Cotidiano

Venezuelanos acampam em área entre Rodoviária e Hospital Santo Antônio

Venezuelanos sem-teto montam uma favela nos arredores da Rodoviária de Boa Vista, para se abrigar principalmente à noite

A migração desordenada de venezuelanos tem provocado um forte impacto social em Boa Vista. Os estrangeiros começaram a ocupar diferentes pontos da Capital, como praças, além de prédios públicos e particulares abandonados. Em alguns lugares, é visível a formação de favelas.

É o caso de uma área aos fundos da Rodoviária Internacional José Amador de Oliveira – Baton, ao lado do Hospital da Criança Santo Antônio, no bairro 13 de Setembro, zona sul da Capital. Os venezuelanos indígenas estão utilizando o local de forma coletiva. Além dos adultos, é significativa a presença de crianças.

Para se proteger durante o dia e dormir à noite, os indígenas costumam utilizar lonas, pedaços de plásticos, redes e lençóis para servir de cobertura contra o sol e as chuvas. Há quem fique debaixo das árvores. Em outro ponto afastado do hospital, mas ainda próximo da rodoviária, os estrangeiros ocupam outra área que aparenta ter sido abandonada há anos, levando em consideração a situação em que se encontra a estrutura.

Quando a Folha esteve neste local, não foi registrada a presença de nenhum estrangeiro, mas várias peças de roupas, de adultos e crianças, estavam estendidas em cerca de três varais. A área da rodoviária está servindo de abrigo para três grupos de estrangeiros. Isso porque, venezuelanos não indígenas estão utilizando as lanchonetes ao lado do terminal rodoviário como abrigo durante a noite, depois que os quiosques fecham.

Pela falta de limpeza nas áreas ocupadas, são inevitáveis os problemas sanitários e os perigos de saúde aos quais os estrangeiros ficam expostos, tendo em vista a presença de mato, lixo, entulho e animais, como baratas, roedores, serpentes e moscas. As condições dos locais são propícias para inúmeras doenças e à proliferação de mosquitos, como o Aedes aegypti.

DOAÇÃO – Durante a visita ao local, a Folha presenciou um ato de solidariedade. O dono de uma empresa privada, Jairo Tavares, disse que desde pequeno tem o costume de fazer doações. Ele doou aos estrangeiros um colchão e duas sacolas com roupas e mantimentos. “Sempre tive essa base com a minha família. É algo que não vai sair de mim. Se temos como, por que não ajudar?”, questionou.

Lanchonetes viram abrigo à noite

Os quiosques das lanchonetes localizadas ao lado da rodoviária, no prolongamento da Avenida Ville Roy, estão servindo de abrigo para venezuelanos não-indígenas.

Um deles, Abraham Bello, disse que os companheiros estão em busca de emprego, tendo em vista que a maioria dos ocupantes possui Carteira de Trabalho. “Estamos passando fome e necessidades, mas não dão oportunidade”, lamentou. (A.G.G)
 
Praças públicas também servem de abrigo

O número de venezuelanos que atravessam a fronteira em busca de sobrevivência e de uma oportunidade em território brasileiro tem aumentado. Os abrigos oferecidos pelo poder público já não são capazes de abrigar todos que chegam (veja matéria na página 05A). A solução encontrada por aqueles que não têm um local para dormir é ocupar locais públicos como praças e calçadas.

Um dos locais ocupados pelas famílias que não encontram abrigo é a Praça do Coreto, no Centro Cívico. O local, que foi reformado e revitalizado recentemente, está se tornando um refúgio para os imigrantes sem-teto. No local, eles dividem espaço com moradores de rua e usuários de drogas.

O venezuelano Rubén González veio para o Brasil no mês de maio. Desde então, ele pernoita em locais públicos, como a Praça do Coreto, a Praça das Águas e o complexo Ayrton Senna, no Centro. “Vim da Venezuela fugindo da crise econômica. Estava desempregado há mais de um ano e vivendo de pedir esmolas, mas até isso está difícil por lá. Ninguém tem dinheiro. Além de tudo isso, a falta de vários tipos de alimentos também faz com que muitos venham para o Brasil”, disse.

González afirmou que no Brasil já conseguiu levantar dinheiro com alguns “bicos”. “Lá na Venezuela eu trabalhava como vendedor. Aqui faço o serviço que aparece. Já cumpri diárias como auxiliar de pedreiro e carregador em mudanças. Com esse dinheiro dá pra se alimentar”, afirmou.

Quanto aos abrigos disponíveis para imigrantes, ele afirmou que prefere os bancos das praças. “Esses locais estão lotados. Não dá pra viver um em cima do outro. A única diferença da rua é a alimentação e um telhado sobre a cabeça. Além do mais, eles ficam muito longe. Pra chegar ao Centro e bairros mais próximos a caminhada é longa”, frisou.

Outro imigrante venezuelano, que preferiu não se identificar, disse que saiu do país de origem pela falta de comida e oportunidades de emprego. Em Boa Vista, ele reveza os locais de dormida entre a rodoviária, o Centro Cívico e a Praça Ayrton Senna. “Lá [na Venezuela] ouvíamos que muitos amigos nossos conseguiram empregos em supermercados e lojas de Boa Vista, e viemos atrás de uma oportunidade. Mas emprego não está fácil nem aqui no Brasil. Como não temos onde ficar, acabamos dormindo pela rua mesmo. Comida nunca falta, pois sempre contamos com ajuda de pessoas que trabalham com projetos sociais e religiosos, que distribuem marmitas pela cidade. Não é uma das melhores condições de vida, mas é o que temos”, declarou.