JESSÉ SOUZA

As cadeiradas e os ouvidos surdos diante de fortes declarações públicas

O que há por trás do deprimente espetáculo protagonizado por dois políticos em uma pizzaria na área nobre da cidade, entre cadeiradas e xingamentos mútuos

Não há como deixar de comentar a respeito do deprimente espetáculo protagonizado, na noite de terça-feira, em uma pizzaria na área nobre da cidade, pelo ex-deputado Jalser Renier e o deputado delegado Jorge Everton. O fato menos importante foram as cadeiradas e os xingamentos trocados entre ambos, em uma cena digna de mesa de bar, o que deverá ser resolvido na polícia ou na Justiça.

O que há a ser destacado, mais uma vez, são as fortes declarações dadas por Renier, durante um vídeo gravado em uma rede social, logo após a troca de sopapos, as quais expõem as vísceras de uma política degradada. Nada que o grande público não desconfie, no entanto,  saindo da boca de um político que viveu intensamente os meandros do poder, revertem-se de uma relevância sem precedentes.

Desta vez, houve até acusação de venda/compra de votos na disputa por uma vaga do Tribunal de Contas, além de pedidos de propina e ameaças de revelações que impactariam no comando da Assembleia Legislativa e no Governo do Estado. Que cadeiras voem em pizzaria e bares, mas o boi não pode continuar voando na politicamente roraimense, a qual precisa ser passada a limpo.

No dia 13 de junho deste ano, esta Coluna já havia abordado esse assunto no artigo intitulado “A gaveta da amnésia que funciona toda vez que surgem denúncias” exatamente a respeito das graves denúncias feitas, em novembro de 2021, quando Renier, que detinha o poder absoluto naquele momento, foi cassado e saiu denunciando que 80% dos deputados faziam a prática de “rachadinha” na Assembleia Legislativa de Roraima, a qual ele presidia.

Não há desculpa para ignorar tais declarações, as atuais e a do passado, pois tudo está gravado em vídeo e áudio em redes sociais e na própria tribuna da Assembleia Legislativa durante a sessão que o cassou. Como o próprio Renier já disse nesse novo episódio, que ele não quer “dar uma de santo”, então suas palavras se revertem de uma credibilidade que não pode ser ignorada.

O fato de ele ter sido cassado sob acusação de ser o mandante do sequestro e tortura de um apresentador de TV, bem como por ter sido preso após condenação no “caso dos gafanhotos”, isso não descredibiliza suas declarações. Muito pelo contrário, o currículo do ex-deputado o torna detentor de informações importantes que precisam vir à luz do dia.

A questão agora é saber quem terá peito para apurar as graves denúncias, pois as declarações do ex-deputado deixam bem a entender que há um grande conluio que contamina todo o sistema, o qual precisa manter tudo no absoluto silêncio que sempre beneficia os que mandam no poder.  Quem tem ouvido que ouça, já que quem deveria investigar se finge de surdo.

Por enquanto, tudo está no nível de cadeiradas – inclusive resquício de brigas por uma cadeira no Tribunal de Contas… Cenas dos próximos capítulos.

*Colunista

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