Cotidiano

Diocese lança bíblia traduzida em Macuxi

O livro intitulado “Paapa Eseuruma Tîmukuyamî Pî” começou a ser traduzido por três estudantes do Instituto Insikiran em 2012

Cinco anos depois de iniciarem o trabalho, em 2012, está pronta a tradução de A Bíblia da Criança. A obra foi traduzida para a língua macuxi pelas estudantes Eduina Ângela de Castro dos Santos, Joicilina Soares Santana e Joicineth Soares Santana, do Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Sob o título “Paapa Eseuruma Tîmukuyamî Pî”, a tradução supervisionada pelo doutor em linguística, padre Ronaldo McDonell, foi lançada na última sexta-feira, 15, pela Diocese de Roraima. 

Financiada pela entidade caridosa católica “Ajuda à Igreja que Sofre”, da Alemanha, 10 mil cópias do livrinho serão distribuídas nas comunidades macuxi para ajudar na catequese de crianças e jovens, e promover a revitalização linguística. A obra contém 99 histórias da Sagrada Escritura, 45 do Antigo Testamento e 54 do Novo Testamento. A ideia da tradução foi de Dom Roque Paloschi, com o apoio de Dom Mário Antônio da Silva.

Em meio ao esquecimento da língua macuxi por parte das crianças indígenas, a estudante e professora de Língua Macuxi, Joicilina Soares, disse que a tradução da Bíblia para Crianças vai incentivar os alunos na escola e na própria igreja. Esta foi a terceira tradução feita pelas estudantes indígenas, que já elaboraram um dicionário macuxi e um livro de histórias. “É trabalhoso, mas o resultado é muito importante”, disse.

Para o padre Ronaldo MacDonell, a tradução da Bíblia também não foi o primeiro trabalho. Quando chegou em Roraima, em 1995, ele morou em comunidades macuxis, a pedido de Dom Aldo Mongiano. Na oportunidade, traduziu a segunda edição de um dicionário do macuxi para o português. Em 2007, realizou a terceira edição do dicionário e, em 2011, traduziu um livro sobre mitos macuxis.

Segundo McDonell, durante a tradução de uma cultura para outra, são encontrados conceitos que não existem na cultura que recebe a obra. Nesse caso, o tradutor tem duas opções: emprestar a palavra do português ou criar uma nova palavra por meio do neologismo. Junto ao trabalho da Bíblia para Crianças em macuxi, pontuou que algumas palavras foram emprestadas, como camelo, leão, urso e oliveira.

Contudo, diante de conceitos religiosos como: templo, deserto e sacerdote, foram criadas palavras em macuxi. No caso do templo de Jerusalém, foi utilizado o termo “grande casa de oração”. No lugar de sacerdote, “aquele que explica a palavra de Deus”, e em vez de deserto, “a terra onde não tem nada, só tem areia”.

Tendo em vista a diferença de cultura religiosa entre católicos e indígenas, o padre reforçou que os próprios macuxis receberam e se apropriaram da fé cristã da maneira que quiseram. “Com os trabalhos realizados nas comunidades, percebi que as culturas tradicionais ainda são seguidas. Como qualquer povo, eles acharam e vão achar um modo de viver sua fé de acordo com sua cultura”, pontuou. (A.G.G)