O impasse sobre a continuidade das obras do Linhão de Tucuruí, que estão paralisadas por causa do impasse na Terra Indígena Waimiri-Atroari, entre Roraima e Amazonas, está longe de uma resolução. O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), general Franklimberg Ribeiro, se reuniu com 45 lideranças da etnia no Estado vizinho, que não se mostraram dispostos a autorizar a construção.
Em entrevista concedida durante o Parlamento Amazônico, em Manaus (AM), Franklimberg foi claro ao afirmar que o órgão apoiará a decisão dos indígenas caso eles queiram barrar a passagem do Linhão pela reserva. “A Funai faz o intermédio do Governo Federal com a população indígena para proteger os índios, mas se eles não querem a passagem do linhão, vamos apoiar”, afirmou.
A malha de 721 quilômetros, entre Manaus e Boa Vista, é tida como a solução para o fim da crise energética em Roraima, já que conectaria o Estado por uma única rede de energia, o chamado Sistema Interligado Nacional (SIN). São 121 quilômetros de construções que passam dentro da Terra Indígena Waimiri-Atroari, que possui uma área de 26 mil quilômetros quadrados, maior que o Estado de Sergipe. Na terra indígena, espalhados em 31 aldeias, vivem 1, 6 mil índios que não querem nem saber de linhas sobre as suas cabeças.
“A reunião foi importante, porque falamos com as 45 lideranças indígenas sobre a situação que Roraima atravessa, as constantes preocupações sobre os apagões e a importância que é esse momento da autorização para que possa se dar prosseguimento no estudo para passagem do Linhão na terra indígena”, destacou o presidente da Funai.
“Eles [índios] defendem um traçado passando pelo Rio Negro, mas em momento nenhum se posicionaram contra. Uns foram a favor e outros contra e temos que respeitar os direitos dos indígenas. Brevemente irão enviar para Funai o seu posicionamento”, explicou Franklimberg.
A implantação da linha de transmissão tiraria de Roraima o posto de único Estado do País ainda não plugado ao sistema nacional, e também acabaria com dois problemas que custam caro ao bolso dos roraimenses: as termelétricas, que queimam diariamente milhares de litros de óleo diesel, e a dependência da precária importação de energia da Venezuela para suprir o consumo da população.
As duas questões também foram comentadas pelo presidente do órgão indigenista. “Caso os indígenas não aprovem a passagem do Linhão nesse momento implica um grande gasto de combustível para que as usinas termelétricas funcionem, o que gera impacto ambiental grande”, considerou.
PROPOSTA – Como a reunião entre a Funai e as lideranças da etnia parece não ter convencido os indígenas, há uma tentativa de viabilizar a obra com a participação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). O traçado atualmente previsto corre paralelamente à BR-174, que liga Manaus a Boa Vista e que, portanto, já passa pela terra indígena há mais de 30 anos.
O acordo com o Dnit permitiria aproximar mais as torres da estrada. Em vez da distância de 500 metros, como se prevê, a rede seria instalada dentro da “faixa de domínio” do Dnit, a 40 metros do asfalto. A nova proposta, que foi levada pela Funai aos indígenas, inclui, além do traçado correndo paralelamente à BR-174, vários projetos de desenvolvimento e subsistência que seriam benéficos para as comunidades. (L.G.C)