JESSÉ SOUZA

Quem dera que Roraima fosse uma terra de oportunidade, e não de oportunistas

Jessé Souza*

Há tempos que os políticos vêm repetindo, como um mantra, que Roraima é uma terra de oportunidade. Mas os seguidos fatos mostram que, na verdade, o Estado é uma terra boa para oportunistas de toda espécie, principalmente para aqueles que querem se lançar na política partidária e escolhem vir aqui como forma de ganhar evidência na mídia nacional.

Foi assim em 2013, quando aportou por essas plagas do lavrado roraimense o astronauta Marcos Pontes, hoje um senador eleito surfando na onda bolsonarista. Ele andou se reunindo com autoridades locais com a promessa de transformar Roraima no único Ecoestado do planeta, uma proposta que ganhou as páginas dos jornais (sim, naquela época ainda havia jornais em papel).

Como Embaixador da Boa Vontade da Organização para Desenvolvimento Industrial da Organização das Nações Unidas (ONU), trouxe debaixo do braço o plano que estaria sendo testado por meio de projetos similares na África. O projeto era ambicioso: trazer e integrar tecnologias e metodologias já testadas em projetos da ONU no mundo todo para integrá-las num só local.

Mas era tudo um engodo. Marcos Pontes já retornou ao Estado como ministro do governo Bolsonaro, porém nunca mais sequer falou daquela proposta. Como senador atualmente, ele é apenas mais um a ignorar os sérios problemas que Roraima enfrenta nas questões indígena, do garimpo ilegal, da imigração venezuelana e dos problemas fundiários.

A propósito, antes mesmo de se lançar candidato a presidente, Jair Bolsonaro também veio ao Estado dizer que Roraima era “a menina de seus olhos”, mas sem resolver as principais questões dos roraimenses depois de eleito. Ou seja, Roraima é uma terra muito boa para o oportunismo político de cada momento, com as devidas repercussões na mídia nacional e internacional.

Mais recentemente, na semana passada, andou por aqui o Padre Kelmon, aquele oportunista que concorreu à presidência da República pelo PTB para servir apenas de escada para Bolsonaro atacar adversários durante debates eleitorais nas principais emissoras da TV brasileira. Como sonha agora em ser político, tornou-se uma figura presente nos gabinetes parlamentares em Brasília e em périplos midiáticos por alguns estados.

Em Roraima, na terra de oportunistas, Padre Kelmon anunciou sua intenção de adotar uma política de assistência social a mulheres grávidas em vulnerabilidade, a convite de um deputado e de um empresário para conhecer a realidade dos migrantes venezuelanos em Boa Vista, que chegam em massa fugindo de seus país.

Seria bom que a proposta do político religioso realmente se concretizasse diante da situação delicada que se tornou a diáspora venezuelana em Roraima, especialmente na fronteira, no Município de Pacaraima, e na Capital roraimense. No entanto, diante dos fatos de um passado bem recente, provavelmente somente mais uma promessa para entrar na lista das ações oportunistas daqueles que buscam apenas visibilidade na política partidária.

Como seria bom que esta Coluna fosse desmentida, em um futuro bem próximo; que esses eventos não fossem apenas um oportunismo barato e midiático; e que os projetos e propostas anunciados realmente fossem colocados em prática. Quem dera…

 *Colunista

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** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV