O intenso fluxo migratório de pessoas vindo da Venezuela para o Brasil vem chamando a atenção da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), que apontou aumento nos casos de malária em Roraima. Segundo dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (Sipev), foram registrados, em 2015, 1.260 casos da doença em venezuelanos que residem em Roraima. No ano seguinte foram 2.470 ocorrências, aumento superior a 96% no período.
De janeiro a junho deste ano, a Secretaria de Saúde registrou 565 estrangeiros em busca do tratamento para a doença no Brasil, principalmente em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, ou na capital Boa Vista. “Além de acarretar demanda para o Sistema Único de Saúde, essas pessoas frequentemente estão se deslocando para outros municípios com risco de transmissão, contribuindo com a expansão e o incremento da malária”, explicou a técnica do Núcleo de Malária da Sesau, Dulcinéia Barros.
No período de intensa migração venezuelana para o Brasil, o aumento da incidência da malária importada da Venezuela para os municípios se tornou alvo do setor de saúde, principalmente em Pacaraima, e na capital, Boa Vista, seguido de Rorainópolis, Alto Alegre, Mucajaí, Caracaraí, Amajari, Cantá, São Luiz, São João da Baliza, Caroebe, Iracema, Bonfim e Normandia.
A malária é uma doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários, transmitidos pela fêmea infectada do mosquito Anopheles. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os casos de malária da Venezuela ocorrem principalmente nos Estados venezuelanos de Bolívar e Amazonas, que fazem fronteira com o Brasil, e afetam principalmente pessoas do sexo masculino na idade produtiva e relacionada à atividade de extração mineral. “Essa atividade leva a pessoa à exposição permanente aos riscos de contrair a malária”, disse Dulcinéia.
TRANSMISSÃO – Em Boa Vista, mesmo existindo criadouros ou potenciais criadouros do principal vetor da malária em alguns bairros de Boa Vista, dados do Sivep indicam que a transmissão autóctone, ou seja, quando a pessoa é infectada dentro do País, segue baixa. Em 2016 foram 14 casos, enquanto que em 2017 foram registrados 19 casos, com um acréscimo de 36%.
O Sipev reforçou que 94% dos casos de malária em Pacaraima ocorrem em áreas indígenas; 1% em área de garimpo, provavelmente da Venezuela, e 5% foram registrados como sendo da sede do município.
Já Rorainópolis é o terceiro município com notificação de malária em venezuelanos residentes no Estado, com a notificação de 97 casos nos três anos analisados. A presença de migrantes venezuelanos acometidos pela malária representa um altíssimo risco no município. Em 2017, até o mês de maio, foram notificados 13 casos de malária oriundos da Venezuela.
TRATAMENTO – O aumento dos casos registrados de malária importada em Roraima levou a Coordenação Geral de Vigilância em Saúde (CGVS), por meio do seu Núcleo Estadual de Controle da Malária, a solicitar, junto ao Ministério da Saúde, maior quantidade de medicamentos antimaláricos disponibilizados ao município de Pacaraima, visando garantir que todos os pacientes tenham acesso ao tratamento.
Os dados revelam um aumento de 72,50% em 2017 em relação a 2016 da oferta de medicamentos, num quantitativo de 35.000 unidades de remédios antimaláricos até o mês de setembro de 2017. “O Estado está contribuindo para não deixar faltar insumo, para que ocorra o diagnóstico e o tratamento rápido, como primeira medida de controle. No ano passado, foram disponibilizados medicamentos para todos os municípios, além de assessorias técnicas para vigilância e controle do vetor”, destacou Dulcinéia.
Segundo a técnica, a população pode buscar o tratamento em toda atenção básica nos postos de saúde dos municípios, onde são feitos o diagnóstico e tratamento da doença. “A doença é muito relevante porque representa uma endemia de risco, principalmente em crianças e mulheres grávidas”, frisou. (L.G.C)
Notificações de malária de venezuelanos residentes no Estado por município de notificação de 2015 a julho de 2017:
Fonte: SIVEP-Malária, julho/2017(*)