JESSÉ SOUZA

Leão para apreender veículos, mas um gatinho para enfrentar o crime

Não perdurou por sequer um mês a tal Operação Saturitas, colocada em prática pelo Governo do Estado a fim de intensificar o policiamento ostensivo e abordagens em bairros apontados como estratégicos e nos municípios do interior. A Segurança Pública de Roraima não tem estrutura para manter uma ação dessa envergadura para efetivamente inibir e sufocar a criminalidade.

Foi isso o que esta coluna previu no artigo intitulado “Uma operação para abafar pobres enquanto a elite se diverte do outro lado”, publicado no dia 30 de maio passado, logo após a ação ter sido desencadeada. E assim não se vê mais notícia sobre mobilização nos bairros nem muito menos a operação policial chegou aos municípios – e nunca chegará mesmo por motivos óbvios de falta de estrutura.

A imprensa diária não tem espaço nem tempo para publicar todas as cenas de violência urbana, principalmente aquelas tentativas de assalto no meio da rua e invasão a residências. Sequer os cidadãos vítimas dessas práticas – cujos algozes são venezuelanos desocupados em sua maioria – não têm tempo nem paciência para registrar boletim de ocorrência na Polícia Civil porque eles sabem como é o atendimento e porque também provavelmente isso não dará em nada mesmo.

Não se pode negar o esforço e a competência de comandantes e dos seus policiais militares e de agentes da Polícia Civil no trabalho diário contra a criminalidade. Mas o problema não está naqueles profissionais. Está encrustado nos seguidos governos desinteressados em se desfazer da arapuca que eles mesmo armaram para tornar a Segurança Pública um enfeite a serviço dos seus interesses partidários e de grupos.

Quando acuado diante de alto índice de violência, o governo trata logo de cercar o Palácio do Governo com dezenas de viatura novas para serem entregues e realiza solenidades de promoção de policiais militares. Mas tudo esvai-se rapidamente porque o crime está altamente organizado enquanto nossas autoridades sequer conseguem se organizar para, por exemplo, unificar PM e Polícia Civil dentro de uma estrutura de Segurança Pública.

Um pequeno exemplo de ineficiência pôde ser visto na operação policial realizada no Centro, no entorno do Mirante do Parque do Rio Branco, com zero apreensão e zero prisão. Sem um serviço integrado de inteligência, só restam os usuários de droga zumbis, que perambulam por aquela área importante para o comércio e para o turismo. Os bandidos seguem incólumes.

O que tem funcionado mesmo são as ações do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) para apreender veículos com documentação vencida em abordagens pela cidade. Quando é para ferrar o contribuinte a fim de arrecadar mais taxas e impostos, as autoridades são muito competentes. Mas, quando é para enfrentar o crime de forma enérgica, o leão vira um gatinho que no máximo mostra suas unhas afiadas para fingir que está metendo algum medo.

*Colunista

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