Cotidiano

“Região amazônica é desvalorizada pelo restante do país”, analisa professor

Para Saturnino Braga, Região Centro-Sul do Brasil não dá a devida atenção mesmo com a Amazônia possuindo uma fonte de biodiversidade inestimável

O ex-senador da República e ex-prefeito do Rio de Janeiro, professor Roberto Saturnino Braga, esteve em Roraima para participar do evento “Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente”, promovido pelo Núcleo de Estudos Comparados da Amazônia e do Caribe da Universidade Federal de Roraima (NECAR/UFRR), em parceria com o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.

Conforme o professor, que também é diretor-presidente do Centro Celso Furtado, a instituição elegeu algumas prioridades para abordar o desenvolvimento no país e elencou, como um dos seus principais focos, o fortalecimento da Amazônia.

Para isso, o Centro Celso Furtado realizou o congresso internacional em Manaus no ano passado sobre o tema, publicou o livro ‘Amazônia Brasileira e Pan-Amazônia: Riqueza, Diversidade e Desenvolvimento Humano’ e resolveu realizar sucessivos seminários em estados amazônicos para ampliar a visão sobre a Amazônia e recolher opiniões e visões das pessoas da região.

Saturnino informou que um dos objetivos dos eventos também é mobilizar o Centro-Sul do país para voltar os olhos para a Amazônia e dar mais valor para uma região que é de grande valia não só para o Brasil, como o resto do mundo, em razão da sua grandeza ambiental. “A gente percebe nitidamente que, mesmo a Amazônia sendo metade do território brasileiro, mesmo a Amazônia sendo uma fonte de biodiversidade, de valor inestimável, fonte de produção de minérios e materiais praticamente desconhecidos na sua totalidade, uma fonte de matérias-primas possíveis para a indústria de fármacos, apesar disso tudo, o Centro-Sul dá pouca atenção a ela. Essa que é a verdade”, avaliou.

O professor ressaltou, porém, que a missão do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento não é de ditar uma proposta sobre as prioridades do desenvolvimento da Amazônia, mas convocar as populações da Amazônia para que formulem o seu projeto de desenvolvimento e a opinião brasileira do Centro-Sul a olhar com mais atenção à Amazônia.

“Nós sabemos que não é um projeto unificado, porque a própria região amazônica tem sub-regiões com aspectos diversificados, cada estado tem a sua característica e peculiaridade. Então, nós estamos fazendo esse seminário e pretendemos fazer em outras regiões, como o Acre, Amapá e Pará, que nós ainda não fizemos, mas sempre com a intenção de convocar a opinião pública”, pontuou.

“Desenvolvimento deve ser alinhado à preservação do meio ambiente”

Saturnino Braga aproveitou o momento para fazer uma análise das maiores dificuldades para o desenvolvimento na região amazônica e elencou a necessidade de preservação do meio ambiente como a principal delas. “É uma exigência internacional e nacional que a gente tem que respeitar, a da preservação do meio ambiente, tendo em vista a possibilidade de uma destruição que seria catastrófica para o Brasil”, disse. “Essas exigências requerem um cuidado especial nos investimentos industriais que possam introduzir novos fatores de poluição e a gente não pode aceitar isso”, acrescentou.

Para Braga, o desenvolvimento é possível, contanto que seja aliado com as características da região. “Tem que ser um programa baseado em fatores regionais, por exemplo, uma indústria baseada em biodiversidade, em biotecnologia, que não seja poluente, mas que apresente ao máximo essa biodiversidade amazônica. Tem que ser um tipo de industrialização e de exploração mineral com muito cuidado”, ponderou.

O ex-senador reforçou novamente a opinião de que o projeto amazônico tem que nascer dentro da Amazônia e não fora, com técnicos, especialistas, estrategistas de outros cantos do país e que desconhecem a realidade da área. “Quem tem que cuidar desse assunto é a população amazônica. É uma população muito dispersa em uma área muito grande, o que dificulta. O projeto é difícil, mas a gente não pode deixar de atribuir a prioridade pelo fato de ser difícil. A dificuldade é um desafio que nós temos que enfrentar”, comentou.

“Governo Federal não dá atenção para região por conta do número reduzido de eleitores”

Durante o evento sobre Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Saturnino Braga também apresentou a palestra “Democracia, Desenvolvimento e a Amazônia”, onde discursou, entre outros assuntos, sobre o papel do Governo Federal na região. “Afinal de contas, não tem substituto para a democracia. É a forma de Governo mais segura para os interesses da população, para evitar tiranias, para evitar comandos de grupos, mas a democracia também é fruto da manifestação popular, ou seja, da votação”, afirmou.

Saturnino acredita que o fato de a Amazônia ser uma região muito grande, com uma extensão territorial maior do que a população, faz com que a atenção política se volte para as regiões que têm maior eleitorado. “A Amazônia representa metade do território brasileiro, mas é uma região relativamente de poucos eleitores. Queremos enfatizar que essa visão estreita, só política, só eleitoral, não pode predominar. Tem que predominar a importância da região para a nação brasileira”, concluiu. (P.C)