 25, mas após contagem, ontem à tarde, os agentes descobriram que, na verdade, 29 detentos conseguiram escapar. Até ontem à noite, quatro já haviam sido recapturados.
A Sejuc também informou que os presos saíram pela carceragem, na frente da Penitenciária, mas os agentes mais uma vez desmentiram a informação e afirmaram que a fuga em massa ocorreu por um buraco cavado ao lado do muro direito da unidade, perto da guarita.
“Eles cavaram o buraco só para passar por debaixo do muro. Não houve vigilância esta semana naquela guarita. Os presos estouraram o cadeado da ala 4, pularam o muro interno e chegaram à muralha. O buraco já estava feito. Então, saíram sem problema”, relatou um agente, que preferiu não se identificar.
No dia 10 passado, o governador Chico Rodrigues (PSB) assinou decreto e criou a Força Tarefa de Apoio ao Sistema Penitenciário de Roraima. Entre as medidas, Chico determinava que pelo menos dez guaritas fossem ativadas na PAMC. Ontem à tarde, apenas cinco funcionavam.
Policiais militares, que também preferiram não se identificar, informaram à Folha que apenas 20 PMs faziam a guarda na Penitenciária ontem à tarde, número insuficiente, segundo eles, para garantir a ordem e a segurança no local. A Folha também descobriu que dos 30 homens da Força Nacional, apenas dez são escalados por dia para reforçar a segurança na unidade.
“Não há reforço na segurança. A cada dia, apenas dez policiais da Força Nacional acompanham o trabalho dos agentes penitenciários dentro da unidade. Depois, vão embora”, revelou um agente. Ainda ontem à tarde, a equipe de plantão era composta por nove agentes penitenciários, número também muito abaixo do necessário.
“Veja bem, os presos quebraram o cadeado da ala 4, pularam dois muros aqui dentro e fugiram pelo buraco cavado no pé do muro. Este buraco foi cavado durante esta semana. E ninguém viu isso? A bandidagem voltou a controlar o sistema”, lamentou o agente.
A Penitenciária Agrícola tem capacidade para 750 presos, mas atualmente comporta cerca de 1.100, distribuídos em 19 alas. Apenas 30 homens, entre agentes e policiais militares, tentam manter a ordem no local. “A gente se torna refém do próprio sistema. Como 30 homens vão segurar mais de mil presos, sendo a maioria de alta periculosidade. O que fazemos? A gente vira a cara para o outro lado e finge que não vê”, relatou.
O agente fez os cálculos e informou que cada um deles teria que tomar conta de 37 presos. “Não tem condições, por isso eles [os presos] mandam e desmandam aqui. Eles fazem a regra e dão as cartas. A gente não pode fazer nada. Infelizmente, também estamos na mão dos bandidos”, lamentou.
RETALIAÇÃO – Agentes do setor de Inteligência da Polícia investigam uma possível investida dos criminosos que fugiram esta semana da penitenciária. Segundo fontes da Folha, os foragidos estariam planejando ataques na capital e interior, em represália à transferência de 11 detentos, no dia 8 passado, da PAMC a um presídio federal de segurança máxima, em Mato Grosso (MT).
Os ataques, ainda segundo os agentes, estariam sendo planejados por membros da organização criminosa denominada ‘Primeiro Comando da Capital’ (PCC), que atua em todo País. Até ontem à tarde, quatro foragidos já haviam sido recapturados. (A.J)
Presos que fugiram da PAMC na terça-feira:
EDMAR SANTOS CARMONA FRANCISCO VENTURA DE SOUZA , vulgo Amazonas OZAIR GALVAO MENDES PEDRO PINTO DE SOUZA, vulgo Pedrinho MIQUEIAS DA SILVA FREITAS FRANCISCO ALMEIDA DA COSTA NETO, vulgo Neto JOSE RODRIGUES DE SOUZA FILHO, vulgo Zezinho FELIPE KENNEDY DE SOUZA FILHO, vulgo Paulinho ANGELINO RIBEIRO GOMES BARBOSA, vulgo Cabeção JAILTON CARNEIRO, vulgo D2 JONNISON DA SILVA MARQUES SEBASTIAO SANTOS SOBRAL FILHO, vulgo Sobralzinho MARCELO DE OLIVEIRA MACEDO, vulgo Marcelo Tatuado OSVALDO NOGUEIRA FILHO DIOGO EDUARDO DA SILVA, vulgo Bidão ROGIER VEGAS DE CASTRO, vulgo Peixe (suposto integrante do PCC) SERGIO DA SILVA CARVALHO, vulgo Capitão HERCULANO SANTOS DE SOUZA, vulgo Cabeção CARLOS ALBERTO DE SOUZA, vulgo Irmão (acusado de matar o Rogério do BC) MARCIANO RAMOS DE LIMA MOISES JHONATAN ALVES FERNANDES EDSON DOS SANTOS SILVA, vulgo Cantor DHEMISON ALMEIDA CASTRO, vulgo Iaiá ISRAEL SAMPAIO TUIRA, vulgo Fabian JOSE ROBERTO BATISTA PEREIRA, vulgo Zé Roberto
Presos já recapturados:
ADENILSON PEREIRA DE ALMEIDA, vulgo Dois Cu FABIO DE MATOS PEREIRA TAILON DA COSTA PINTO EDVAN NADSON DA SILVA MELO
Governador novamente promete reforço na PAMC
No dia 5 de julho passado, sob forte pressão, o governador Chico Rodrigues decretou o ‘Choque de Ordem’, mas a medida não conseguiu conter novas fugas em massa na PAMC.
O major Francisco Castro, do Batalhão de Operações Policias (Bope), assumiu a direção da Penitenciária e o coronel Dagoberto Gonçalves assumiu a Polícia Militar. Na Sejuc, Natanael Nascimento foi empossado como secretário, no lugar de Waney Vieira.
Na ocasião, o governador prometeu mais uma vez melhorias no sistema de iluminação, implantação de vídeo-monitoramento, cercas elétricas, reforma da estrutura da muralha externa, utilização de policiamento ostensivo com cães e até a revitalização de mais guaritas.
Meses depois, o sistema novamente entrou em ‘xeque’ e a sociedade logo sentiu os reflexos com a onda de assaltos, principalmente, nos bairros da zona Oeste.
As novas fugas em massa na penitenciária então forçaram Chico a instituir uma Força Tarefa no sistema prisional. O governador ainda pediu ajuda do Governo Federal, que enviou 30 homens da Força Nacional para reforçar a segurança na PAMC.
Esta semana, após mais uma fuga em massa na Penitenciária, o governador Chico Rodrigues novamente anunciou reforço na segurança da unidade prisional, como havia anunciado outras vezes. (A.J)
Justiça determina melhorias, mas Executivo não faz
A crise no sistema prisional roraimense já se arrasta há mais de uma década. Há sete anos, o Ministério Público do Estado (MPRR) recorre à Justiça contra o Executivo na tentativa de amenizar as mazelas no cárcere, sem êxito. Os presos continuam cumprindo pena em situações degradantes e o sistema não consegue recuperar ninguém.
A superlotação nas cinco unidades prisionais do Estado é uma triste realidade já denunciada pelos promotores. O sistema prisional do Estado tem capacidade para 1.106 presos, mas atualmente comporta quase 1.800.
A situação caótica forçou os promotores, em outubro de 2005, a pedirem a interdição da Cadeia Pública de Boa Vista, no bairro São Vicente, zona Sul. A unidade tinha capacidade para 120 detentos, mas comportava mais de 400.  As estruturas física e sanitária continuam até hoje precárias.
Nos últimos anos, provocada pelos promotores, a Justiça determinou melhorias nas unidades prisionais do Estado. Entre as determinações, o Judiciário cobrou a recuperação total das instalações físicas, elétricas e hidráulicas da penitenciária, das cadeias públicas de Boa Vista e São Luiz do Anauá, no Sul do Estado.
Segundo os promotores, em vez de recorrer das decisões judiciais, protelando a realização de melhorias nos presídios em Roraima, e minimizando as péssimas condições existentes, o governo deveria cumprir seu papel legal sem que fosse necessária a intervenção do Ministério Público.
Ainda segundo os promotores, o descumprimento da Lei de Execução Penal é gritante em Roraima. Não há separação de presos por regime e nem por tipo de crime. Todos são tratados da mesma forma, cumprindo pena no mesmo estabelecimento. A lei exige a individualização da pena, onde cada caso deve ser analisado separadamente, ao contrário do que vem fazendo o Governo do Estado. (A.J)