Uma decisão da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) obrigou a empresa de telefonia Oi a disponibilizar ligações gratuitas para telefones fixos feitas a partir de “orelhões”, nome popular dado aos TUP (Telefones de Uso Público), em Roraima e em outros 14 estados. A medida, que ficará vigente até março de 2018, vale para telefones fixos, tanto para chamados locais como para de longa distância.
A obrigação foi imposta pela Anatel após a empresa não disponibilizar o número mínimo de telefones públicos em condições de operação que deveria nestes locais. A agência reguladora determina que a disponibilidade da planta de orelhões deva ser de no mínimo 90% em todas, e de no mínimo 95% nas localidades atendidas somente por orelhões.
Nas ruas, boa parte dos entrevistados sequer sabia da novidade. “Faz muito tempo que não uso, desde quando comecei a usar o celular não uso mais. Mas o fato de as ligações serem gratuitas torna mais acessível para quem não tem condição de ter celular”, disse o autônomo Paulo Sérgio.
O atendente Manoel Júnior foi uma exceção. Após saber que teria ligações gratuitas à disposição por meio do telefone público, voltou a usar o aparelho. “Eu vi que estava fazendo a ligação gratuita, mas pensei que fosse para qualquer número. Fui tentar, chamou, mas não consegui completar a ligação. Não tenho muito o costume de utilizar o orelhão, faz muito tempo que não usava”, comentou.
Segundo dados do SGMU (Sistema de Gestão de Metas de Universalização) da Anatel, Roraima possui 2.101 telefones de uso público. Dentro deste número, 1.396 aparelhos estão localizados em Boa Vista. A segunda cidade que possui mais orelhões é Rorainópolis, com 110 telefones, e em terceiro lugar está Caracaraí, que conta com 92 aparelhos.
Do total de aparelhos em Roraima, 1.954 funcionam 24 horas por dia, 30 são adaptados para cadeirantes e apenas sete possuem adaptações para deficientes auditivos e da fala. Em comparação ao número de linhas móveis, segundo a Anatel, Roraima tem 479.998, ou seja, quase um aparelho para cada habitante. Na Capital, entre as regiões com maior abrangência de telefones públicos está a zona Oeste, que é compreendia por cerca de 40 bairros.
Sem utilização, orelhões são alvos de vandalismo em vários bairros
A situação dos aparelhos públicos na Capital não é das melhores. Segundo informações repassadas pela operadora de telefonia Oi, em 2016 foram danificados, por atos de vandalismo, em média, 5% dos orelhões instalados em Roraima. No mesmo período foram danificados, da mesma maneira, cerca de 4,6% dos orelhões da Capital.
Do total de orelhões que apresentam defeitos, em virtude de atos de vandalismo, os danos atingem principalmente leitora de cartões, monofone, teclado, pichações e colagem indevida de propaganda de empresas nas máquinas e protetores de fibra (orelhas). A operadora afirmou que, no ano passado, realizou mais de 1.400 substituições de aparelhos vandalizados em todo o Estado. (L.G.C)
Consumo de cartões telefônicos reduziu em 90%
Outro problema encontrado quanto a utilização dos orelhões no Estado foi a redução de mais de 90% no consumo de crédito em menos de uma década. Segundo informações da operadora Oi, o custo do orelhão é uma conta que não fecha. Com a queda no consumo nos orelhões no Estado, hoje apenas 4% da planta de telefones públicos da empresa de telecomunicação gera receita suficiente para o pagamento do próprio custo de manutenção. Devido a pouca atratividade, cerca de 35% dos orelhões da Oi são utilizados menos que um minuto por dia.
Entre 2008 e 2015, a Oi registrou queda de aproximadamente 44% ao ano no consumo de créditos nos orelhões – o que representa uma redução de 96% nesses seis últimos anos. Ou seja, o consumo do ano de 2015 representa apenas 4% do consumo realizado no ano de 2008. (L.G.C)
Milhões investidos em orelhões poderiam ser direcionadas à melhorias na internet
À Folha, a Oi por meio de nota, que desde dezembro de 2016 a Anatel decidiu sobre a importância de revisão das obrigações relacionadas a orelhões em virtude da obsolescência. “No entanto, até o momento a empresa permanece sendo obrigada a investir milhões de reais por mês em orelhões, recursos esses que deveriam estar voltados para demandas relevantes da sociedade, como a estrutura de redes de telecomunicações para banda larga”, destacou a nota. (L.G.C)