Esporte

Pai deixa Roraima para realizar sonho do filho de jogar na base do Vasco, no RJ

De férias com seu filho, em Boa Vista, Mario George conta como sua vida mudou ao morar no Rio de Janeiro, para realizar o sonho de Romário Lima

Em novembro de 2013, o professor Rosivaldo Lima, o Peteleco, trouxe a Roraima o então coordenador da base do Vasco, Almir Santos, para auxiliar na realização da segunda peneira oficial do clube na cidade. O evento reuniu cerca de 300 jovens jogadores, que buscavam realizar o sonho de jogar na base do clube carioca.
Desses, só Wairan Basílio e Romário Lima foram aprovados na seletiva. No final daquele mês, os dois participaram da segunda fase de testes, desta vez no próprio Centro de Treinamento do Vasco, em Itaguaí-RJ, a 95 quilômetros da capital fluminense. Com o apoio do professor Peteleco, ambos foram aprovados, e no ano seguinte integraram a base do Gigante da Colina.
Com 12 anos na época, o jogador roraimense, que tem o mesmo nome do maior ídolo vascaíno, foi informado pelo Vasco de que, apesar de aprovado, poderia não integrar as categorias da base do clube, porque não tinha idade suficiente e não poderia ficar no alojamento em Itaguaí.
Foi então que o pai de Romário Lima, o vascaíno Mario George, que um dia sonhara em jogar em um clube grande, levou a sério o sonho do filho, ao decidir que deixaria sua mulher e também mãe de Romário, cuidando de um estabelecimento comercial e da casa da família em Boa Vista. “Foi uma situação complicada”, resumiu em entrevista à Folha, Mario, que passa férias com seu filho em Boa Vista.
Em janeiro de 2014, pai e filho se mudaram para Itaguaí. Lá, Mario alugou uma casa, e, sem dificuldades, matriculou Romário na escola estadual Piranema, de mesmo nome do bairro em que dois moram. Meses depois, o filho conquistara o título dos Jogos Escolares do Rio de Janeiro, na modalidade de futebol society.
Mario, que tinha uma Kombi em Boa Vista, pagou uma transportadora para fazer o frete do veículo para Itaguaí. Com a chegada do veículo, o pai de Romário começou a fazer frete, e, ao criar vínculos pessoais com o próprio Vasco, passou a trabalhar para o clube no transporte de jogadores da praça do bairro Piranema ao CT do time alvinegro.
“O pessoal do clube pediu para que eu fizesse uma espécie de lotação. Da praça de Piranema até o CT, a distância é de uns três quilômetros. Nesse caminho, não passa van, nem Kombi e nem ônibus. Os jogadores que iam para a peneira, iam a pé. Daí o pessoal do Vasco me deu essa ideia de fazer lotação. Então, a partir desse momento eu comecei a trabalhar com frete”, explicou Mario.
É com os R$ 1 mil que ganha em média com o serviço, descontando os R$ 360,00 para o aluguel da casa, que Mario e Romário se mantêm em Itaguaí, que, segundo o pai, é uma cidade “tranquila”. Seu filho ainda não ganha ajuda de custo do Vasco.
O que preocupa o pai do meia, que também joga de zagueiro, volante e atacante, é a recente mudança na diretoria do Vasco. Eleito recentemente presidente do Vasco, Eurico Miranda entregou o alugado CT de Itaguaí ao proprietário, e ainda não anunciou a nova sede da base do clube carioca.
Segundo Mario George, o clube informou que o novo CT deve ser em Nova Iguaçu (a 57 quilômetros de Itaguaí), ou em Duque de Caxias (a 78 quilômetros da antiga sede da base). Se for necessário mudar de cidade para o filho continuar alimentando seu sonho de jogar no elenco principal do Vasco, o pai o fará.
“Nós vamos esperar a posição (da diretoria) sobre o CT. Se tiver que me mudar de Piranema, eu vou ter que me mudar para próximo de onde o CT ficar. Se o CT ficar no Artsul (em Nova Iguaçu), provavelmente vamos continuar morando em Piranema, e ele continuará estudando no colégio de lá. Agora se mudar para Xerém (em Duque de Caxias), teremos que nos mudar para lá”, disse Mario.
A VIDA DO FILHO NO VASCO – Com quase um ano no Vasco, Romário Lima já foi convocado para três competições, entre elas, o Campeonato Carioca, e o Campeonato Ibercamp, em Portugal.
Mas o primeiro título dele com a camisa do Gigante da Colina veio em um campeonato no Espírito Santo, onde ganhou de forma invicta. Romário, que foi à competição na função de volante, foi improvisado de zagueiro na semifinal e final da competição. “O que o treinador pedir eu tenho que fazer”, disse Romário.
O Vasco, segundo ele, tem sido fundamental para sua adaptação a diversas posições no futebol. “Acho que eu tenho aprendido bastante lá. Tenho participado de testes em outras posições, e isso é muito bom para eu não ficar me guardando numa só posição”.
FÉRIAS EM BOA VISTA – De férias na capital roraimense, Mario e Romário aproveitam a estadia na cidade para rever os amigos e familiares. Chegando aqui, ambos foram convidados para eventos desportivos, como a partida entre os amigos de Romário Lima (cujo técnico foi o pai do jogador, e que reuniu jogadores da escolinha do Vasco em Boa Vista) e os amigos do professor Peteleco (que reuniu ex-jogadores do futebol local). A partida terminou em 5 a 3 para os companheiros do craque roraimense.
No último sábado, Romário ainda foi convidado para compor a escolinha do Primavera, na final da Copinha Sub-13 da Liga de Futebol Amador Jardim Caranã (Lifajc), contra o Real. Seu time terminou com o título, depois de vencer por 1 a 0.
A VOLTA PARA O RIO E AS EXPECTATIVAS PARA 2015 – Pai e filho retornam ao Rio de Janeiro no próximo dia 11 de janeiro. No dia 13, o jogador roraimense se reapresenta ao Vasco, no estádio de São Januário, onde ainda não jogou.
A nova presidência prometeu mais jogos na casa do clube, para os jogadores da base, e Romário fala da importância desta possível primeira oportunidade de jogar no local. “Vai ser um jogo muito importante para mim. O Vasco é um clube que eu sempre gostei, torço por ele. Vai ser muito gratificante jogar lá”, disse o jogador.
Em 2015, Romário espera aproveitar as oportunidades que a nova diretoria irá proporcionar. “Espero melhorar (meu futebol) cada vez mais. Agora, com a entrada do Eurico Miranda, que prometeu muita coisa para a nossa categoria, teremos mais viagens para fora e jogos em São Januário”.