Procrastinar é a “arte” de adiar. O hábito de deixar as coisas para depois tem sido estudado por pesquisadores há séculos. As pesquisas sobre o tema mostraram que a prática da procrastinação pode estar diretamente ligada aos déficits de atenção, mas também pode ocasionar malefícios mais graves à saúde.
De acordo com o psiquiatra Alberto Iglesias, deixar para depois é uma das maiores causas dos esquecimentos. “Procrastinar é algo de que pouco se fala, mas que muito se faz. Embora “embromação” possa ser um de seus quase sinônimos populares, a procrastinação vai um pouco mais além disso. É um comportamento crônico nocivo, embora muito comum”, contou.
Segundo o psiquiatra, o procrastinador é alguém que faz várias coisas ao mesmo tempo, exatamente para não fazer aquilo que realmente deve ser feito. Quando pensa no que de fato tem de fazer, sente-se preso e sem reação.
“As conseqüências, não raro, são danosas, especialmente em longo prazo, quando, olhando pra trás, se percebe quanto tempo foi jogado fora por falta de ação objetiva. Ao deixar de cumprir certas obrigações, decepcionamos alguém e perdemos credibilidade e oportunidades. Isso se percebe claramente na vida conjugal, no convívio familiar e na carreira profissional”, relatou o médico.
O médico explica que empreender grandes mudanças de imediato é um dos comportamentos de um procrastinador, porque ele fica inativo por muito tempo e, depois que percebe nos outros, o quanto que não evoluiu, resolve mudar tudo de uma vez.
“É óbvio que não vai conseguir, porque as nossas grandes realizações são conquistadas aos poucos. Desse modo, novamente derrotada, essa pessoa tende a desanimar e voltar a procrastinar novamente, repetindo um ciclo fadado à infelicidade”, ressalta o especialista.
A pessoa que procrastina vai absorvendo estresse por uma oculta sensação de culpa, sentindo a sua perda de produtividade e cultivando vergonha em relação aos demais, por não conseguir cumprir seus compromissos.
“A formação de um “enrolador” muitas vezes começa na infância. Crianças podem tornar-se procrastinadoras no futuro por conta do tratamento que recebem dos adultos. Daí a conveniência de revermos constantemente as nossas crenças, para nos livrarmos de influências negativas que adquirimos ao longo da vida”, explica.
Duas das vertentes mais clássicas são:
– A criança extremamente protegida, condicionada a achar que sempre alguém fará por ela. Quando adulta, ela tenderá, inconscientemente, a sentir-se insegura para agir, por não ter alguém auxiliando-a.
– A criança que é exageradamente cobrada. Ela pode desenvolver a característica do perfeccionismo. Assim, ela tende à procrastinação por acreditar que, mesmo se dedicando, não conseguirá realizar as coisas de modo primoroso – e acaba postergando tudo o que acha importante.
Tratamento
A procrastinação crônica é quase sempre associada a alguma disfunção psicológica ou psiquiátrica. Portanto, é passível de tratamento.
Para pacientes procrastinadores, existem algumas recomendações que ajudam muito a livrá-los dessa anomalia. Eis algumas:
– Reconheça, quando está enrolando, que pode haver mais dor em procrastinar do que em realizar a tarefa. Muita coisa é menos complicada do que parece ser.
– Não deixe aquele a fazer chato por último, para que ele não se torne urgente e o apavore ainda mais.
– Experimente a sensação de alívio e o fortalecimento da autoestima após concluir uma tarefa e perceba que se livrou dela de maneira positiva, enfrentando-a.
– Para encorajar-se, pense no que vai deixar de ganhar ou no que pode perder caso não realize essa atividade. Se puder escrevê-las e avaliá-las seriamente, melhor.
– Se a tarefa for muito trabalhosa, divida-a em partes e vá realizando uma a uma, com um pequeno intervalo entre elas, e comemorando a última concluída.
– Abra-se para o novo, deixando de agarrar-se às velhas experiências e crenças. O passado não volta mais; o presente é continuamente feito de novos desafios e o futuro é construído passo a passo pelas ações do presente.
– Quando perceber que está querendo procrastinar de novo proponha-se a atuar por apenas alguns minutos na ação que está tentando evitar. Pode ser que você perceba que não é tão desagradável quanto pensava e venha a vencê-la.
– Caso lhe seja por demais desagradável, dê-se uma pausa e passe a fazer algo útil (não pare de agir), mas determine quando voltará ao assunto pendente.
A principal vitória é vencer a procrastinação em si. Trata-se de uma vitória para a vida inteira, como a daquela criança que um dia perde o medo do escuro.