Oito reeducandos do sistema prisional de Roraima estão em tratamento para tuberculose, doença infectocontagiosa que pode ser transmitida pelo ar através da tosse, espirro e até fala da pessoa enferma. A informação foi confirmada pela Secretaria estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) à Folha.
Dos oito infectados, cinco estão presos na Cadeia Pública de Boa Vista, localizada na avenida Benjamin Constant, no bairro São Vicente, e três na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), localizada na zona rural de Boa Vista. De acordo com a Sejuc, os internos estão isolados para que outras pessoas não sejam contagiadas e estão recebendo tratamento e assistência médica rotineiramente.
VERIFICAÇÃO – A situação chegou ao conhecimento público após a publicação da portaria nº 004/2017 no Diário Oficial do Estado do dia 26 de junho deste ano, em que o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) determina a instauração de procedimento preparatório com finalidade de verificar possível epidemia de tuberculose na Cadeia Pública Masculina.
De acordo com a publicação, de autoria do promotor de Justiça da 2ª Titularidade da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde da Comarca de Boa Vista, Madson Wellington Batista Carvalho, a instauração foi motivada em razão da possível falta de assistência médica aos custodiados tuberculosos.
O MPRR informou que tomou conhecimento do fato durante audiência de instrução e julgamento de réu preso, o qual relatou que estava com suspeitas de tuberculose e que outros detentos também teriam contraído a doença dentro do sistema prisional.
Questionado sobre o caso, o Governo do Estado confirmou que nos últimos meses parte da assistência preventiva dentro do sistema prisional apresentou descontinuidade por questões de segurança. No entanto, a administração estadual já vem estudando alternativas para restabelecer serviços como buscas ativas, imunizações, diagnósticos, consultas, entre outros.
Quanto ao procedimento do Ministério Público, o Estado esclareceu que disponibilizará todas as informações solicitadas pelos órgãos fiscalizadores, enquanto adota as providências para reforçar os atendimentos ofertados a esta parcela da população.
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) também ressaltou que o tratamento contra a tuberculose é todo ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tanto para reeducandos quanto para a população em geral. (P.C)
Agentes penitenciários não foram informados sobre presos tuberculosos
O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado de Roraima, Lindomar Sobrinho, informou que ficou sabendo do diagnóstico de tuberculose de presos pela reportagem da Folha e que só depois disso entrou em contato com a direção da unidade prisional. “[Isso] não foi comunicado aos servidores. Não vou mentir, a gente soube através de vocês [reportagem da Folha]. Esse departamento não teria informado à categoria se a gente não tivesse ido lá perguntar. A primeira atitude que tomamos depois de tomarmos conhecimento da situação foi solicitar da Sejuc os materiais de saúde”, disse.
Segundo Sobrinho, o sindicato solicitou a disponibilização de máscaras e luvas aos servidores o mais rápido possível para evitar o contágio da doença. “Disseram que essa semana vão providenciar e a gente vai acompanhar. Se não for providenciado, nós vamos denunciar”, completou.
Por fim, o presidente do sindicato criticou o trabalho de imunização no sistema prisional. “Disseram que vão realizar um processo de imunização dos presos, mas agora o problema já estourou. Era para ter sido feita uma ação preventiva”, disse. “Infelizmente, existe na Sejuc o Departamento de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (DJDHC), que é para fazer essas atividades de imunização, porém, não se vê nenhuma atividade deles. Estão falhando com o sistema prisional. O departamento não está fazendo a sua função. O ideal era de prevenir, não de combater quando a doença já está instalada”, acrescentou. (P.C)
Saiba as formas de contágio da tuberculose
Também conhecida como “tísica pulmonar”, a tuberculose é uma doença infectocontagiosa que atinge principalmente os pulmões e ainda pode acometer os rins, a pele, os ossos e os gânglios. O contágio ocorre pelo ar, quando a pessoa que está doente lança os bacilos no ambiente, algo similar à transmissão da gripe.
Os detentos em unidade prisional estão na classe dos mais propensos a serem infectados por conta do convívio próximo ao doente e também por saber-se que o bacilo pode permanecer no ambiente por um período de até oito horas, ainda mais quando o domicílio não é ventilado e arejado.
Pessoas portadoras do HIV, em função da diminuição da defesa do organismo, assim como os diabéticos, os fumantes, as pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas têm defesas orgânicas reduzidas e, portanto, também são mais fáceis de desenvolver a doença.
SINTOMAS – O principal sintoma da doença é a tosse, mas o enfermo também apresenta falta de apetite, emagrecimento e suor noturno acompanhado de febre baixa, que é mais comum no final da tarde, mas nem sempre todos os sintomas aparecem juntos. Também pode existir catarro esverdeado, amarelado ou com sangue.
O diagnóstico é feito pela história de adoecimento da pessoa e também pelo exame clínico. Deverá ser confirmado por exames específicos, como no caso da baciloscopia e a cultura do escarro e também pelo raio-X de tórax.
A prevenção é feita através da vacina BCG, recomendada para aplicação no primeiro mês de vida da criança. A vacina diminui as chances de desenvolver formas graves da doença, como a meningite tuberculosa, mas não é eficaz contra a tuberculose pulmonar. Outra forma é através da prevenção secundária com isoniazida. A proteção é recomendada para as pessoas que convivem com a pessoa doente, seja em casa ou no trabalho. Essa proteção só é recomendada após a avaliação do teste PPD e do raio-X de tórax de todos os contatos próximos.
O paciente que interrompe o tratamento, além do risco do agravamento da doença, pode desenvolver uma bactéria resistente às drogas utilizadas no tratamento. O bacilo pode ficar resistente a um ou vários medicamentos. O tratamento nessa situação é mais longo e pode durar de um a dois anos, além de exigir o uso de várias drogas associadas.