Cotidiano

Apesar de coletores espalhados, serviço não é viabilizado em BV

Recipientes específicos para coleta seletiva podem ser vistos espalhados em diversos locais da cidade, mas os resíduos se misturam nos caminhões

Apesar de o contrato entre a empresa Sanepav Saneamento Ambiental, responsável pela coleta de lixo na Capital, e a Prefeitura de Boa Vista, prever o serviço de coleta seletiva, e ainda que a cidade esteja repleta de coletores específicos para esta ação, ou seja, identificados por cores relacionadas a cada tipo de resíduo, tal atividade não é realizada. A empresa faturou R$ 54 milhões no atual acordo, mas também não cumpre as obrigações. Todo lixo recolhido pela empresa nos coletores seletivos da Prefeitura são recolhidos da mesma maneira, por caminhões comuns de coleta de lixo, misturados e vão direto para o “lixão”, às margens da BR-174.

Em 2002, em uma das gestões da atual prefeita, Teresa Surita (PMDB), foi implantado um projeto piloto em Boa Vista para coleta seletiva. O serviço foi disponibilizado como teste no bairro Caçari. Para isso, recebeu investimento de cerca de R$ 1,5 milhão em coletores e caminhões específicos destinados a esse tipo de coleta.

A ideia seria separar os materiais reaproveitáveis para serem recolhidos pelo caminhão adequado e chegarem ao aterro com uma espécie de separação já iniciada. Lá, os catadores fariam a triagem para a designação correta de cada tipo de resíduo. Os coletores de resíduos com identificação por cores foram espalhados e existem até hoje em vários espaços públicos, como praças e secretarias municipais. Além disso, há um estoque com esses coletores na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a espera de serem instalados também pela cidade. Mas, a coleta por parte do Município, no entanto, não foi implantada.

Atualmente, mais de 8,3 toneladas de lixo são despejadas por mês no lixão da Capital, localizado no trecho Sul às margens da BR-174, sem qualquer tipo de separação para a utilização por catadores, que atuam no local. O processamento de resíduos, a partir do Aterro Sanitário, para produtos recicláveis na Capital, que aderiu ao programa Cidades Sustentáveis, também é zero.

Além da coleta seletiva de lixo, que não ocorre, a empresa responsável pela coleta de lixo em Boa Vista, tem, conforme contrato, que recolher resíduos domésticos e hospitalares, pintar meio-fio, varrer ruas e fazer a manutenção da lixeira pública, obedecendo às regras de manejo dos resíduos. (L.G.C)

Do lixo, centenas de catadores tiram o sustento das famílias

O trabalho de selecionar materiais que podem ser reaproveitados é feito por centenas de catadores, que tiram do lixo o sustento das famílias. A Capital possui uma cooperativa, a Unirenda, e duas associações, Terra Viva e Global, que fazem esse tipo de serviço.

Foi vendo o desespero das centenas de catadores que viviam no lixão que a goianiense Evandra do Vale fundou a Associação Terra Viva, que funciona em um pequeno terreno no bairro Nova Cidade, zona Oeste de Boa Vista. No local, 35 pessoas trabalham diariamente coletando e selecionando o lixo que pode ser reaproveitado. “Eu já tinha meu trabalho, mas achei que era viável tirar essas pessoas do lixão e trazer para cá. O problema é que aqui eles não ganham o que ganham lá”, comentou Evandra.

O apoio que recebem da Prefeitura, segundo ela, é um caminhão que trabalha de segunda a sexta-feira, exceto feriados. “Quando o caminhão não vem ficamos sem saber o que fazemos com os grandes geradores de lixo. O caminhão sai coletando com os catadores e deposita aqui, onde fazemos a triagem”, explicou.

O trabalho só pode ser feito porque empresários de Manaus, no Amazonas, doaram máquinas para prensar os materiais. Ali são coletados, por mês, cerca de 120 quilos de plástico, papelão, papel branco, latas de alumínio, e outros produtos.

Mas sem a limpeza adequada dos materiais, a usina de beneficiamento vende o quilo do plástico, por exemplo, a R$ 0,90 para fornecedores do Estado vizinho, bem abaixo do preço de mercado.

“Vendemos para atravessadores, porque a Prefeitura ainda não liberou o alvará de funcionamento. Tem meses que lucramos R$ 15 mil, mas com as despesas em torno de R$ 6 mil, sobra pouco para dividir entre todos”, lamentou e fez outra reclamação: “Não digo que a Prefeitura não ajuda, mas preferia que desse o que é merecido dentro da lei do catador, que é o repasse do que nós coletamos. Fazemos a limpeza dentro da cidade, o catador é um agente ambiental na limpeza e ajuda a preservar a natureza”, complementou. (L.G.C)

Professora faz coleta seletiva em casa

A preservação do meio ambiente começa com pequenas atitudes diárias. Uma das mais importantes é a reciclagem e o reaproveitamento de resíduos, ou seja, o lixo. Tal prática pode aliviar os lixões e aterros sanitários, pois chegará até eles apenas os rejeitos (restos de resíduos que não podem ser reaproveitáveis), grande parte dos resíduos sólidos gerados em casa pode ser reaproveitada.

A professora universitária, Lidiana Lovato, vem fazendo por conta própria a coleta seletiva em casa e incentivando os alunos a fazerem o mesmo onde trabalha. Toda semana, se desloca até a zona Oeste da cidade, em veículo próprio, cheio de resíduos, que são entregues à Associação Terra Viva.

“Sou do Paraná e lá aprendemos a trabalhar com isso. Vejo como o mínimo que posso contribuir não apenas para o meio ambiente, mas quanta diferença isso faz na vida de quem trabalha com a reciclagem”, comentou.

Em dois baldes de lixo, ela separa plástico, papel, alumínio, vidro e embalagens em geral que podem ser recicladas ou reaproveitadas. Ela também fez uma composteira para transformar lixo orgânico em adubo, que é utilizado nas plantas da casa.

“O lixo menor vai o rejeito, e o maior vai o reciclável em geral. As cascas de tudo eu uso na composteira, que vai para os jardins e plantas. Nós temos a falsa ideia de que o lixeiro é quase um mágico, que nós iremos colocar o lixo no lixeiro e ele some, mas não é assim. O que me motiva além da consciência é saber que estou colaborando com muitas pessoas e fazendo a diferença na vida delas”, contou.

Ela disse acreditar que Boa Vista tem potencial para a implantação de coleta seletiva. “Espero que isso ocorra rápido. Tive acesso ao Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Veio bem desenhado e tem potencial para acontecer. Uma coisa que percebemos é que a população tem uma gana por essa demanda, tem vontade de fazer, mas poucas pessoas têm a iniciativa de fazer isso”, frisou. (L.G.C)