Cotidiano

Associação faz campanha para criar Banco Comunitário em RR

O estímulo à economia local e solidária, além da formação do primeiro Banco Comunitário no Estado de gestão solidária, destinado a pessoas que atuam no comércio de bens e serviços, são os objetivos de campanha que a Associação Forte São Joaquim realizará em Roraima. A entidade, que compõe a Federação de Apoio às Associações Comunitárias do Estado de Roraima (Fanorte), espera mobilizar setores públicos, privados e a sociedade. 

O presidente da associação, Sandro Campos, disse que a inspiração para a campanha de valorização da economia solidária foi a Receita Federal. Em 2015, o comércio local tinha amargado prejuízo de R$ 2 milhões em vendas porque as pessoas preferiram comprar na Venezuela, graças à desvalorização da moeda daquele país. Somam-se a isso os que compram em outros locais e também pela internet. “Os empregos que poderiam ser gerados aqui acabam nestes outros mercados”, disse.

Uma reunião será feita na Fanorte com as associações filiadas para discutir métodos de divulgação e levantar parceiros para fomentar o tema no Estado e viabilizar o Banco Comunitário. A Câmara Municipal de Boa Vista já está ciente da ideia e a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento de Roraima (Seplan) pediu quinze dias para analisar o assunto. “A existência de bancos como esse parece ser uma novidade para o público daqui. Então, também trazemos a ideia para a imprensa, pois os empresários gostaram, mas querem saber mais sobre o projeto”, disse.

O banco, linha de frente da campanha, faz parte da chamada Economia Solidária, na qual a gestão é comandada pela própria população. As consequências são aumento da interatividade entre os comerciantes, desenvolvimento do comércio local e inclusão de pessoas consideradas vulneráveis, como as que recebem benefícios sociais ou têm pouco limite de crédito. Já são 107 bancos nesse formato no país. Em Roraima, os créditos seriam oferecidos inicialmente no sistema da Lei da Usura, de 1933: créditos de até 1% ao mês para quem não está na Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip).

CONSCIENTIZAÇÃO – Dentro da campanha está o objetivo de se criar um Fórum Social Econômico Local, a fim de orientar a comunidade sobre a economia solidária e ensiná-la a lidar com suas finanças. As reuniões acontecerão aos fins de semana. “Queremos trazer os clientes excluídos pela sociedade, pois no sistema atual, os bancos emprestam prata para quem tem ouro, ou seja, só ajudam quem já têm dinheiro”, afirmou Sandro campos.

FUNCIONAMENTO – Toda a comunidade é proprietária neste tipo de banco. A sua gestão é por uma organização de sociedade civil e a controladoria social é feita por um conselho formado pelas organizações e associações formais ou informais. Todos são escolhidos após um seminário, que também define se o conselho será consultivo ou deliberativo.

O crédito para o consumo é feito na moeda social, que é uma moeda utilizada apenas pelo comércio de bens e serviços, sem juros e com câmbio para o real. Com ela, é possível obter descontos, estimulando o seu uso pelos moradores. O Banco Palmas, o maior do tipo no Brasil, aconselha começar com apenas uma loja utilizando a moeda, para medir a aceitação do público.

O fundo solidário para compras conjuntas, outro serviço possível em um Banco Comunitário, ajuda grupos que trabalhem com o mesmo tipo de negócio (alimentação, beleza, etc.), por meio de uma lista de compras. O dinheiro pode ser devolvido em até seis meses.

Os créditos para a produção, que são dados em reais, podem ser divididos em linhas específicas para artesãos, feirantes, pequenos empreendedores, grupos de empreendimentos, pessoas que precisam fazer alguma ampliação em seu negócio, etc., nos ramos da indústria, do comércio ou dos serviços. O Banco Pérola, que atua no Sudeste do Brasil, por exemplo, ajuda muitos jovens com projetos de negócio.

As categorias dependem da realidade local, e o Banco Palmas recomenda começar com poucas opções. Este crédito é conseguido através do título OSCIP de Microcrédito, ou sem ele, mas com juros de no máximo 1% ao mês. Os bancos públicos podem ser parceiros na operação.

OPÇÃO – O seguro de vida voltado para pessoas de baixa renda é outra opção. O auxílio funeral do Banco Palmas é de R$ 1mil, a indenização por morte natural ou acidental é de R$ 3mil e há sorteios todos os meses pela Loteria Federal, chegando a R$ 5mil. O seguro também paga R$ 3mil para a família de um dono de negócio que faleceu e poderia deixar dívidas do seu empreendimento. As apólices devem estar registradas na Superintendência de Seguros Privados (Susep) e serem vendidas em parcerias com seguradoras e corretoras autorizadas.

Outro serviço do Banco Comunitário é sua atuação como correspondente do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Se estes autorizarem, os pagamentos e recebimentos que antes seriam feitos através deles poderão ser realizados dentro do Banco Comunitário. A prática aumenta o volume de recursos do Banco Comunitário e gera empregos na sua gestão. Por fim, este tipo de estabelecimento promove cursos de capacitação, reuniões e formações de trabalho, gerando empregos e desenvolvendo os funcionários dentro da comunidade. (NW)