JESSÉ SOUZA 21/06/2023

Desinteresse pela crise migratória representado numa data que passou em branco

Jessé Souza*

A Organização das Nações Unidas (ONU) celebrou, nesta terça-feira, 20, o Dia Mundial do Refugiado. Embora o Estado de Roraima esteja sendo afetado direta e duramente por causa da imigração desordenada de venezuelanos, que chegam diariamente em busca de refúgio para escapar da pobreza e da fome, a data sequer foi lembrada pelas autoridades, as quais fingem-se de cegas, surdas e mudas até hoje.

Os políticos locais mostram-se tão desinteressados sobre a situação, que coube ao deputado federal por Alagoas, Alfredo Gaspar (União Brasil), integrante da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, apresentar requerimentos para que o colegiado apure as causas e ajude com soluções para o problema gerado pela chegada de pessoas fugindo do país vizinho, no dia 14 passado.

Enquanto os parlamentares e os demais políticos roraimenses se escondem, o caos já se instalou no Município de Pacaraima, na fronteira ao Norte do Estado, e a situação se agrava em Boa Vista, onde famílias inteiras dormem ao relento na frente de lojas no entorno da Rodoviária de Boa Vista, ou mesmo lá dentro em noites de chuva. Se nada for feito, a Capital roraimense se tornará uma imensa favela com gente desesperada pedindo esmola e comida em todos os locais.

Publicidade

Os furtos e roubos praticados por estrangeiros tornaram-se diários, conforme fartas divulgações em grupos de mensagens instantâneas e na imprensa local, que não tem espaço nem tempo para esse tipo de registro. Matérias da imprensa nacional afirmam que uma facção venezuelana atua em Roraima em consórcio com o crime organizado brasileiro, conforme foi comentando ontem, nesta Coluna, o que significa que a imigração desordenada está ligada diretamente à criminalidade em Roraima.

E os números de estrangeiros que chegam desesperados em busca de refúgio e comida só aumentam. De janeiro e março deste ano, entraram 39.369 venezuelanos por Roraima, 23% a mais do que o número registrado no mesmo período do ano passado, conforme os dados a Operação Acolhida, sob o comando da Casa Civil do Governo Federal, a qual faz acolhimento desde 2018.

Existe ainda outra realidade dentro desse contexto, que é a situação dos refugiados indígenas venezuelanos. A Operação Acolhida registrou, até dezembro do ano passado, 9.625 indígenas que chegaram a Roraima, isso fora os que não passam pela triagem do governo brasileiro nem são registrados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

Já que um deputado de outro Estado mostrou-se mais preocupado com a realidade do que aqueles que aqui vivem, isso significa que já passou da hora de as autoridades locais se mexerem. A realidade das ruas em Boa Vista mostra um contexto preocupante. A violência urbana é apenas um desses reflexos. Vão deixar para agir somente quando tudo sair do controle, a exemplo do que está ocorrendo em Pacaraima?

*Colunista

[email protected]