Os moradores da comunidade do Anzol procuraram a Folha para relatar que indígenas nunca viveram na região. Eles afirmam que mais de três mil famílias – que moram ali há mais de cem anos, que têm títulos e documentos da área – poderão ser prejudicadas se a demarcação da Terra Indígena for concretizada.
Um dos moradores, Cleodon Pereira de Melo, disse que a família está na região desde 1909. “Meus bisavós e avós são os pioneiros na região. São os fundadores vieram plantar tabaco e fumo. Tenho 50 anos e sou legítimo naquela área, todos vindos da Paraíba”, disse.
Eles afirmaram que foram pegos de surpresa pela decisão da Justiça Federal ao determinar que o Governo Federal, por meio da Fundação Nacional do Índio (Funai), demarque a área como Terra Indígena. “Somos pioneiros na região. Em todo este período, nunca tivemos questionamentos quanto as nossas terras virarem áreas indígenas. Não esperávamos que isto viesse a ocorrer, pois pensávamos que a situação das terras indígenas estivesse encerrada. Todo mundo tem terra suficiente para produzir”, relatou o morador.
O avô de Cleodon, que tem 86 anos, disse ainda que as famílias indígenas que apareceram na região foram levadas pelos pioneiros para o local em 1940. “O Alfredo veio com meu avô da fazenda. Meu avô deu um pedaço de terra para ele. A terra era da nossa família. Meu bisavô Francisco Melo chegou em 1909 na região e meu avô tinha 113 anos e morreu lá. Do nada, apareceram esses índios vindo da cidade, que são professores, enfermeiros, têm carros e vinham passar o fim de semana, dizendo que são donos da terra”, questionou.
As famílias informaram que os indígenas querem ampliar a Serra da Moça de modo que cubra várias fazendas, cidades e vilas. “Vai da BR-174 até o rio Uraricoera. Todas as famílias vão perder suas terras. Eles querem até a vila do Passarão”, explicou.
Os moradores afirmaram que vão propor a união da comunidade para buscar ajuda de todos os parlamentares estaduais e federais, assim como do Governo do Estado, para reverter a situação. “Lá nós temos a pecuária, que é carro forte da região, plantadores de soja, e outros grãos, além da cultura da farinha. Há uma série de atividades que ficarão inviabilizadas nesta área”, detalhou. (C.C)
Rodovias federais podem ter cerca para evitar entrada em Terras Indígenas
A construção de uma cerca de proteção ao longo das estradas federais (BRs) que atravessam áreas indígenas é outra reivindicação dos indígenas, apresentada durante a 46ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima, realizada no mês passado no Lago do Caracaranã. Roraima hoje tem 1.400 quilômetros de rodovias, incluindo a BR-174. Os líderes indígenas pediram que as empresas de eletrificação construíssem uma cerca e implantassem sistemas de segurança em todas as BRs que atravessem comunidades indígenas.
Outra reivindicação é que a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Secretaria Estadual do Índio (SEI) viabilizem um projeto de compra de arame para cercar as margens da BR-403 que interliga o entroncamento do Surumu ao Contão.
As empresas de eletrificação e manutenção de estradas devem garantir em seus orçamentos, como medida de compensação, materiais para manutenção de cercas limites das Terras Indígenas. “Queremos uma compensação dos empreendimentos de eletrificação e construções de BRs para todas as Terras Indígenas, pois estas empresas cada vez mais têm prejudicado o nosso meio ambiente e não têm compensado estes prejuízos”, afirmam os indígenas. (C.C)