Cotidiano

Ativista diz que falta apoio do poder público para a prevenção às drogas

Líder do Movimento de Ajuda aos Dependentes Químicos em Roraima prevê um colapso social se autoridades não agirem

A Câmara Municipal de Boa Vista (CMBV) promoveu, na semana passada, uma audiência pública para debater a questão da dependência química na Capital. O encontro previa o debate de soluções dos principais problemas relacionados à questão com o poder público, representantes de organizações não governamentais que promovem trabalho de recuperação de usuários e os parlamentares.

Para o ativista Kinho Correia, líder do Movimento de Ajuda aos Dependentes Químicos em Roraima, atuante na área de combate ao uso de drogas há mais de 15 anos no Estado, a audiência foi positiva. Porém, posterior ao evento, alguns vereadores declararam que as organizações independentes não estariam regularizadas, por isso não poderiam receber recursos do governo e do município.

“Isso deu a entender que todas as comunidades terapêuticas não têm a documentação, e isso não é verdade. Existem empresas idôneas com todos os documentos, com representação social. Existem algumas casas que realmente ainda estão se regularizando, mas estão correndo atrás. Só não pode falar que a falta de envio de recursos é motivada por isso. O que a gente vê é uma omissão do poder público em geral, não são todos, mas acontece”, disse.

Segundo ele, há anos o poder público anuncia melhorias para o setor, mas as promessas não se realizam. “A gestão atual do Município prometeu em época de campanha que ia construir uma casa de recuperação e nunca fez isso. O governo do Estado é omisso. Exceto pelo trabalho de repressão que é muito bem executado, pela Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Municipal, não há trabalho de prevenção, políticas públicas de recuperação”, frisou.

Conforme Kinho Correia, os maiores investimentos para solucionar o problema seriam construções de espaços para abrigar dependentes químicos, aluguel de outros espaços, alimentação e distribuição de cesta básica. “É preciso investir nas comunidades que existem e construir outras casas de recuperação porque a demanda é muito grande, e essas casas estão trabalhando no limite. Tem casa com lotação de 25 internos e fila de espera de mil pessoas, esperando sair uma vaga para poder entrar. Às vezes, a sociedade ainda cobra das casas que não têm recurso nenhum e o poder público, que tem a responsabilidade de fazer, não realiza”, acrescentou.

RECUPERAÇÃO – Outra forma de trabalhar a solução do problema, segundo Kinho Correia, seria a execução de um trabalho de recuperação daqueles com histórico de uso de drogas, principalmente aqueles que estão lotados nas unidades prisionais.

“O problema dos presídios não é só questão das facções. Temos que avaliar que a questão da droga é um fato predominante nos presídios, tanto o feminino quanto o masculino. O trabalho de prevenção seria uma alternativa para solucionar o fato da lotação das unidades prisionais.

Hoje você gasta cerca de R$ 3 mil por mês para manter um detento. Numa casa de recuperação, o custo seria de R$ 1.200 por mês. Agora se paga para uma pessoa entrar em uma penitenciária e sair pior do que entrou”, declarou Correia.

“Nas delegacias, por exemplo, a maioria dos crimes, são relacionados às drogas”, continuou o ativista. “São roubos para usar droga, homicídio por conta de rixa do tráfico. Na Delegacia da Mulher, nos casos de agressão, a maioria dos agressores estava sob efeito de entorpecentes ou álcool. A droga é o fator predominante e, enquanto as autoridades políticas não pararem para refletir, o problema só vai crescer. Não estou dizendo que o dependente químico é vítima, não. Mas temos que pensar em uma forma de enfrentar esse problema com políticas públicas para recuperar essa questão ou vamos ver o caos em Boa Vista”, acrescentou.

Para ele, o trabalho social é de grande importância, pois ele mesmo é um exemplo de quem venceu a batalha contra as drogas. “Tive problema com uso, muitos anos de drogadição na minha juventude. Senti na pele o que é isso e hoje eu milito. A gente vê muita gente pedindo ajuda e a gente vê o poder público de braços cruzados. O que me motiva a ajudar é a vontade de ver a nossa cidade melhor, melhorar a vida da sociedade e os benefícios que essa luta pode trazer na questão da segurança pública, da saúde e outros setores”, frisou. (P.C.)