As condições econômicas, dedicação à carreira, falta de um parceiro fixo, questões filosóficas ou o simples desejo de não ser mãe levam mulheres aos consultórios médicos em busca de opções para evitar uma gravidez indesejada. Pelo menos são esses os motivos alegados no consultório da ginecologista Marta Franco Finotti, membro da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
Médica há 30 anos e especialista na área de reprodução humana, Marta conversa com as pacientes quando o assunto surge. “Tem aumentado a opção por não ser mãe nas últimas duas décadas. As mulheres têm investido muito na carreira profissional, outras dizem que não querem mesmo. Acham que a rotina vai mudar, alegam que o mundo está muito violento e não é o ideal para criar um filho, não têm um parceiro e não querem uma ‘produção independente’ ”, citou.
Como hoje em dia o assunto é mais debatido e está deixando de ser um tabu, algumas mulheres expressam um arrependimento de terem tido filhos, o que não era comum antes, segundo Marta. “Elas admitem que se pudessem voltar no tempo não teriam sido mães. E as razões são inúmeras. Não só a carreira ou as dificuldades econômicas. Elas acham que a vida mudou, que a responsabilidade é muito grande. Hoje elas se sentem mais à vontade para falar isso, porque antes se sentiam excluídas, julgadas”, contou.
Casais também procuram a médica em busca de métodos contraceptivos. “São casados, têm condições financeiras, são profissionalmente bem estabelecidos, mas optam por não ter filhos”, lembrou. Nessa hora, a ginecologista sugere o congelamento de óvulos. “Muitas podem se arrepender depois. Se, no futuro, elas mudarem de ideia, terão esses óvulos garantidos. Elas precisam lembrar que o relógio biológico é infalível”, alertou.
De modo geral, a coleta de óvulos deve ser feita até os 34 anos da mulher. “A partir dessa idade, o declínio da fertilidade ainda é lento. De 37 a 40 anos, é acentuado. Depois dos 40, a queda é vertiginosa e a chance de gravidez diminui muito”, explicou Marta. “Com o passar do tempo, a quantidade de óvulos vai diminuindo e ela precisa ter guardados no mínimo 15. Às vezes, não consegue engravidar de primeira e é necessária mais uma tentativa”, explicou.
A coleta pode ser feita em óvulos fertilizados ou não, mas a Sociedade Brasileira de Reprodução Humana aconselha que seja feito sem a fecundação. Óvulos não fecundados podem ser doados ou descartados, uma vez que a mulher já os perde todo mês no período menstrual. “Nós temos uma legislação própria para os embriões, que não podem ser descartados, podem ser doados para pesquisa, para outro casal ou transplantados. Outro problema é que manter óvulos fecundados pode gerar brigas judiciais se o casal separar”, exemplificou.
Caso a mulher não queira engravidar em um determinado período de tempo, ela pode aderir a métodos contraceptivos de curta duração, como preservativos, contraceptivos orais, adesivos anticoncepcionais, anéis vaginais e injetáveis mensais, ou a métodos contraceptivos reversíveis de longa duração, que propiciam eficácia similar à laqueadura e apresentam altas taxas de satisfação e continuidade de uso.
É o caso dos dispositivos intrauterinos (DIU): com liberação hormonal (DIU-LNG) ou medicado com cobre (DIU-Cu), sendo seguros contra a concepção por cinco e dez anos, respectivamente. “O DIU dá conforto e segurança à mulher. Eu recomendo e avalio se a paciente não tem contraindicação. Se ela tiver má-formação uterina, por exemplo, não pode usar o DIU”, disse, explicando que, o dispositivo pode ser retirado a qualquer momento, com retorno imediato da fertilidade. “A natureza conspira a favor da mulher para ela ser mãe. Todo mês, o corpo é preparado para a gravidez. A decisão de não querer engravidar é dela e não vai gerar nenhum risco à saúde dela”, concluiu.