Menos de uma semana após serem retirados à força pela Prefeitura, cerca de 200 invasores voltaram a ocupar um terreno particular localizado no bairro Cidade Satélite, zona Oeste da Capital. O terreno, que fica próximo de uma área de proteção formada por um buritizal, foi demarcado pelos ocupantes com piquetes de madeira.
A Folha foi até o terreno na tarde de ontem, 29, onde as famílias começavam a expandir a ocupação com a construção de barracos improvisados feitos com madeira e lonas. O que chamou a atenção foi a quantidade de pessoas trabalhando para demarcar cada lote. Vários carros e motos ocupavam espaço na área.
Na semana passada, fiscais da Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) e agentes da Guarda Civil Municipal fizeram a retirada dos barracos. A reintegração de posse foi uma medida adotada pela Prefeitura de Boa Vista para evitar que se criassem aglomerados sem a menor condição de habitação.
A dona de casa Saad Silva, uma das ocupantes, afirmou que a área onde estão construindo os barracos não pertence à Prefeitura. “Nos chamaram de pilantras, disseram que somos uma quadrilha, mas não somos. Esse terreno aqui tem dono e já estamos negociando para ver o que irão fazer. Sabemos que isso aqui não é da Prefeitura. Aqui é particular”, alegou.
O autônomo Eduardo Barbosa afirmou que, quem está no local é porque precisa. “Estou aqui desde o começo da invasão. Estou ajudando as pessoas a demarcar os terrenos. Se chegar alguém e mostrar o documento provando que é dono, nós iremos sair. Temos consciência que essa área aqui não é nossa ainda”.
Até mesmo famílias de venezuelanos se juntaram aos ocupantes para montar barracos no terreno. “Estamos aqui porque estamos precisando. 90% moram de aluguel. Aqui não tem galerosos, nem bandidos, têm famílias aqui. Estamos lutando por um pedaço de terra, porque queremos uma casa e uma moradia”, disse o comerciante venezuelano Jhonatan Ríbero, que levou a família para a área.
PREFEITURA – Em nota, a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) informou que as equipes de fiscalização estão combatendo intensamente a invasão. Ressaltou ainda, que irá continuar tomando todas as medidas necessárias para coibir esse tipo de prática e não deixará a invasão se consolidar.
“Contudo, esse tipo de medida requer ação coordenada com as demais entidades, que de uma forma ou de outra atuam em ações fundiárias, criminais e ambientais”, frisou. (L.G.C)
Moradores sentem-se inseguros e temem desvalorização dos imóveis
Se para uns a ocupação do terreno particular no bairro Cidade Satélite é necessidade, para outros é visto como insegurança. Moradores de casas próximas temem pelo aumento da criminalidade. “É perigoso sim. Na semana passada, um grupo desses invasores ficou rondando por aqui. A polícia chegou de repente e no momento só estava minha mulher. Tem gente que precisa e gente que não precisa. Esses que não precisam nós conhecemos na hora”, disse o autônomo Wellington da Silva.
Segundo ele, os moradores já discutiram a situação e também estão com receio de as casas desvalorizarem. “Tem a desvalorização do terreno, porque procuramos um local apropriado e investimos nosso dinheiro. Nós chegamos a conversar sobre isso, mas não sabemos o que fazer”, comentou.
Outro morador, que preferiu não se identificar, afirmou que o número de furtos dobrou após a ocupação das famílias. “O número de furtos às nossas residências dobrou depois que eles se instalaram querendo ser dono desse terreno. Hoje nossas famílias e suas crianças dividem suas calçadas com pessoas mal-intencionadas”, denunciou.
Ele cobrou providências por parte das autoridades para frear a ocupação da área. “Não aguentamos mais essa situação. Nós compramos os nossos terrenos, construímos nossas casas e muitos ainda pagam caro. Com essa invasão, os nossos imóveis vão ser desvalorizados. Pedimos encarecidamente providências, pois estamos convivendo com muito medo devido a essa situação”, frisou.