O início das obras de revitalização da área conhecida como ‘Beiral’, no Centro de Boa Vista, não tem data definida. O projeto está em fase de licitação pela Prefeitura Municipal. No Beiral, será erguida uma praça turística.
A área a ser revitalizada abrigou, no início da formação da cidade, trabalhadores dos transportes fluviais. Nos 30 últimos anos, genericamente, transformada em prostíbulo, ponto de venda e consumo de drogas.
Além disso, conforme o rigor do período chuvoso, a área ficava alagada obrigando instituições e órgãos públicos a se mobilizarem na remoção das vítimas das cheias do Rio Branco.
Naquela área de interesse social será implantado o Projeto Turístico Parque do Rio Branco. As obras devem iniciar no primeiro semestre do próximo ano, conforme a expectativa da Secretaria Municipal de Obras.
Ao conceber o projeto, a Prefeitura esperava desapropriar 240 imóveis no prazo de seis meses. Após levantamento social identificou a existência de 289 unidades, a maioria em condições precárias de habitabilidade. Desse total, 259 foram indenizadas e 30 famílias encaminhadas para aluguel social, até que sejam contempladas com o projeto federal Minha Casa Minha Vida.
Por meio de Nota, a Prefeitura de Boa Vista informou que: “As poucas famílias que não finalizaram o acordo administrativo, seja por falta de documentação que comprove a relação com o imóvel, ou por discordar do valor proposto, estão sendo procuradas num esforço final de mediação. Caso não seja possível, a Prefeitura adotará as medidas judiciais cabíveis”.
No documento, esclarece que os trabalhos de retirada de entulhos estão em andamento. “O destino do material recolhido é o aterro sanitário. Posteriormente parte dele será reutilizada, como é o caso dos resíduos de concreto, que serão triturados e aproveitados para fins de aterro”, informou.
Degradação humana no ‘Beiral’
O uso contínuo de drogas pode mudar o rumo de pessoas e destruir famílias. Em Boa Vista, o ‘Beiral’ se tornou um dos pontos mais conhecidos da sociedade por conta do uso e tráfico de drogas.
Mesmo que quase todos os barracos tenham sido demolidos, dezenas de dependentes químicos ainda vagam pelos escombros. A partir dali, perambulam por locais com grande concentração de pessoas: Monumento ao Imigrante, Terminal de Ônibus e Orla, indo até a Jaime Brasil.
Para conseguir algum trocado, atuam como guardadores de carros, flanelinhas, ou fazendo pequenos favores. O apurado é usado na compra, principalmente, de crack ou maconha.
Sob o efeito das drogas, expõem um drama da sociedade moderna: a degradação humana. Abrigam-se sob a sacada de lojas, dormem em bancos de praças e comem o que podem. São esquálidos, desconectados. Em maioria, perdem referência, não conseguem se readaptar ao ambiente familiar ou às tentativas de ressocialização.
Aos 44 anos de idade e três filhos, uma usuária que preferiu não se identificar, contou à Folha que o vício tomou conta de sua vida há muitos anos. “Não sei exatamente quando entrei nessa vida, mas já faz muitos anos”, disse.
A vontade de se reintegrar à sociedade motivou a procura por ajuda em centros de reabilitação. “Eu procurei ajuda num centro de reabilitação, fiquei três meses, mas decidi sair de lá”, contou.
Ela relatou que ama os filhos, mas tem vergonha das condições em que vive. “Tenho três filhos. Amo a todos, mas eu tenho muita vergonha deles por estar nessa situação”, afirmou. “Tenho vontade de sair dessa vida, mas, infelizmente, a droga é mais forte”, finalizou.
Histórias como a desta usuária de drogas são comuns e pedem que o poder público recorra a iniciativas mais eficientes, na expectativa de evitar que o retrato boa-vistense se aproxime daqueles vistos em grandes cidades Brasil afora.
Prefeitura – Em relação aos dependentes químicos, a Secretaria Municipal de Gestão Social esclareceu que o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) realiza intervenções semanais em vários lugares de Boa Vista, inclusive no Beiral, onde buscam aproximação e fazer os encaminhamentos necessários. (E.M)