Cotidiano

População enfrentou caos nos hospitais

Falta de medicamentos, de leitos e material foram os principais problemas nas unidades municipais e estaduais

O ano de 2014 também foi marcado por uma crise na saúde pública em Roraima.  No decorrer dos meses, funcionários e usuários da única unidade referência do Estado, o Hospital Geral de Roraima (HGR), reclamaram da falta de material hospitalar, medicamentos e da suspensão de cirurgias eletivas. Pacientes morreram devido à falta de oxigênio e muitos foram internados em poltronas e em macas sem colchão nos corredores.
Bebês morreram durante partos no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMI) e mães improvisaram leitos para seus filhos com cadeiras no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA). A troca de secretários na pasta estadual e os escândalos de superfaturamento nas licitações também geraram instabilidade em um setor já fragilizado.
No mês de abril, o então governador Anchieta Júnior (PSDB) deixou o governo para concorrer a uma vaga no Senado e deixou em seu lugar o até então vice-governador Chico Rodrigues (PSB). A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) também perdeu o seu titular, Alexandre Salomão, que deixou o cargo para concorrer como suplente de Anchieta. Em seu lugar ficou Stênio Nascimento.
EMERGÊNCIA – Uma das primeiras medidas adotadas pelo novo governo foi a decretação de estado de emergência na saúde pública. Para solucionar o problema de superlotação no HGR, onde os pacientes estavam sendo internados em poltronas e macas nos corredores, devido à falta de leitos, Chico Rodrigues alugou leitos no Hospital Loty Íris. A medida amenizou o problema, mas em poucas semanas a unidade voltou a ficar superlotada e outros problemas mais graves foram surgindo.
FALTA DE REMÉDIOS – No mês de maio, as cirurgias eletivas foram suspensas devido à falta de antibióticos. Na época, a Sesau informou que os medicamentos foram comprados de forma emergencial e que seriam remetidos por via área, destacando que as cirurgias emergenciais, que envolviam risco de morte dos pacientes, não sofreram alterações.
No mesmo período, servidores do HGR reclamaram da falta de material hospitalar. Informaram que a unidade estava desabastecida de equipos de soro, luvas, algodão e até mesmo seringas.
FALTA DE OXIGÊNIO – Em junho, pacientes internados no HGR morreram devido à falta de oxigênio. Uma das vítimas foi a dona de casa Patrícia Rodrigues, 31 anos. Ela havia sido diagnosticada com meningite. Com quadro considerado estável, era mantida através de sonda de oxigênio. “Minha tia faleceu 30 minutos após a interrupção do fornecimento de oxigênio. Se isso não tivesse ocorrido, ela ainda estaria entre nós”, relatou a sobrinha de Patrícia, a funcionária púbica Ana Paula de Oliveira.
Outra vítima foi a aposentada Lina Silva, 70 anos. Ela estava internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com enfisema pulmonar. O fornecimento de oxigênio através de sonda era necessário para mantê-la viva, conforme denunciou a neta de Lina, a professora Tailândia Duarte.
CRIANÇAS EM CADEIRAS – No mês de julho, pais de crianças relataram que os quartos, leitos e corredores do Hospital da Criança Santo Antônio estavam lotados. As reclamações, que não eram recentes, se intensificaram e nada foi feito na época para solucionar a situação.
Naquela época, uma servidora pública, relatou que sua filha de 1,7 ano passou mal e precisou de atendimento na unidade hospitalar, mas não havia leito nem quartos disponíveis, somente cadeiras nos corredores. “Eu e meu esposo ficamos com nossa filha numa cadeira no corredor”, relatou. “Estou indignada com isso”.
AFASTAMENTO – No mês de setembro, o secretário adjunto Alysson Lins assumiu a pasta, pois o titular, Stênio Nascimento, se afastou devido a problemas de saúde. Após algumas semanas no cargo, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) pediu o afastamento dele.
O pedido ocorreu após análise, pelo TCE, nas contas da Sesau. Foram detectados superfaturamentos em licitações com a empresa Acta – Comércio e Serviços Ltda no valor de R$ R$ 5.157.324,51. A finalidade desses contratos era adquirir material médico-hospitalar para o HGR.
O TCE também afastou o secretário municipal de Saúde, Marcelo Lopes, após constatar regularidade em licitações e execução dos contratos de aquisições de medicamentos e insumos médico-hospitalares com recursos municipais nos anos de 2013 e 2014.
O dano ao erário comprovado nos contratos analisados seria de R$715.347,01, podendo chegar até R$1.347.390,95, já que foi identificado sobrepreço de R$632.043,94 em contratos que ainda estavam vigorando. Ele foi reconduzido ao cargo, em 11 de dezembro.
MORTE DE BEBÊS – Na segunda quinzena de dezembro, as atenções se voltaram para o Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth. No período de 13 a 17, morreram sete bebês na unidade. As mães que perderam seus filhos afirmam que a tragédia ocorreu porque os médicos tentaram induzir partos normais, até mesmo em situações em que uma cesariana seria necessária.
Na época, uma das mães que foram submetidas ao parto normal relatou que não teve escolha. Ela contou que os médicos a examinaram e ouviram os batimentos cardíacos do bebê, mas falaram que era para ela caminhar para incentivar o parto normal e não fizeram a ultrassom. “Cada vez mais as dores foram aumentando e eu sabia que aquilo não era normal, mas ninguém nos atendia”, disse.
Horas depois, quando a paciente não aguentava mais as dores, os médicos perceberam um sangramento e realizaram uma cesariana de emergência. “Depois os médicos nos falaram que tinha passado da hora e que o útero dela tinha sofrido uma hemorragia, matando o bebê que não tinha como sair”, relatou a irmã da paciente.