Mesmo com sintomas, grávidas em Roraima reclamam que não conseguem saber se estão com vírus da zika pela rede pública de saúde. O aparelho que faz a leitura do diagnóstico da doença no Laboratório Central do Estado (Lacen), segundo elas, estaria quebrado.
Nos primeiros seis meses deste ano, Roraima registrou crescimento de 300% no número de casos confirmados de zika em relação ao ano anterior. De 1º de janeiro até 04 de julho, foram confirmados 172 casos da doença. No caso das gestantes com suspeitas da doença, existe o risco de a criança desenvolver a microcefalia. A coleta para o exame tem que ser feita até o quinto dia dos sintomas.
Em março, o Lacen recebeu novos equipamentos que permitiram a implantação de um laboratório de biologia molecular, ao custo de R$ 600 mil. A unidade realiza os exames sorológicos, que diferentemente do exame molecular, são destinados aos pacientes nos quais os sintomas se manifestam há mais de cinco dias. Sem o equipamento de leitura da coleta, os exames voltaram a ser enviados para o Instituto Evandro Chagas, em Belém, sem previsão para retorno.
“Eu estou com todos os sintomas há uma semana. Já procurei posto de saúde, maternidade, já fiz a coleta, mas quando fui buscar o resultado da sorologia no Lacen fui informada que o aparelho que faz a leitura do exame estava quebrado e que o município também não tem”, disse a dona de casa Taís de Sales.
Os sintomas da zika parecem com os da dengue, mas com algumas diferenças: há febre, mal-estar, manchas vermelhas na pele, olhos vermelhos e dor nas articulações. No consultório da maternidade e dos postos de saúde, há um esquema anotado sobre os procedimentos que devem ser tomados em casos suspeitos, mas as grávidas não têm como confirmar se estão com a doença.
Se o médico achar que se trata do zika vírus, anota na ficha do paciente e encaminha o caso para a Vigilância Epidemiológica e prescreve alguns medicamentos. Ele também solicita a realização de um hemograma, um exame de sangue que serve para descartar a doença.
Grávida de três meses, a estudante Camila Silva contou que teve que recorrer a clínicas particulares, que cobram R$ 40,00 pelo exame, que também é enviado para fora do Estado e demora cerca de cinco dias para retornar. “Eu estava com todos os sintomas e, como não consegui fazer o exame pela rede pública, tive que vim para clínica particular. Mas e quem não tem condição?”, questionou.
PREFEITURA – Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde esclareceu que o exame para detecção do zika vírus é realizado somente em gestantes que apresentam sintomas e atendam à definição de caso suspeito, conforme preconiza o Ministério da Saúde.
Apesar de as gestantes afirmarem que não conseguiram atendimento para realização do exame na rede municipal de saúde, a secretaria destacou que realiza todos os exames preconizados pela Rede Cegonha para gestantes na rede de laboratórios credenciados. Os exames de zika e de outras doenças de notificação compulsória são enviados exclusivamente para o Lacen.
Conforme o município, se no atendimento médico forem identificados os sintomas da doença, o caso é notificado e a gestante é orientada a realizar a coleta no Laboratório de Referência Municipal, no bairro Mecejana. A secretaria ressaltou que é responsável por coletar e processar as amostras de exames e enviar ao Laboratório Central de Saúde Pública de Roraima (Lacen-RR), que é responsável pelo resultado dos exames.
GOVERNO – Também em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que não consta no Lacen-RR solicitação médica de sorologia para zika vírus em nome das pacientes citadas na denúncia.
“Nestes casos, o diagnóstico laboratorial não terá interferência no quadro clínico de mãe e filho, pois o exame é complementar, solicitado apenas para confirmação, pois o diagnóstico pode ser feito apenas pelos sintomas. Na maioria dos casos, a doença em questão cura-se sozinha. O tratamento é feito apenas para aliviar os sintomas”, explicou.
O equipamento utilizado para realizar esta sorologia, conforme a Sesau, apresentou um problema técnico, o qual foi solucionado em seguida. No entanto, como não era possível prever quanto tempo o equipamento ficaria em manutenção, a amostra foi enviada para o Instituto Evandro Chagas (IEC) e o Estado aguarda o retorno do resultado.
A Sesau esclareceu que o diagnóstico laboratorial para zika vírus está sendo realizado normalmente na rede pública. O Lacen realiza inclusive o exame de biologia molecular até o quinto dia dos sintomas apresentados, mediante solicitação médica. “O laboratório está operando em três turnos de trabalho para agilizar o resultado das amostras. Do início das atividades até julho, foram analisadas cerca de três mil amostras de arboviroses, a maior parte delas de chikungunya”, frisou. (L.G.C)