Um bem bolado plano para destruir tudo o que cheira a cultura e história

museu
museu

Jessé Souza*

A inspeção feita na semana passada, pelo Ministério Público Federal (MPF) e o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ao que restou do acervo do Museu Integrado de Roraima (MIRR), cujo prédio foi demolido pelo Governo do Estado, apenas confirma o que foi exposto aqui, neste espaço, no dia 27 de janeiro deste ano, no artigo intitulado “Projeto milionário privilegia até esportes norte-americanos de elite, mas ignora o Museu de Roraima”.

Não custa repetir: caso fosse um local que servisse para expor maquinários e artefatos do agronegócio, com certeza o governador Antonio Denarium e demais políticos aliados já teriam feito de tudo para reconstruir o MIRR. Afinal, seus símbolos de dominação social, cultural e econômica sempre são colocados em grande evidência como principal fator de desenvolvimento.

Isso é tão verdade a ponto de os representantes do Iphan e do MPF terem constatado, durante a inspeção, que o Museu foi deslocado para um espaço dentro da Secretaria de Agricultura. Vale lembrar que, na fajuta reforma administrativa anunciada no ano passado, o governo queria também empurrar o Departamento de Turismo para a mesma Secretaria de Agricultura. Para eles, só interessam grãos e patas do gado dos grandes produtores.

A situação é tão absurda que o MPF ainda constatou que as salas que deveriam estar disponíveis para o Museu funcionar minimamente estão sendo ocupadas por equipamentos de agricultura. É isso mesmo! É uma política de destruição mesmo, em que o valor cultural e histórico fica sendo devorado pelo maquinário do agronegócio.

Não se trata de um descaso governamental qualquer: acabar com o Museu e renegar o Turismo fazem parte de uma política oficial dos políticos locais, uma estratégia bem estudada da elite política e econômica local. E isso ainda pode ser reforçado a partir do desprezo com a Casa da Cultura e o Teatro Carlos Gomes, ambos localizados no Centro de Boa Vista e jogados ao desprezo.

Derrubar o prédio do MIRR, que ficava dentro do Parque Anauá, fez parte dessa proposta de eliminar tudo aquilo que possa cheirar a cultura, tradição e história. Foi assim que os governantes colocaram em prática o processo de destruição com a descaracterização e eliminação das obras arquitetônicas e do paisagismo do Parque Anauá erguidas na década de 1980.

Ao se tornar o maior parque urbano da região Norte, reunindo à época a expressão máxima da Arquitetura Moderna roraimense, sob o silêncio e a omissão de todos, principalmente dos estudiosos da área, pouca coisa ou nada restou, a exemplo do prédio do MIRR que foi o último vestígio do passado que resistia por lá.

O governo não vai descansar enquanto as máquinas do agronegócio e do garimpo não devorarem tudo aquilo que eles não dão valor. E falta muito pouco para o Museu desaparecer de vez…

*Colunista

[email protected]

** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV