Cotidiano

Pais de alunos reclamam do preço de uniformes das escolas militarizadas

Responsáveis por alguns alunos alegam que não possuem condições financeiras para arcar com valores do fardamento

Pais de alunos dos colégios da rede estadual que foram militarizados pelo governo procuraram a Folha para reclamar dos preços dos uniformes que os filhos devem utilizar nas unidades, que são diferenciadas das instituições de ensino regular. Segundo eles, os valores do fardamento estão acima das condições socioeconômicas das famílias de alguns estudantes.

O aluno de um colégio militarizado deve ir às aulas trajando camiseta contendo emblema da unidade de ensino, calça do mesmo material, além de tênis ou sapatos pretos e meias brancas. O problema é que o uniforme, de uso obrigatório nas instituições de ensino, não sai por menos de R$ 300,00 em lojas especializadas.

Além de um Colégio Militar e outros três já militarizados, o Governo do Estado anunciou que mais 15 unidades terão a incorporação do ensino militarizado em Roraima em 2018, sendo oito na Capital e sete no interior. No total, serão 19 escolas da rede estadual que terão o Ensino Básico Militar (EBM) inserido na grade curricular.

Alguns pais alegam não possuir condições de arcar com os altos custos dos uniformes, tendo em vista que os filhos já estudam em escolas públicas por não terem como bancar colégios particulares. “Acho que em uma escola pública não tem porque ser esse preço o fardamento. Tenho uma filha que vai estudar em um colégio militarizado, mas também tenho outros dois. Se gasto esse valor com fardamento para uma não vou ter como pagar para os demais”, disse o motoboy Romerito Menezes.

O problema fez com que outros pais de alunos buscassem em classificados de redes sociais pessoas que estivessem vendendo uniformes usados de colégios militares buscando encontrar o fardamento mais em conta. Ainda assim, o kit completo de segunda mão custa, em média, R$ 150,00.

A reportagem da Folha entrevistou o coronel Elson Paiva, que é diretor da Escola Irmã Maria Teresa Parodi, localizada no bairro Cidade Satélite, para saber como os pais da unidade lidaram com a questão. Ciente das dificuldades financeiras de alguns responsáveis de alunos, a instituição estipulou prazo para que os uniformes fossem adquiridos e os alunos fossem fardados às aulas.

“Lá na escola boa parte dos alunos é oriunda de famílias de baixa renda e primeiro exigimos o fardamento mais barato que é a camiseta, calça, tênis e meia branca. Depois quando estavam fardados com o primeiro uniforme passamos a exigir o segundo, que é o uniforme de passeio com a boina e demos um prazo maior para eles adquirirem que era o mais caro”, explicou.

Paiva afirmou, no entanto, que os pais são avisados sobre os uniformes diferenciados e valores antes de matricularem os filhos nas unidades. “Eu acho que o governo deveria, de alguma forma ajudar, seria pertinente contribuir com essa aquisição, mas tem que responsabilizar os pais. Eles são avisados e conscientes disso”, destacou.

Ainda assim, o diretor admitiu que vários alunos concluíram o ano escolar com o fardamento incompleto. “Gradativamente eles foram se fardando, mas por incrível que pareça teve aluno que concluiu o ano só com o primeiro uniforme. Mesmo assim, toleramos por entendermos a questão socioeconômica de algumas famílias”, disse.

GOVERNO – Em nota, a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) informou que o valor da farda dos colégios militarizados é o mesmo de todas as escolas estaduais. “Portanto, não custa o valor informado na denúncia”, afirmou.

Conforme a Secretaria de Educação, os alunos das escolas que foram militarizadas terão prazo para mudar a camiseta, podendo frequentar as aulas com o uniforme anterior durante todo o primeiro bimestre. “O uniforme com o valor informado na reclamação é a farda de gala das escolas militarizadas, que é opcional, não obrigatória, para algumas solenidades. O aluno que eventualmente não tiver o uniforme de gala não terá nenhum prejuízo. O acesso às escolas se dará mediante o uniforme obrigatório que é a calça e camiseta”, frisou. (L.G.C)